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Estado de Minas EX-MINISTRO DA SAÚDE

Teich sobre saída do Ministério da Saúde: 'Não houve alinhamento com o presidente'

Nelson Teich ficou no Ministério da Saúde menos de um mês e admitiu que divergência sobre cloroquina pesou na decisão de deixar o 'governo Bolsonaro'


postado em 24/05/2020 20:50 / atualizado em 24/05/2020 21:08

Teich ficou no cargo menos de um mês e admitiu que divergência sobre cloroquina pesou na decisão de deixar o 'governo Bolsonaro'(foto: Agência Brasil)
Teich ficou no cargo menos de um mês e admitiu que divergência sobre cloroquina pesou na decisão de deixar o 'governo Bolsonaro' (foto: Agência Brasil)
O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, disse neste domingo que deixou o cargo em 15 de maio por falta de alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro em relação ao protocolo que liberou o uso da cloroquina para pacientes com quadro leve de COVID-19.

Na visão de Teich, estudos que ficarão prontos em poucas semanas mostrarão a real eficácia do medicamento no combate ao coronavírus. Ele, como médico, preferia aguardar os resultados. Já o presidente decidiu antecipar a liberação do uso do fármaco.

Não houve alinhamento com o presidente. Ele é o chefe da Nação, ele me colocou. Se por algum motivo não existe alinhamento, eu tenho que sair. A posição dele é essa, ele tem direito de fazer isso. Mas, se não existe alinhamento… O que preciso dizer que desalinhamento não é conflito. Ele resolveu antecipar. É uma escolha. Como a posição era distinta, eu preferi sair”, disse o ex-ministro à Globo News.

“É óbvio que a opção por antecipar o uso, teve peso (na minha saída). É uma decisão, uma escolha. O presidente achava que era melhor antecipar e eu não, houve uma divergência”, agregou.

“O presidente tem as escolhas dele, tem o comportamento dele. Lá na frente, na eleição, o povo vai dizer o que acha dele. Eu não vou julgar o presidente agora”, agregou Teich.

O ex-ministro negou que tenha se sentido pressionado a aprovar o protocolo para uso da cloroquina, o que acabou ocorrendo após a sua demissão. “Não me senti pressionado. Tinha que tomar decisão, não tinha pressão nenhuma. Se você tem duas posições diferentes, a posição diferente qual é: o presidente é uma pessoa escolhida, votada, ele me colocou lá. Se escolho caminho diferente do dele, enquanto aguardo o resultado final (eficácia da cloroquina), quem tem que sair sou eu. Foi uma saída confortável”.

Na prática, existia diferença de como abordar o problema, entre mim e o presidente, era fato, era público. Sempre sentei, conversei, por mais difíceis que fossem as conversas, discutia os assuntos”, completou, para mostrar que existia diálogo.

Deixar decisão na mão de médicos é erro

Teich ainda se mostrou contra deixar a decisão sobre uso ou não da cloroquina. “Na minha opinião, não dá para deixar na mão do médico a decisão, é grande demais para deixar na mão dele. A gente ainda não sabe um estudo definitivo para a cloroquina, e todos os estudos não foram esses (definitivos). Inclusive, no Brasil, deve ter essa resposta em duas semanas, mais ou menos, e um do OMS em meados de junho. Sexta (passada) saiu estudo importante, com 96 mil pessoas acompanhadas. E o que aconteceu com o medicamento, evolução de estudo, em que aumenta a mortalidade. Qualquer coisa decidida pode ser revertida, mudada. O fato de eu nao saber o que é a doença hoje. Nesse momento, você não pode deixar dúvida do que você pensa, pois gera dúvida em todo mundo”.

Nesse momento, as instituições têm que se posicionar forte, não dá para delegar isso para o médico. Tem que ter instituições definindo”, defendeu o ex-ministro.

Constrangimento

Teich admitiu que um dos grandes momentos de constrangimento de sua passagem pelo Ministério foi quando o governo autorizou a abertura de academias e salões de beleza sem consultá-lo ou ao menos informá-lo. Durante uma entrevista coletiva, o ex-ministro ficou sabendo do decreto por meio de um repórter.

É verdade, ali eu não sabia mesmo, só que no dia seguinte, quando fui conversar com pessoas, a pessoa que tinha liberado o documento, pediu desculpa. Se você olhar o que foi escrito, aquilo aconteceria com recomendação do Ministério da Saúde, passaria pelo Ministério da Saúde”.

Apesar disso, esse episódio não teria pesado para sua decisão de deixar o governo.

Evitou clima Teich x Bolsonaro

Durante a entrevista à Globo News, Teich evitou, a todo momento, entrar em choque com posturas do presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, o país está polarizado, e qualquer declaração sua contrária ao mandatário só aumentaria esse cenário.

Ao ser indagado sobre sua opinião sobre o isolamento social, tão criticado por Jair Bolsonaro, Teich deixou clara sua posição de não confrontar o presidente. “Em primeiro lugar, eu vou dizer o que eu fiz, não vou entrar em discussão contra o presidente. Não vai ser disputa Teich x Bolsonaro, não vou fazer isso. Não vou polarizar”.

O posicionamento de Teich é que o isolamento deve ser seletivo, de acordo com a realidade de cada município. “Não existe ser a favor de isolamento ou ser contra, flexibilizar ou não flexibilizar. São cinco cenários. Um, é uma coisa mais confortável em relação à doença, e outro (5) é um volume enorme de pessoas (com a doença) que você não pode resolver. O que é a matriz de risco? Ter conhecimento, infra-estrutura, como está a evolução da incidência da doença, o que você faz, quando faz isso. Daí, você classifica o cenário daquela cidade. Quando faz isso, tem ações definidas para aquela situação, podendo ser coisa mais leve ou caótica. Para cada situação tem uma conduta e vai acompanhando indicadores. Se estão melhorando, pode pensar em flexibilizar. Se está piorando, vai aumentar o isolamento. Isso permite o gestor entender o que está acontecendo na cidade dele. Esse é o plano, esse é o problema. Tudo isso vai ser revisto com a evolução da doença. (...) Sou a favor do isolamento seletivo”.

Poucas aparições 

Teich abriu sua participação na Globo News justificando as poucas aparições e entrevistas para tratar da Covid-19. Segundo ele, uma das razões era para evitar polarizações. O segundo motivo era o desconhecimento que todos têm acerca da doença.

“Eu sempre falei pouco, a razão principal de eu falar pouco é que quanto mais polarização você tem, quanto mais conflito você tem, mas difícil. Grande parte do silêncio veio para que não piorasse a situação de atrito, conflito e polarização, porque é muito trabalho a ser feito, é focar no essencial. A gente navega hoje em situação de absoluta incapacidade de enxergar o que vai acontece pela frente, ter gestão num lugar onde tem instabilidade, ansiedade, medo, polarização. É realmente muito difícil. A gente não sabe o que vai acontecer (no futuro)”, disse o ex-ministro.


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