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Estado de Minas #PRAENTENDER

Entenda as origens e as consequências da hipersexualização das divas pop

Por que artistas precisam sensualizar tanto? Especialistas explicam a evolução desse fenômeno na música e o impacto sobre as mulheres


26/03/2022 10:45 - atualizado 26/03/2022 12:18

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Performances cada vez mais sexualizadas. Clipes que exaltam a nudez feminina, com pernas abertas, close de partes íntimas e muito rebolado. De Anitta num clipe musical, a Luiza Sonza fazendo stripper durante o show e Card B esbanjando posições eróticas, por que as divas pops precisam se sexualizar tanto? Conversamos com especialistas para entender as origens e as consequências da hipersexualização das artistas do pop.

O conceito de cultura pornificada é usado pela pesquisadora Gail Dines. Segundo a autora, a onda atual de imagens pornográficas soft-core, aquelas que têm componentes eróticos, mas não explícito, normalizou o visual da pornografia na cultura cotidiana.

Para compreender a evolução desse fenômeno, é importante entender que esse apelo cada vez mais agressivo da nudez e da sensualização do corpo feminino das artistas do entretenimento tem uma origem histórica.

"A gente encontra isso na década de 60, começando, mas eu acho que o grande boom a gente pode ver ali na década de 80, no início da MTV, com dobradinha entre Madonna e a Camille Paglia. A Camille Paglia era uma feminista liberal, na época muito em voga. Contribuía com grandes veículos de comunicação. Então, ela promoveu essa ideia de que a Madonna era o ícone da liberdade sexual que a gente gostaria de ter. Mas que liberdade sexual é essa?", questiona Carmen Carvalho, pesquisadora e colaboradora da campanha pelos Direitos Humanos das Mulheres - Women's Declaration International.



Se você compara as divas pop da década de 1990 com as da década seguinte, a sexualização é cada vez mais visível. Para além das questões de apossar e distorcer conceitos de emancipação feminina, a hipersexualização das cantoras pops desperta outra preocupação entre especialistas: a influência provocada no público alvo dessas artistas, que são, em sua maioria, meninas jovens.



"O efeito é você hipersexuar a infância, entretanto, sem dar o conhecimento, a educação necessária para elas fazerem escolhas bem orientadas. E o que a gente está criando são crianças que perderam a infância, literalmente. Crianças que encaram como sexual o que é infantil e que encaram o infantil como sexual. Isso vira uma grande bagunça, que tem os maiores efeitos para as meninas", afirma Carmen.

Leia também: como a pornografia distorce o sexo e incita violência contra mulheres

O índice de gravidez na adolescência no Brasil está acima da média mundial. Em 2020, a cada mil brasileiras entre 15 e 19 anos, 53 tornam-se mães. No mundo, são 41, segundo relatório lançado recentemente pelo Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa).

"Essa cultura as expulsa das escolas"

"A gravidez na adolescência no Brasil é uma das maiores causas de evasão escolar entre adolescentes. Essa cultura as expulsa das escolas, da infância e joga nesse mundo em que é vendido como o empoderamento o nosso poder de ser acessível ao maior número possível de homens", aponta Carmen.

Outro efeito negativo dessa sexualização exagerada é que ela em geral expõe mulheres, adolescentes e crianças a violências que as famosas tendem a não sofrer, devido a uma blindagem por dinheiro e influência. ''Se empoderamento é você se assemelhar a essas mulheres que são instrumentos de uma indústria poderosíssima e elas tem alguma condição financeira e de resguardar a própria segurança. Mas as meninas não têm esse mesmo recurso para se proteger. Então, essas meninas estão muito vulneráveis e isso é muito preocupante', comenta a pesquisadora.

Criação do mercado do entretenimento

Outra crítica que feministas fazem à essa hipersexualização das cantoras pops é que ações defendidas como individuais, cheias de autonomia e empoderamento por essas artistas não passam de uma distorção proposital de mercado.



