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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: O que o Brasil precisa aprender com o restante do mundo

Apontado como o próximo epicentro do novo coronavírus, país deveria seguir a receita de locais que domaram a doença: reclusão social e testagem em massa


postado em 01/05/2020 04:00 / atualizado em 01/05/2020 07:42

Vizinha Argentina é um dos exemplos bem-sucedido de contenção da doença. Para isso, foi essencial o rígido confinamento da população(foto: Juan Mabromata/AFP)
Vizinha Argentina é um dos exemplos bem-sucedido de contenção da doença. Para isso, foi essencial o rígido confinamento da população (foto: Juan Mabromata/AFP)

 Depois de China, Europa e atualmente os Estados Unidos, o Brasil pode se tornar o epicentro mundial da COVID-19. A aceleração na propagação do novo coronavírus e os consecutivos recordes de mortes diárias fazem com que pesquisadores entendam que, em breve, o pior lugar do mundo para enfrentar a pandemia pode mesmo ser aqui.

 

Em estudo publicado esta semana, o renomado Imperial College de Londres projeta que o país se aproximará das 10 mil mortes em decorrência da doença até domingo. Seriam, em média, 5.680 óbitos ao longo desta semana, quantidade superior ao acumulado de 4.205 vítimas nos 41 dias anteriores. Na projeção menos otimista, 9.770 novos mortos.

 

Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o Brasil – sexto país mais populoso do mundo – ocupa a nona colocação no ranking de mortes por COVID-19. Foram 5.901 vítimas confirmadas pelo Ministério da Saúde até a tarde de ontem. Apesar de números bem inferiores aos de EUA (61.187 óbitos), Itália (27.967), Reino Unido (26.771), Espanha (24.543) e França (24.087), a projeção é preocupante. O entendimento é que ainda não atingimos o topo da curva de infectados e mortos por dia.

 

Mas não é apenas a tendência crescente que preocupa. Ainda de acordo com os pesquisadores ingleses, o Brasil tem a taxa de contágio mais alta entre os 48 países analisados – cada doente, em média, transmite o vírus para 2,8 pessoas.

 

Pelo mundo, líderes políticos buscam soluções para evitar a propagação acelerada da COVID-19. A medida mais eficaz tem sido fortalecer as regras de distanciamento. Para ajudar a entender o cenário no Brasil no contexto global da pandemia, o Estado de Minas selecionou países em estágios diferentes do combate ao vírus, mas que têm um ponto em comum: o entendimento de que o isolamento social é fundamental para conter a doença.

 

Argentina

Terceiro país mais populoso da América do Sul, com quase 45 milhões de habitantes, conseguiu conter o avanço acelerado do vírus com duras medidas de isolamento social, iniciadas em 20 de março e válidas pelo menos até 10 de maio. Foi essencial para que as previsões de até 45 mil infectados não se concretizassem. Até quarta-feira, eram 4.285 casos e 214 mortes por COVID-19, números que indicam taxas bem inferiores às brasileiras.

 

Paraguai

Apenas três dias após a confirmação do primeiro caso, entrou em quarentena obrigatória. A antecipação da reclusão social (em 10 de março) levou a 239 casos confirmados e nove mortes, números baixos para uma população de aproximadamente 7 milhões de habitantes. Nesta semana, o governo anunciou que não há pacientes internados em UTIs. Diante desse cenário, o presidente Mario Abdo Benítez confirmou o retorno gradual das atividades de comércio a partir de segunda-feira.

 

Uruguai

Terceiro país menos populoso da América do Sul, com cerca de 3,5 milhões de habitantes, dá sinais de ter conseguido frear o avanço do vírus, especialmente após o governo local ter sugerido uma “quarentena voluntária” em 12 de abril. Os dados mais recentes apontam 630 infectados e 15 mortes, números dos mais baixos no continente. A segunda preocupação é dar respostas após perdas na economia. O presidente Lacalle Pou deve divulgar em breve protocolos para reabrir setores do comércio.

