
“Temos um comboio organizado para chegar em Brasília até o final desta semana, em 8 de maio, com pelo menos 300 caminhões, muitos militares da reserva, muitos civis — homens, mulheres e, talvez, até crianças — para darmos cabo à patifaria estabelecida em nosso país há 35 anos por aquela casa maldita, Supremo Tribunal Federal, com 11 gângsters que têm destruído nossa nação. São aliados ao Foro de São Paulo e ao narcotráfico internacional”, declara Paulo, em trecho da gravação, publicada nessa quinta-feira.
Simpatizantes de Bolsonaro têm se concentrado diariamente nos arredores da Praça dos Três Poderes, na capital federal. Segundo Marcelo Stachin, Paulo, ao falar em “dar cabo à patifaria”, não se referia às instituições democráticas, mas a atitudes individuais de integrantes do Judiciário e do Legislativo. Como exemplo, ele citou a decisão, tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, de barrar a nomeação de Alexandre Ramagem para a diretoria-geral da Polícia Federal.
“Em nenhum momento falamos em destruir ou pedir o fechamento do STF e do Congresso. Ninguém vai invadir. Estamos aqui pela lei e pela ordem”, comentou, dizendo ter consciência que manifestações que pedem o encerramento das atividades do Supremo e do Parlamento são consideradas crime.
Ainda de acordo com Stachin, o vídeo foi feito para convocar apoiadores do presidente. “Bolsonaro não pode ficar refém do Congresso e do STF. Não são todos os ministros e parlamentares que têm atuação contrária ao que julgamos correto, mas o presidente precisa entender que tem legitimidade. No vídeo, fizemos um chamamento às pessoas que queiram vir à Brasília”.
Nesta sexta, Paulo postou novas imagens, em que volta a atacar as instituições. “Democracia é o que atende aos interesses da sociedade. Tudo o que parte do povo é democracia. O que o Supremo está fazendo não é democracia, mas uma verdadeira ditadura do Judiciário. O que o Congresso está fazendo é a ditadura de um Legislativo que trabalha para partidos políticos”, falou.
Em sua página no Facebook, Stachin tem fotos em carros adesivados com o material do partido Aliança pelo Brasil, que Bolsonaro tenta fundar desde o ano passado. Há, também, uma imagem dele ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
STF autoriza atos
Na quinta, o ministro Celso de Mello, do Supremo, reconheceu possíveis atos contra a Suprema Corte como legítimos. A decisão foi baseada no "direito de reunião e o direito à livre manifestação do pensamento". No texto, o decano diz, ainda, que “abusos e excessos” cometidos durante o exercício da liberdade de expressão, como calúnia, difamação e injúria, são passíveis de sanção penal.A posição de Celso de Mello foi motivada por uma notícia-crime protocolada pelo líder do PT na Câmara Federal, Ênio Verri (PR). O deputado impetrou o pedido alegando que as falas de Paulo Felipe no vídeo demonstravam o caráter antidemocrático da manifestação programada para a capital federal.
A reportagem tentou entrar em contato com o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para repercutir os atos. Por meio de sua assessoria, no entanto, o deputado disse que não vai se manifestar sobre o tema.
Histórico
No último domingo, Bolsonaro participou de um ato inconstitucional e antidemocrático, cujos alvos eram, justamente, o STF e o Congresso. “O povo está conosco e as Forças Armadas, do lado da lei e da ordem, democracia e liberdade, também estão conosco. E Deus acima de tudo”, falou, em tom desafiador. Em outro momento, Bolsonaro chegou a dizer que a Constituição Federal “será cumprida a qualquer preço”.O Ministério da Defesa se posicionou, por meio de nota, no dia seguinte. O chefe da pasta, Fernando Azevedo e Silva, disse que as Forças Armadas “estarão sempre ao lado da lei, da ordem, da democracia e da liberdade”.
