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Estado de Minas

Mesmo após se demitir, ex-ministro da Agricultura mantém influência na pasta

Sucessor, que ainda nem assumiu, contratou ilegalmente vereador como secretário parlamentar


postado em 19/08/2011 06:00 / atualizado em 19/08/2011 08:48

Mendes Ribeiro contratou um vereador que acumula três funções, prática que é vedada pela legislação(foto: Paulo de araújo/CB/D.A press)
Mendes Ribeiro contratou um vereador que acumula três funções, prática que é vedada pela legislação (foto: Paulo de araújo/CB/D.A press)

Brasília – O ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi renunciou ao cargo, mas deixou na pasta peças-chaves para seus negócios nebulosos. Funcionários do segundo escalão escolhidos pelo ex-ministro são apontados como interlocutores de empresas ligadas ao quarto ministro demitido do governo da presidente Dilma Rousseff. Já o novo chefe da pasta, deputado federal Mendes Ribeiro (PMDB-RS), chega à Esplanada prometendo transparência. Mas na Câmara Ribeiro Mendes, líder do PMDB no Congresso, mantém um gabinete com nomeações ilegais.

O parlamentar gaúcho emprega o cabo eleitoral e vereador de Pântano Grande (RS) Ivan Trevisan (PMDB). Ele foi nomeado secretário parlamentar em dezembro de 2008, mesmo ano em que ganhou uma das 32 cadeiras no Legislativo municipal. Trevisan está em seu terceiro mandato e desdobra-se ainda como presidente da Associação dos Vereadores do PMDB no Rio Grande do Sul. Segundo a Câmara, a contratação é proibida porque representa acúmulo de função. Só do Legislativo federal, Trevisan já recebeu cerca de R$ 150 mil. Em entrevista ao Estado de Minas, o novo ministro explicou a contratação do conterrâneo e assegurou que, no ministério, não terá o compromisso de manter ninguém.

No gabinete do deputado, Ivan Trevisan é quase desconhecido. Os funcionários demoraram a se lembrar do secretário, que fica no Sul. No escritório político em Porto Alegre, a informação é de que ele só atende pelo celular. Trevisan confirmou que ocupa os três cargos, mas não quis detalhar por telefone as atividades nem informar os horários de trabalho. Solicitou que as perguntas fossem encaminhadas por e-mail. "Realizo minhas atividades com muita tranquilidade, pois existe compatibilidade de horário para os deveres", respondeu. Ele afirmou que, no mínimo uma vez por semana, vai até o escritório de Porto Alegre e "sempre que tem demanda" viaja a Brasília. Trevisan disse que não recebe dinheiro da associação do PMDB. "O cargo dá prestígio e oportunidade para o crescimento."

Ivan Trevisan mora em Pântano Grande, a duas horas da capital, e, segundo colegas vereadores, nunca falta ao trabalho. Pelo Legislativo municipal, ele recebe por mês R$ 2,3 mil. As reuniões plenárias ocorrem a cada 15 dias. Pelo gabinete, o vereador ganha cerca de R$ 4,5 mil. Ele declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um patrimônio de R$ 42,8 mil, representado por um terço de uma casa no Centro da cidade de pouco mais de 10 mil habitantes.

Mendes Ribeiro informou que caberia à Câmara fiscalizar a contratação e que, durante a nomeação, não houve qualquer impedimento. "Não existe incompatibilidade. O Ivan é uma pessoa muito ativa profissionalmente e politicamente", disse. Também esclareceu que nessa quinta-feira mesmo recebeu um ofício da Casa pedindo a revisão da contratação e determinando que Ivan escolha um dos cargos. O vereador e secretário parlamentar terá 10 dias para comprovar que abriu mão da vaga na Câmara Municipal ou pedir exoneração do cargo de secretário parlamentar. A assessoria de imprensa da Câmara informou que vereadores não podem acumular cargos, porque seguem as normas dos deputados federais. Uma recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou o entendimento.

