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Estado de Minas

Petistas vivem dilema após prisão de Lula

Mesmo com a disposição em manter a candidatura de Lula, aliados se preocupam com isolamento da cela. Quando a campanha esquentar, adversários buscarão protagonismo


postado em 09/04/2018 06:00 / atualizado em 09/04/2018 07:28

O advogado Cristiano Zanin Martins visitou o ex-presidente e disse acreditar na reversão da prisão do petista(foto: Marcello Casal Jr/ABR)
O advogado Cristiano Zanin Martins visitou o ex-presidente e disse acreditar na reversão da prisão do petista (foto: Marcello Casal Jr/ABR)

Curitiba – Pouco antes das 8h de ontem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a primeira refeição do dia na condição de preso na Polícia Federal, em Curitiba. Café com leite, pão com manteiga. E seguiu o dia sozinho, recebendo apenas, no fim da tarde, a visita dos advogados. O isolamento do petista a partir agora e a capacidade de influenciar a campanha eleitoral de dentro de uma cela são os fatores em jogo para petistas e adversários na campanha eleitoral.

A primeira ação dos petistas é insistir no registro da candidatura de Lula, tendo o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como vice na chapa. A partir daqui, há uma série de variáveis que podem reforçar ou enfraquecer o plano. A intenção dos petistas é, apenas em agosto, a menos de meses do primeiro turno, que tal registro seja negado, o que levaria Haddad à cabeça de chapa. Os advogados do PT acreditam ser possível, pois o processo não deve ter o trânsito em julgado até lá, validando o registro.

O problema para os aliados de Lula é saber se, mesmo preso, o petista manterá a força eleitoral, afinal há uma tendência de esquecimento e protagonismo de outros atores a partir do momento que a campanha esquente. Outro ponto é se essa força será suficiente para transferir votos para Haddad. Outro empecilho está dentro do grupo de centro-esquerda, como é o caso do pedetista Ciro Gomes, que mergulhou nos últimos dias, tentando manter distância das controvérsias da prisão de Lula.

Esquerda Os outros candidatos da esquerda, como Guilherme Boulos (Psol) e Manuela D’Ávila (PCdoB) não teriam densidade eleitoral, mas poderiam atrapalhar os planos de um nome do PT, por dividir votos. Não foi à toa que Lula, durante o comício em São Bernardo (SP), antes de ser preso, exaltou o nome dos dois no palanque, praticamente deixando de lado referências a Haddad. Analistas mais apressados relacionaram a citação à busca de um nome para apoiar na disputa. É justamente o contrário, foi um afago. Lula quer os dois ao seu lado, como apoiadores do nome de Haddad quando a cabeça da chapa do PT for trocada.

No campo de centro-direita, o PT pode ter dificuldades caso o grupo defina um único candidato, reunindo forças. Com a fragmentação, o jogo ficaria ainda mais complexo. O último obstáculo seria enfrentar o deputado Jair Bolsonaro (PSL), que, com Lula blefando na corrida, continuará a fazer o contraponto, conquistando os eleitorais anti-PT. A tese de que Bolsonaro perderia força apenas faz algum sentido se Lula não estiver na campanha, pois assim o ex-militar ficaria sem alguém para polarizar diretamente.

Na próxima quarta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio de Mello deve apresentar uma questão de ordem para o plenário sobre um pedido de liminar que suspende a prisão aos condenados de segunda instância. Os próprios petistas, nos bastidores, acreditam que não terão muitas chances de sucesso. “O objetivo dos adversários de Lula é deixá-lo na cadeia durante toda a campanha”, disse um aliado do ex-presidente que ontem esteve em Curitiba. Assim, levando em conta o risco de ocaso, Lula teria deixado uma série de vídeos gravados para animar a militâncias nas redes sociais pelos próximos meses. O primeiro dos registros foi para ar ontem pela manhã, com Lula fazendo críticas ao juiz federal Sérgio Moro, da 13 Vara Criminal Federal.

Mesmo prevendo uma nova derrota no Supremo, os petistas avançam sobre os ministros. Na tarde de ontem, ao visitar o espaço ocupado por militantes e simpatizantes do PT, na vizinhança da Polícia Federal, em Curitiba, a presidente do partido foi para cima de Rosa Weber, para que ela se posicione contra a prisão em segunda instância. O discurso oficial, porém, é o de vitória na liberação de Lula.

Rotina

Enquanto o jogo se desenrola do lado de fora do prédio da Polícia Federal, Lula, instalado no quarto e último andar do imóvel, assistiu a vitória do Corinthians sobre o Palmeiras nos pênaltis, levando seu time do coração a mais um título de campeão paulista. A televisão na cela improvisada numa sala de 15m foi autorizada pelo juiz Moro. Minutos depois do fim do jogo, assessores postaram na internet uma foto antiga do presidente com a bandeira do clube: “Obrigado, timão #equipeLula” era a postagem, em mais uma demonstração de que as redes sociais serão usadas fortemente por Lula, mesmo preso.

Depois do jogo, o ex-presidente jantou a comida distribuída aos presos – carne assada, feijão, arroz, macarrão e chuchu – e recebeu a visita dos advogados. Cristiano Zanin Martins, que faz parte da equipe de defesa de Lula, disse que ele está revoltado com a prisão. “Acredito. Nós vamos reverter essa decisão porque nem a condenação nem a prisão para cumprimento antecipado da pena são compatíveis com a lei”, disse. Ao ser perguntado se a defesa via Lula como preso político, o advogado respondeu que vê uma motivação política no processo que levou à condenação. “O presidente se considera um preso político”, disse.

Ainda de fora, as manifestações pró e contra Lula, isolados por mais de 400 metros entre as ruas de acesso ao prédio da PF, foram mais tranquilas, em relação ao ocorrido na noite de sábado, quando a polícia jogou bombas de gás lacrimogêneo sobre simpatizantes do PT. O único momento tenso foi quando o senador Lindbergh Farias fez um vídeo perto de PMs, que logo depois entraram em formação por causa de supostos avanços de manifestantes para além da linha definida como limite. Do outro lado, o pessoal anti-Lula chegou a estourar rojões perto da janela da cela do ex-presidente.


Destaque

A capa do EM na edição histórica sobre a prisão do ex-presidente Lula mereceu o principal destaque do Twitter Moments, ferramenta de curadoria das informações no microblog. Com a manchete em referência à célebre frase do petista, “Nunca antes na história deste país”, a capa também ganhou repercussão em outras redes sociais, como o Facebook e o Instagram.


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