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Estado de Minas FUTEBOL E POLÍTICA

Ligado a Fidel e Chávez, Maradona teve ajuda de 'neoliberal' para virar técnico de futebol

Craque argentino extrapolou os limites dos campos de futebol para se tornar uma personalidade política


25/11/2020 20:46 - atualizado 25/11/2020 21:50

Admirador de Che Guervara, Maradona tatuou o revolucionário em seu braço(foto: Parth Sanyal/AFP)
Admirador de Che Guervara, Maradona tatuou o revolucionário em seu braço (foto: Parth Sanyal/AFP)

Longe de ser apenas um esporte, o futebol faz parte da formação cultural e política de diversos cidadãos, sobretudo na América do Sul. O craque argentino Diego Armando Maradona, morto nesta quarta-feira, vítima de uma parada cardiorrespiratória, é um exemplo de personalidades que extrapolaram os limites do campo e participaram ativamente da vida política.

As imagens mais famosas da atuação política de Maradona são de seus encontros com o ex-presidente cubano Fidel Castro e de sua tatuagem do revolucionário argentino Ernesto ‘Che’ Guevara, companheiro de Fidel na Revolução Cubana, em 1959. Esses registros associam ‘Dieguito’ automaticamente a um posicionamento ligados a ideais chamados de esquerda.

Apesar de, realmente, ter sido ligado de diversas personalidades dessa corrente política durante grande parte de sua vida, Maradona foi muito próximo do ex-presidente argentino Carlos Menem, considerado neoliberal. Em outubro de 1994, Menem negociou diretamente com Roberto Cruz, presidente do Mandiyú, pequeno clube de futebol da província de Corrientes (1.200 quilômetros a noroeste de Buenos Aires), a contratação de Maradona para técnico da equipe.

A participação de Menem foi determinante para o retorno de ‘Don Diego’ ao futebol. À época, o craque tinha 33 anos e cumpria suspensão de 15 meses imposta pela Fifa. Exames realizados no então jogador durante a Copa de 1994, nos Estados Unidos, detectaram o uso de efedrina, substancia estimulante.

No início de 2000, após ‘el Pibe de Oro’ ser internado no Uruguai com quadro grave de hipertensão e arritmia cardíaca, e com exames apontando uso de cocaína, seus médicos sugeriram que o ex-jogador, então com 39 anos, se mudasse para os Estados Unidos ou para o Canadá, para realizar um tratamento contra a dependência química.

Já naquela época, o cardiologista Carlos Alvarez, que acompanhava Maradona, revelou que o coração do ex-atleta estava funcionando com apenas 38% de sua capacidade e advertiu, de forma severa: “Se ele continuar consumindo drogas, morrerá. Não tenho nenhuma dúvida, e a curto prazo”.

Apesar das sugestões de se tratar na América do Norte, Diego, que já conhecia pessoalmente Fidel Castro e já dava declarações favoráveis ao modelo socialista do governo de Cuba, optou por ir para o país da América Central. Lá, estreitou os laços de amizade com Fidel, que passou a considerar como um segundo pai.
Maradona foi para Cuba no início dos anos 2000, onde estreitou laços com Fidel Castro(foto: Ismael Francisco Gonzalez/AFP)
Maradona foi para Cuba no início dos anos 2000, onde estreitou laços com Fidel Castro (foto: Ismael Francisco Gonzalez/AFP)

Para mim, foi como um segundo pai. Porque me aconselhou, me abriu as portas de Cuba quando, na Argentina, as clínicas as fechavam. Não queriam receber a morte de Maradona. Fidel abriu todas elas de coração”, disse o argentino em entrevista à AFP, em 2016.

Maradona também dedicou ao segundo pai, seu livro autobiográfico Yo soy El Diego (“Eu sou O Diego”, em tradução livre). “A Fidel Castro e, por meio dele, a todo o povo cubano”, escreveu. Outra homenagem feita a Fidel foi uma tatuagem do rosto do político na habilidosa perna esquerda de Maradona.

Coincidentemente, ambos faleceram em um 25 de novembroFidel em 2016, Maradona em 2020. Foi também em Cuba que Maradona fez sua famosa tatuagem do rosto de Che Guevara no braço direito. Entre 2000 e 2005 foram várias idas e vindas ao país para tratamento contra o vício. Mas nem só de internações e tensão foram as passagens do craque por Cuba. Diego tem três filhos cubanos, de duas mães diferentes, gerados nessa época.
Maradona considerava Fidel Castro seu 'segundo pai'(foto: Handout/AFP)
Maradona considerava Fidel Castro seu 'segundo pai' (foto: Handout/AFP)

Em 2005, Maradona foi recebido com pompa no Palácio Miraflores, sede do governo da Venezuela, pelo ex-presidente Hugo Chávez. Após o encontro, Maradona afirmou que havia ido para lá “encontrar um grande homem”, mas acabou encontrando um “gigante”.

Na Copa América de 2007, disputada na Venezuela, Maradona voltou ao país como convidado de honra para dar o pontapé inicial da competição, na partida entre os donos da casa e a Bolívia. Na cerimonia de abertura, além de Chávez, ‘el Pibe’ esteve também com outro expoente da esquerda sul-americana: Evo Morales, ex-presidente da Bolívia.

Na Argentina, Diego sempre foi apoiador dos ex-presidentes Néstor e Cristina Kirchner. Em 2018, chegou a declarar que gostaria de ser candidato a vice-presidente na chapa de Cristina Kirchner. “Fidel me disse que eu devia me dedicar à política. Eu iria com ela (Cristina). Vejo as pessoas sofrendo. Minhas irmãs não conseguem pagar as contas no fim do mês”, disse.

No Brasil, Maradona nunca escondeu sua simpatia pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O eterno camisa 10 argentino se encontrou várias vezes com o petista e criticou publicamente a prisão de Lula. Em 2016, próximo ao período em que se votava o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, Maradona posou para foto com uma camisa da Seleção Brasileira com o nome de Lula estampado às costas, e disse ser “soldado de Lula e Dilma".

Em novembro de 2019, quando o ex-presidente deixou a prisão, Maradona se manifestou por meio de suas redes sociais: “Hoje se fez justiça”.

Pelo Twitter, Lula lamentou o falecimento do craque: “Diego Armando Maradona foi um gigante do futebol, da Argentina e de todo o mundo, um talento e uma personalidade única. A sua genialidade e paixão no campo, a sua intensidade na vida e seu compromisso com a soberania latino-americano marcaram nossa época. No campo, foi um dos maiores adversários, talvez o maior, que a seleção brasileira já enfrentou. Fora da rivalidade esportiva, foi um grande amigo do Brasil. Só posso agradecer toda sua solidariedade com as causas populares e com o povo brasileiro. Maradona jamais será esquecido”.

 


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