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Estado de Minas CORONAVÍRUS

Brasil não passou pelo pior e ruma para ser epicentro da COVID-19, indicam gráficos

Dos oito países mais afetados pelo coronavírus, apenas um apresenta crescente na curva de mortos: o Brasil. Os outros, aparentemente, já passaram pela pior fase da pandemia


postado em 15/05/2020 04:00 / atualizado em 15/05/2020 16:52

"Quem passou do pico?": gráfico mostra curva de mortes em oito países (foto: João Vítor Marques/EM)
Quase dois meses se passaram desde que a primeira pessoa morreu com COVID-19 no Brasil, em 17 de março. A partir da chegada do coronavírus, o país acumulou 13.993 óbitos em decorrência da doença, segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde. Só nesta quinta-feira, 844 novas mortes foram registradas. E a tendência é que o número diário continue a crescer por aqui, na contramão do que ocorre em outras partes do mundo.

Com base em dados do European Centre for Disease Prevention and Control, o Estado de Minas elaborou gráficos que mostram como Brasil aparentemente ainda não passou pelo momento mais devastador da doença. Dia após dia, o país registra recordes de novos óbitos. Por outro lado, lugares que já foram considerados epicentros da pandemia parecem ter deixado a pior fase para trás.

Para produzir os gráficos, o EM levou em conta as médias de mortes diárias até 12 de maio. No cálculo, foram considerados apenas os óbitos registrados nos sete dias anteriores, e não de todo o período da pandemia. Esse método reduz distorções resultantes das distintas formas de apresentar os dados por cada país e ajuda a entender com mais precisão em qual ponto da curva estamos, já que considera somente as informações mais recentes.


A primeira visualização (“Quem passou do pico?” - veja acima) compara os oito países com mais mortes em decorrência da COVID-19. Desses, apenas o Brasil tem média diária de óbitos em ascensão. EUA, Reino Unido, Itália, Espanha, França, Bélgica e Alemanha estão em tendência decrescente. Ou seja, provavelmente já passaram pelo pior momento da primeira “onda” da pandemia.

Nada nos indica que chegamos ao pico. Parece que será um ‘longo inverno’. Podemos estar diante de uma das maiores crises sanitárias do país depois da invasão dos portugueses, quando milhões de índios foram mortos vítimas das doenças trazidas pelos exploradores”, projeta o infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Unaí Tupinambás.

A hipótese mais apontada para tentar explicar o comportamento da curva de mortes no Brasil sugere que, como o vírus provavelmente chegou mais tarde por aqui, é relativamente natural que o pico também seja posterior. Essa diferença de tempo pode, inclusive, nos ajudar no combate à pandemia. Especialistas apontam que o poder público brasileiro deve observar as ações de países que estão à frente na “linha do tempo” da COVID-19 para copiar o que der certo e não repetir o que der errado.

Segundo avaliação do diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Antônio Toledo Júnior, o aparente "achatamento" na curva de mortos em comparação com os outros países destacados não significa necessariamente que a doença se propaga lentamente no Brasil.

"A curva de óbitos aparentemente está menos inclinada, mas isso não quer dizer que a doença está se disseminando lentamente do Brasil. Enquanto em alguns estados a doença está bem acelerada, em outros ainda não chegou direito. Além disso, há a demora na confirmação de casos e a subnotificação. Mesmo que isso tenha acontecido nos outros países - e deve ter acontecido - eles já compensaram o 'atraso', pois já estão mais avançados no tempo de epidemia", avaliou.

Segundo os especialistas, qualquer tipo de comparação mais aprofundada a partir do gráfico se torna difícil por conta de algumas diferenças entre os países (quantidade de habitantes, número de idosos, extensão territorial, densidade populacional, critérios para considerar se determinada morte foi causada por COVID-19, capacidade dos sistemas de saúde de cada lugar, acesso gratuito ou pago ao tratamento).