Aliados 

Além do problema com o funcionário, Mendes terá que lidar com o legado do antecessor. Wagner Rossi pediu demissão depois que o Estado de Minas revelou, na terça-feira, que ele usava frequentemente o jatinho da empresa de agronegócios Ourofino, com sede em Ribeirão Preto (SP). E, apesar de ter deixado a pasta, mantém grande influência, especialmente com a presença de aliados na Secretaria de Defesa Agropecuária, nos departamentos de Fiscalização de Insumos Pecuários, Inspeção de Produtos de Origem Animal e de Saúde Animal, além da Consultoria Jurídica, responsável pelos pagamentos milionários de dívidas perdidas na Justiça, e da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, comandada por Ricardo Saud, que também é sócio de uma das subsidiárias do Grupo Ourofino.

Entrevista/Mendes Ribeiro

Novo ministro da agricultura

Brasília – O novo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS), 56 anos, assume o cargo com uma no cravo e outra na ferradura. Ao mesmo tempo em que declara  ter "muito a aprender" com o antecessor Wagner Rossi, que pediu demissão depois da saraivada de denúncias sobre ações incompatíveis com o cargo, avisa: "Vou trocar todos que achar que tiver que trocar. Mas vou primeiro conversar com a presidente Dilma Rousseff". Questionado sobre o que tem a aprender com Rossi, ele ministro esclarece: "As políticas do arroz, o plano-safra. A política agrícola foi extremamente bem encaminhada por ele". Mendes Ribeiro diz que sua função não é promover uma caça às bruxas. "Não sei nem que faxina precisa ser feita. Minha função é cuidar da Agricultura. Quem cuida disso (da faxina) é o Jorge Hage", completa, referindo-se ao ministro da Controladoria Geral da União.O peemedebista conversou com o Estado de Minas e contou que vai ouvir vários ex-ministros e integrantes do setor agropecuário para traçar um diagnóstico da pasta. Nessa quinta-feira, Mendes Ribeiro foi à casa do senador Waldemir Moka (PMDB-MT), da bancada ruralista. Falou com Blairo Maggi (PR-MT) e a presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu (PSD-TO). Hoje, será a vez do ex-ministro Pratini de Moraes, do governo Fernando Henrique Cardoso. Confira os principais trechos da entrevista.

Faxina
Nem sei que tipo de faxina tem que ser feita. Isso é com outra pasta, a do Jorge Hage (Controladoria Geral da União). Minha função é tratar da política agrícola. Sou a favor da transparência total, aliás, lamento não ter aprovado a lei de acesso à informação como líder do governo no Congresso. A luz do sol é o melhor desinfetante. O homem, quanto mais fiscalizado, mais honesto será. Vou trocar todos que achar que tiver que trocar, mas vou conversar com a presidente Dilma Rousseff.

Wagner Rossi
Tenho muito a aprender com ele, sobre política do arroz, plano safra. A política agrícola foi extremamente bem encaminhada por ele. O Rossi foi muito judiado. Ele achou que devia sair. O partido fechou o meu nome e a presidente Dilma aceitou.

Dilma
Conheço a presidente há 30 anos. Foi a presidente que elegi. Tive a honra de fazer campanha para ela e o gosto de votar em Dilma. Se dependesse de mim, o PMDB do Rio Grande do Sul teria apoiado Dilma. Aqueles que não votaram e hoje dizem que ela está bem me deixam honrado. Quando dizem que ela é brava, etc, é uma barbaridade. Não é a Dilma que eu conheço. Ela é séria, dedicada e técnica.

PMDB
Não tenho a pretensão de achar que a minha escolha vai pacificar a bancada. Mas sou de agregar. E vou ajudar no que puder.

Rio Grande do Sul
Tudo o que eu puder fazer para ajudar o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, eu farei. É um estado produtor que merece atenção.

A escolha
Me deram 10 minutos para decidir. Não foi muito tempo, mas o suficiente para avaliar o desafio e dizer sim. E hoje (quinta-feira) ouvi o convite oficial, que me encheu de satisfação. As pessoas olham o Brasil como um caminhão, às vezes sobe ladeira, às vezes é descida. Mas sempre bem conduzido. Dilma está acertando e espero contribuir para esse acerto.


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