Pimenta & Pimentel poderia até ser uma dupla sertaneja no interior de Minas. Eles, na verdade, estão longe de formar parceria e disputam a preferência do eleitor ao governo do estado. Rivais nas eleições de outubro, de um lado, está o ex-ministro das Comunicações Pimenta da Veiga (PSDB), e, do outro, o ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel (PT). Os dois foram prefeito de Belo Horizonte, ministro e ainda carregam o mesmo radical no sobrenome. As semelhanças param por aí, mas, na prática, os nomes parecidos podem aproximar concorrentes e criar um problema nas urnas, na avaliação de especialistas e eleitores.
Segundo a professora, também pesa contra os candidatos o fato de eles serem pouco conhecidos no interior do estado. Por causa disso, terão que reforçar ligações entre seus padrinhos políticos e candidatos à Presidência da República – a presidente Dilma Rousseff, no caso do Pimentel, e o senador Aécio Neves, no caso de Pimenta da Veiga. “As fotos nas urnas eletrônicas, a cor do partido. Isso tudo serão cuidados que a campanha terá que tomar”, afirma.
Os coordenadores das campanhas dos dois candidatos evitam falar sobre o assunto. No ninho tucano, a orientação é sempre tratá-lo como Pimenta da Veiga, sem abreviações. Já os petistas apontam que a semelhança dos nomes não será um problema, pois no voto eletrônico o enfoque é em relação ao número do candidato. Mas, apesar de tratarem publicamente a questão como de “pouca importância”, o tema chegou a ser testado em pesquisas qualitativas.
Nas ruas, a confusão em relação aos nomes está armada. “Tem que arranjar um jeito de separar isso aí. Um dos dois vai ter que arrumar um apelidinho. Alguém vai ter que ceder”, comenta a cozinheira Luciléia Ribeiro, de 39 anos, que ainda não conhece bem nem Pimenta nem Pimentel. O funcionário público Arlem Chagas, de 31, só sabe que, independentemente do candidato, “vai arder no olho de todo mundo”. “É tudo ‘pimenta’”, ressalta.
Pesquisas
Para o doutor em ciências políticas Malco Camargos, professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), a confusão entre os nomes pode ter provocado alteração de resultados das pesquisas eleitorais em Minas. “Essa semelhança tem um impacto grande até a campanha começar de fato, o que faz o cenário das pesquisas ser marcado por duas fragilidades: o desconhecimento dos candidatos e a semelhança dos nomes”, ressalta.
Por enquanto, Fernando Pimentel é quem tem se dado bem. Na pesquisa MDA/EM Data, divulgada na segunda-feira, ele saiu na frente, com 27,5% das intenções de voto, contra 15,1% de Pimenta da Veiga. Em um eventual segundo turno, Pimentel venceria com 36,8% da preferência, contra 22,3% de Pimenta. “Neste momento, há uma instabilidade, mas, durante a campanha, há o reforço dos números dos candidatos, em vez dos nomes. Apesar de a eleição ser personalista, a identificação vai além do nome”, diz.
XARÁS Não é a primeira vez que candidatos com nomes parecidos competem ao governo de Minas. Em 1990, a disputa foi entre Hélio Costa (PRN) e Hélio Garcia (PTB). Apresentador da Rede Globo, Hélio Costa era reconhecido como personalidade da mídia e, naquele momento, associado à imagem de Fernando Collor de Mello, também do PRN. Já Hélio Garcia, ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-governador de Minas, carregava a marca de político de tradição.
Para tentar se diferenciar do concorrente, num pleito que também teve Pimenta da Veiga entre os candidatos, Hélio Costa apostou num jingle que ensinava ao eleitor: “Hélio tem que ser Costa”. Mas a estratégia não convenceu. Numa vitória apertada, o Garcia desbancou Costa no segundo turno, ganhando com diferença de menos de 1% dos votos válidos.