Apesar dessas ressalvas, é possível identificar que os próximos dias tendem a ser de alta no número diário de mortes por aqui. Até o momento, o Brasil não chegou ao patamar médio de mortes de EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França. Não significa dizer, porém, que não atingirá essas marcas. A ascensão brasileira e a queda dos demais países também indicam que, muito em breve, poderemos nos tornar o epicentro mundial da pandemia.

Isolamento necessário


A segunda visualização (“Média de mortes por COVID-19” - veja abaixo) leva em consideração todos os países que atingiram a média de três mortes diárias. O gráfico mostra o comportamento de cada lugar a partir do dia em que chegou a esse patamar. Em destaque, aparecem os recordistas em óbitos: EUA, Reino Unido, Itália, Espanha, França e Brasil.


Até essa terça-feira (12) - último dia de coleta dos dados -, haviam se passado 51 dias desde que o Brasil atingiu a média diária de três mortes. E a tendência continua de alta. Por outro lado, EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França já apresentavam queda quando chegaram a esse momento da curva.

Nos últimos dias, o Brasil - sexto país que mais registrou mortes por COVID-19 - tem ocupado a segunda posição no ranking de novos óbitos em 24 horas. Apenas EUA aparecem à frente, apesar da tendência de queda.  

O fato de ainda não ter alcançado o patamar mais alto de óbitos dificulta a tomada de decisão dos líderes políticos sobre medidas de flexibilização do isolamento social no Brasil. Como ainda não se sabe qual será o ponto máximo da curva, torna-se mais difícil planejar o futuro ou qualquer tipo de reabertura comercial segura. “Mais do que nunca, definitivamente não é hora de sair do isolamento”, pontua Unaí Tupinambás.

No entendimento dos especialistas, ainda não é possível prever se o Brasil ultrapassará EUA, Reino Unido, Itália, Espanha e França em número de mortes. Tudo dependerá das medidas adotadas em cada país para conter o avanço do vírus. "É difícil fazer uma previsão de até onde chegaremos. A epidemia é muito dinâmica e pode haver piora ou agravamento ao longo do tempo", analisa Antônio Toledo Júnior.

"Nos EUA houve um grande pico em Nova Iorque e pode haver novos picos em outros locais. São Francisco, que é uma cidade do porte de Belo Horizonte, teve uma política de isolamento mais restritiva e teve bem menos casos. Como a população brasileira é bem maior que as de Itália, Espanha e Inglaterra, talvez tenhamos mais casos e mais óbitos. Mas a população dos EUA é bem maior, então não há como prever se vamos ultrapassá-los ou não", completa.

Avanço do vírus

Nas últimas semanas, especialistas brasileiros têm chamado atenção para um fenômeno que pode acelerar a escalada de mortes: a “interiorização da doença”. Nesse processo, o vírus - inicialmente propagado com mais velocidade em grandes centros urbanos - alcança cidades menores, cujos sistemas de saúde potencialmente possuem estrutura pior e podem não conta da demanda de pacientes. Sem o tratamento adequado, a tendência é que o número de mortes cresça com maior intensidade.

Essa preocupação se estende a regiões urbanas com grande densidade populacional, acesso dificultado ao sistema de saúde e piores indicadores econômicos, como favelas e aglomerados. “A iniquidade social no Brasil é gigantesca em comparação com EUA, Itália e todos os países da Europa. Nosso receio maior era este: a pandemia atingir a população mais vulnerável, mais empobrecida, com acesso à saúde muito mais precário. O número de leitos para essa população vai ser insuficiente”, diz Unaí Tupinambás.

Respeitar o isolamento social é a forma mais eficaz de conter a propagação desenfreada do vírus, achatar a curva de infectados e, com isso, evitar o colapso do sistema de saúde. Sem sobrecarga nos centros de saúde, é possível reduzir o número de mortes. Outras medidas repetidas pelos especialistas são: manter o distanciamento social (de 0,5m a 2m), usar máscaras, lavar as mãos e evitar aglomerações, principalmente em locais fechados.


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