 

Chile

Presidido por Sebastián Piñera, enfrenta forte crise social e econômica. Segundo o governo, a média de novos casos semanais varia de 400 a 500. Até ontem, eram 16.023 infectados e 227 mortos, para uma população inferior a 20 milhões de habitantes. Algumas propostas federais têm sido criticadas – nem todas as regiões estão em quarentena. Outra medida polêmica são os “certificados de imunidade” a quem se curou, embora não haja comprovação científica de que quem já foi contaminado esteja imune.

 

EUA

Atual epicentro mundial da COVID-19, somava 61.187 mortes e 1.044.285 de casos confirmados até ontem. Há sinais de estabilização nos novos registros, mas o país ainda vive aquele que parece ser o momento mais sombrio da pandemia. Segundo o estudo do Imperial College de Londres, só os EUA têm projeção pior de novos óbitos que o Brasil: a estimativa é de que serão por volta de 13,9 mil vítimas nesta semana. Especialistas entendem que, além do tamanho da população (cerca de 330 milhões), fatores como a demora no isolamento social e um sistema de saúde baseado em planos privados fizeram com que o país chegasse a essa situação.

 

Espanha

Quarto país com mais mortes por COVID-19 (24.543), se apega à queda no número de novas vítimas diárias para voltar a ter esperança. Ontem, foram 268 óbitos, menor número em 40 dias. O distanciamento social, decretado em 14 de março, começou a ser flexibilizado no domingo e será gradualmente eliminado até junho.

 

(foto: JOHN MACDOUGALL /AFP)
(foto: JOHN MACDOUGALL /AFP)

 

Alemanha

Apesar dos números significativos de mortes (6.518) e casos (162.123), evitou tragédia da magnitude de outros gigantes europeus, como Itália, Espanha, França e Reino Unido. Para isso, contou com medidas de isolamento social, sistema de saúde bem preparado e testagem em massa e precoce da população. O cenário tecnicamente positivo fez com que flexibilizasse a reclusão. A medida, porém, teve efeito colateral: a taxa de contágio, que já esteve em 0,7, subiu para 1.

 

Itália

A demora para estabelecer medidas rígidas de isolamento social é apontada como um dos fatores que tornaram o novo coronavírus tão devastador, especialmente no Norte do país. Por lá, já foram 27.967 mortes. No acumulado desta semana, a expectativa do Imperial College de Londres é que sejam registrados 2.110 óbitos. Apesar dos números assustadores, o estudo aponta que há uma tendência de declínio. Os números novos casos e mortes caem dia após dia e a atual taxa de contágio é baixa (0,67), o que possibilita o processo já iniciado de flexibilização da quarentena.

 

Reino Unido

Outro que pagou caro por demorar a instaurar o distanciamento sociais. Até ontem, eram 171.253 casos e 26.711 mortes – 674 delas nas 24 horas anteriores à divulgação dos números. Apesar da previsão de 4.450 óbitos nesta semana (o terceiro maior número do mundo), o primeiro-ministro Boris Johnson, que foi infectado, afirmou que o pico da doença foi “superado” e prepara um plano para atenuar a quarentena.

 

Rússia

Nono país mais populoso do mundo (quase 145 milhões de habitantes), vive momento de crescimento da pandemia. As medidas de isolamento social, decretadas no fim de março, continuarão pelo menos até 11 de maio. O número de casos confirmados é alto: 106.498. A taxa de mortalidade, porém, está mais bem controlada que em outros países europeus. Foram 1.073 óbitos até ontem. Existe, porém, um alerta, já que o pico da doença ainda não chegou. 

 

Bélgica

Sexto em número de mortes (7.594), tem taxa elevada de mortalidade, já que os infectados somam menos de 50 mil. Mas como um país de apenas 11,5 milhões de habitantes apresenta números tão expressivos? Há explicações. O governo resolveu incluir na conta casos em asilos e óbitos suspeitos, mas ainda sem confirmação de causa. Outra razão é que o país foi o último da Europa a decretar lockdown, em 18 de março. O início da flexibilização do funcionamento do comércio está agendado para 11 de maio.