"O que a gente tem que lembrar é que essas atitudes não são individuais, tanto é que a gente vê divas pop fazendo isso ao redor do mundo. Se tem tanta gente fazendo assim, capaz de não ser individual. E mesmo hoje com teoricamente tudo que alcançamos, a indústria pornográfica, audiovisual, midiáticas são propriedades de homens: homens com muito entendimento do mercado e muito dinheiro e que sentem a tendência desses mercado e produzem as divas pop. Elas não são pessoas que se fazem sozinhas e não tem nada de 'meu corpo, minhas regras', é 'o meu corpo, regras do meu produtor'', diz Carmen.

Feminismo?

Um dos pontos mais controversos dessa escalada de exposição da nudez e da sexualização de cantoras é o rótulo que as acompanha: mulheres empoderadas. Pesquisa do site Az Mina mostra que meninas entre 12 e 20 anos no Brasil veem em artistas como Anitta e Luiza Sonza um símbolo do feminismo.



Izabella Forzani, administradora da página Recuse a Clicar, aponta o liberalismo como uma das principais questões que dissemina esse tipo de ideia na nossa cultura. "Todo problema começa com a ideia do liberalismo em si, que é a ideia de que o indivíduo sozinho pode alterar a própria realidade como se não estivesse dentro de um contexto social. Quando você pensa em mulheres que estão em um mundo que vive com base na base do patriarcado, não importa o jeito que você pessoalmente lida com isso", afirma.

O empoderamento vem do ganho de poder político, social e econômico à classe de mulheres. Izabela diz que o que torna a questão ainda mais problemática é o fato dessas mulheres se reenvidarem feministas.

"Se elas fizessem isso e parassem de se reivindicar as mais feministas do mundo, eu só diria que elas são influências ruins para meninas e mulheres que não estão na mesma situação que ela. Porque a partir do momento que elas se reivindicam feministas e elas fazem isso aí a coisa muda. Não é esse tipo de conduta que vai mudar a vida das mulheres", diz.

O que diz a lei sobre estupro no Brasil?

De acordo com o Código Penal Brasileiro, em seu artigo 213, na redação dada pela Lei  2.015, de 2009, estupro é ''constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.''

No artigo 215 consta a violação sexual mediante fraude. Isso significa ''ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima''  

O que é assédio sexual?

O artigo 216-A do Código Penal Brasileiro diz o que é o assédio sexual: ''Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.''

Leia também: Cidade feminista: mulheres relatam violência imposta pelos espaços urbanos

O que é estupro contra vulnerável?

O crime de estupro contra vulnerável está previsto no artigo 217-A. O texto veda a prática de conjunção carnal ou outro ato libidinoso com menor de 14 anos, sob pena de reclusão de 8 a 15 anos.

No parágrafo 1º do mesmo artigo, a condição de vulnerável é entendida para as pessoas que não tem o necessário discernimento para a prática do ato, devido a enfermidade ou deficiência mental, ou que por algum motivo não possam se defender.

Penas pelos crimes contra a liberdade sexual

A pena para quem comete o crime de estupro pode variar de seis a 10 anos de prisão. No entanto, se a agressão resultar em lesão corporal de natureza grave ou se a vítima tiver entre 14 e 17 anos, a pena vai de oito a 12 anos de reclusão. E, se o crime resultar em morte, a condenação salta para 12 a 30 anos de prisão.

A pena por violação sexual mediante fraude é de reclusão de dois a seis anos. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa.

No caso do crime de assédio sexual, a pena prevista na legislação brasileira é de detenção de um a dois anos.

O que é a cultura do estupro?

O termo cultura do estupro tem sido usado desde os anos 1970 nos Estados Unidos, mas ganhou destaque no Brasil em 2016, após a repercussão de um estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro. Relativizar, silenciar ou culpar a vítima são comportamentos típicos da cultura do estupro. Entenda.

Como denunciar violência contra mulheres?

  • Ligue 180 para ajudar vítimas de abusos.
  • Em casos de emergêncialigue 190.


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