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Estado de Minas #PRAENTENDER

Vídeo explica o que é cultura do cancelamento e suas origens

Entenda como um termo ligado às relações de consumo se popularizou nas redes sociais e é motivo de intensos debates e polêmicas sobre comportamento na internet


16/02/2021 13:37 - atualizado 16/02/2021 16:10

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)
Celebridades, famosos, influenciadores e, claro, pessoas comuns: no tribunal da internet, ninguém está imune ao cancelamento. Mas, afinal, qual é o limite entre cancelar e passar pano? O Estado de Minas ouviu especialistas #PRAENTENDER o que é a cultura do cancelamento, sua origem e os impactos desse comportamento dentro e fora das redes sociais.

O fenômeno ganhou força com a popularização das redes sociais. Em 2019, “cancelamento” foi escolhido o termo do ano pelo Dicionário Macquarie, que anualmente elege as expressões mais relevantes na nossa comunicação. Cancelar no mundo on-line significa deixar de seguir e apoiar marcas, atores, políticos, músicos, influenciadores digitais ou qualquer outra figura pública como resposta, em geral, a algum tipo de postura considerada condenável, ofensiva ou preconceituosa.



Um comportamento tão atual quanto antigo. “A gente tem entendido a cultura do cancelamento como algo da internet. Mas, pesquisando, na verdade, não. As pessoas têm prazer em julgar outras pessoas, em participar da ruína de outras pessoas se elas forem ‘vilãs’”, explica a comunicóloga e pesquisadora de comportamento Clara Fagundes. 

Estudos revelam que durante a inquisição católica (séculos 5 a 15), famílias se reuniam em volta de fogueiras para verem ‘bruxas’ e pessoas consideradas traidoras queimarem. “Quando a guilhotina foi inventada, a plateia vaiou, porque foi considerada uma morte muito rápida. Antes da morte por guilhotina, as torturas duravam horas e a guilhotina acabou com o que era considerado diversão por pessoas da época”, comenta Clara.

A origem do termo cancelar


A origem da expressão cancelar está ligada às relações de consumo em sociedades como a norte-americana. Muito antes da internet, pessoas já telefonavam ou mandavam cartas para empresas pedindo para cancelar pagamentos, compras ou a contratação de serviços diante de algum problema relacionado aos produtos ou à própria marca.

Na cultura pop, uma das primeiras aparições do termo nesse contexto ocorreu no filme New Jack City, de 1991, quando o traficante Nino Brown agride sua namorada e diz para cancelarem ela, pois ele “vai comprar outra”.

O movimento #meetoo

Porém, o termo se popularizou somente a partir de 2017. “Temos falado da cultura do cancelamento desde o movimento Mee Too. Foi aquele movimento em Hollywood no qual as atrizes estavam denunciando os homens agressores, os assediadores e a internet entrou como ‘juíza’ para poder boicotar esses homens denunciados. Só que a internet não tem limite”, relembra Clara.

Projeção de expectativas

Para o psicanalista Bruno Vivas, o ato de cancelar o outro diz muito sobre nós mesmos. “A gente tem que entender que o cancelamento está rodando a sociedade toda, é uma forma de enxergar a vida. Nós enxergamos a vida pensando que os outros devem ser como a gente ou devem alcançar aquilo que a gente não alcançou”, afirma.

Outro problema é que como sociedade também temos o hábito de projetar nossas expectativas de vida ou de modelo ideal de conduta em outras pessoas. Seja por que elas são engajadas em lutas sociais, seja porque representam um estilo de vida que gostaríamos de ter.

“Nós elegemos historicamente essas figuras intocáveis e elas não vão suportar, não conseguem suportar isso, esse papel”, explica o psicanalista em relação aos influenciadores e até mesmo os “militantes ideais". E, se você comete um erro, esse dano pode ser irreversível.

Projeção e rejeição


Lidar com a rejeição é uma questão inerente ao ser humano. Mas, se torna ainda mais difícil quando se entende em tempos atuais que ser amado é ser “curtido”. Bruno pontua que as pessoas não postam o que “naturalmente” gostam, mas, sim, alinha o querer ao que o outro vai curtir. Ou seja, os desejos são moldados pela perspectiva do olhar do outro.

“Essa realidade do espelho, que traz como condição que você obedeça ideais e que você seja ideal, faz com que a gente não valorize ou enxergue que somos humanos”, explica. O psicanalista diz que o que está sendo cancelado é a “realidade, a materialidade, são justamente as relações humanas.”


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