 

China

Berço da COVID-19, descoberta em dezembro, encarou medidas duras de isolamento social e monitoramento do deslocamento da população mais cedo que o Ocidente. Desde o fim de março, Wuhan, a cidade mais afetada, começou a adotar o retorno gradual das atividades e não tem mais pacientes em hospitais. No país, os números de mortes (4.637) e infectados (83.944) se estabilizaram. A vida, ainda com muitas precauções, volta a parecer aquela de antes.

 

(foto: THOMAS COEX/AFP)
(foto: THOMAS COEX/AFP)
 

 

França

Em um país de aproximadamente 67 milhões de habitantes, o número de mortos impressiona: 24.087. As estatísticas consideram não apenas óbitos em hospitais, mas também em asilos, o que não é prática de  lugares como o Reino Unido, por exemplo. A quantidade de vítimas e a velocidade dobrou a preocupação das autoridades, que estabeleceram o limite de 3 mil novos casos diários para que a flexibilização da quarentena começasse. Embora comece a se preparar para voltar a um cenário um pouco mais parecido com a normalidade, ainda há preocupação quanto à capacidade do sistema de saúde em atender os doentes.

 

Índia

Um dos casos que mais chamam atenção, afinal, o segundo país mais populoso do planeta, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, tem 1.079 mortos e 33.610 infectados, números bem inferiores aos apresentados em estudos que projetavam até 300 milhões de doentes. Há teorias que ajudam a entender o cenário. A primeira é a imposição do confinamento desde 24 de março, quando havia 10 mortes e 600 casos. Outros especialistas citam a grande parcela jovem da população, o que diminui a taxa de mortalidade, já que idosos estão no grupo de risco. A possibilidade de subnotificação, num país que não testa tanto, também é citada. Apesar dos números tecnicamente positivos, a pandemia está em crescimento. Mesmo assim, medidas de flexibilização começaram a ser anunciadas.

 

Coreia do Sul

Com pouco mais de 50 milhões de habitantes, é um dos exemplos mundiais de como conter a pandemia. Medidas como testagem em massa – e precoce –, fechamento de escolas, isolamento social voluntário e rastreamento dos infectados foram fundamentais. Ontem, não registrou contágio local. São 247 mortes e 10.765 casos confirmados, números que pouco se alteram há semanas e cenário que permite a flexibilização gradual do confinamento.

 

Nova Zelândia

Outro exemplo de como combater o avanço da COVID-19, apesar de as estratégias utilizadas por lá, um país com menos de 5 milhões de habitantes, não serem facilmente replicadas em maior escala.O isolamento social foi determinado no começo da pandemia, para se antecipar ao problema e, com isso, eliminá-lo. Aliado ao alto número de testes, permite a volta, aos poucos, à quase normalidade. São 19 mortes e 1.476 casos acumulados desde a chegada do novo coronavírus ao país.

 

África do Sul

Segundo fontes oficiais, a África tem sofrido menos com a pandemia. No continente, porém, há países que preocupam a comunidade internacional, como a África do Sul. São 5.350 casos e 103 mortes. Em 27 de março, foi decretado o confinamento dos mais de 57 milhões de habitantes. Num processo de triagem, 168 mil foram testados. Nesta semana, chegaram ao país mais de 200 médicos cubanos. Diante do aumento de casos, os hospitais se prepararam para receber uma grande quantidade de pacientes. Porém, nesse meio-tempo, o número de novos infectados caiu significativamente, o que intriga especialistas. A aparente melhora faz com que a África do Sul comece a relaxar as medidas restrititas a partir de hoje.

 

(foto: afp)
(foto: afp)

 

Austrália

Em 22 de março, quando 1.315 casos e sete mortes haviam sido detectados, foram estabelecidas regras mais rígidas de isolamento social. Daí em diante, o país de 25 milhões de habitantes aliou confinamento e testagem em massa, e os resultados, mais de um mês depois, começaram a aparecer. São 6.754 casos e 92 mortes. As autoridades declararam que o fim da pandemia está próximo. A quarentena está sendo flexibilizada aos poucos, embora aglomerações e viagens internacionais sigam proibidas. 


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