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Estado de Minas PREVENÇÃO

Com fatores de risco conhecidos, poucos preservam saúde do coração

As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no Brasil


06/12/2020 06:00 - atualizado 07/12/2020 13:18

O cardiologista Marcus Bolívar alerta que as doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes que aquelas devidas a todos os tipos de câncer juntos(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
O cardiologista Marcus Bolívar alerta que as doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes que aquelas devidas a todos os tipos de câncer juntos (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)


Como anda seu coração? A sabedoria popular sempre nos ensinou que prevenir é melhor que remediar e que “o custo do cuidado é sempre menor que o custo do reparo”. É o que lembra o médico cardiologista Marcus Vinícius Bolívar Malachias, PhD pela USP, pós-doutor pela Harvard Medical School e professor da Faculdade Ciências Médicas de Minas Geras (FCMMG).

Ao mesmo tempo, ele destaca a canção de Guedes e Bastos, “a lição sabemos de cor, só nos resta aprender”. Assim, o especialista introduz o alerta sobre a importância de cuidar do coração.
 
Marcus Bolívar, que é representante no Brasil do American College of Cardiology, diretor do Instituto de Hipertensão e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), pontua que, em relação à saúde do coração, os fatores de risco já são bastante conhecidos, mas poucos são o que se preservam adequadamente.

“Como resultado, as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte em todo o mundo, incluindo o Brasil. Entre nós, ocorrem mais de 1.100 mortes por dia, cerca de 46 por hora, 1 morte a cada 90 segundos.”
 
O cardiologista enfatiza que as doenças cardiovasculares causam o dobro de mortes que aquelas devidas a todos os tipos de câncer juntos, 2,3 vezes mais que as todas as causas externas (acidentes e violência), 3 vezes mais que as doenças respiratórias.

Segundo o Cardiômetro (cardiometro.com.br), um indicador do número de mortes por doenças cardiovasculares no Brasil, criado pela SBC, ao final de 2020, quase 400 mil cidadãos brasileiros morrerão por doenças do coração e da circulação.

“Muitas dessas mortes poderiam ser evitadas ou postergadas com cuidados preventivos e medidas terapêuticas simples. O alerta, a prevenção e o tratamento adequado tanto dos fatores de risco quanto das doenças cardiovasculares existentes poderiam reverter esses números”, avisa Marcus Bolívar.


Quarteto mortal



Marcus Bolívar destaca que os principais fatores de risco para as doenças do coração são conhecidos como “o quarteto mortal”: hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes e tabagismo.

“Esses fatores são frequentemente potencializados por outras condições, como história familiar de doenças cardiovasculares, estresse psicossocial, sobrepeso/obesidade, sedentarismo e alimentação desbalanceada."

Segundo Marcus Bolívar, São também importantes fatores agravantes para todas as doenças: baixa renda; baixo nível educacional/cultural; falta de saneamento básico, poluição, pouco acesso à assistência médica e medicamentos; assim como a falta de conscientização, baixo autocuidado e não adesão às orientações dos profissionais de saúde.
 
O cardiologista alerta que muitas pessoas desconhecem ter fatores de risco, enquanto há um grande número que sabidamente têm hipertensão, diabetes, colesterol elevado e tabagismo, mas que não seguem as orientações médicas, seja em relação ao uso regular de medicamentos ou a adoção de mínimas adequações do estilo de vida, como dietas, exercícios e cessação do hábito de fumar.

“Há ainda aqueles que, por adotarem um estilo de vida saudável, acreditam estar plenamente protegidos. Bons hábitos – como manter o peso adequado, ter uma alimentação regrada e se exercitar – são protetores, mas mesmo assim as doenças cardíacas podem surgir, sendo necessários exames preventivos periódicos.”

Estudos


Marcus Bolívar conta que um estudo que avaliou 628 comunidades urbanas e rurais em 17 países demonstrou que a prevalência de fatores de risco é mais alta em regiões de renda elevada, intermediária em países de renda média e menor em países de baixa renda.

“Embora a carga de fatores de risco tenha sido menor em populações de baixa renda, as taxas de morte e doenças cardiovasculares maiores – como infarto, acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca – foram substancialmente mais altas em países de baixa renda do que em países de alta renda. Observa-se que o acesso aos medicamentos é alarmantemente baixo em regiões de renda baixa. Esses dados demonstram que a desigualdade social tem forte impacto para o desenvolvimento de doenças e ocorrência de mortes cardiovasculares.”
 
O cardiologista reconhece que é complexo o desafio de conter o avanço das doenças cardíacas.

“Na atualidade, tem sido demonstrada a necessidade de controlar múltiplos e diversificados fatores. A ciência atual tem magníficas armas para a prevenção e controle das doenças, sendo a cardiologia uma das áreas da medicina que mais se desenvolveu nos últimos 50 anos. Há, no entanto, um enorme hiato entre os recursos da moderna medicina e o que é usufruído pela população em geral."

Segundo ele, de nada adianta todo o conhecimento científico adquirido por décadas de pesquisas, técnicas sofisticadas como machine learning e inteligência artificial, a parafernália atualmente disponível para o correto diagnóstico ou o desenvolvimento de medicamentos por biotecnologia, se o indivíduo não faz uso dos remédios e tratamentos com regularidade.
 
Marcos Bolívar informa que o Primeiro Registro Brasileiro de Hipertensão revelou os bons resultados das diversas estratégias nacionais de controle da hipertensão no país, tendo demonstrado que 59,6% dos pacientes tratados em centros terciários cardiológicos encontram-se dentro dos níveis de pressão arterial mínimo adequado.

“Esses números revelam que, mesmo nesses centros médicos altamente especializados, 40% dos pacientes com hipertensão não estavam bem controlados. Há dados nacionais que demonstram que, quando há mais fatores concomitantes, menos de 10% dos pacientes estão controlados. ”


Expectativa de vida



Marcus Bolívar avisa que a prevenção deve se iniciar desde o nascimento, ou até antes no período pré-natal, com a adoção de hábitos saudáveis e consultas médicas nas diferentes fases da vida, para a identificação de fatores agravantes à saúde e a mais precoce instituição de tratamento.

“Mas nunca é tarde para se iniciar a prevenção. O controle da hipertensão é capaz de aumentar em 16 anos a expectativa de vida. A redução do colesterol elevado atenua em mais de 40% as chances de um infarto. Modernos tratamentos para o controle do diabetes reduzem em 25% o risco de morte cardiovascular e internações por insuficiência cardíaca. Após um ano da cessação do tabagismo o risco de infarto cai pela metade. O controle dos fatores de risco cardiovascular está também associado a uma menor incidência de vários tipos de câncer.”

 

Quatro perguntas para

Marcos Atala
Educador físico e especialista em treinamento de atletas
 
1. Qual a importância da atividade física na saúde e no bem-estar?
O nosso corpo é geneticamente programado para funcionar melhor e executar todas as funções se tiver o mínimo de movimento. Quando se é jovem, tem o desenvolvimento cognitivo aumentado, consegue desenvolver coordenação, ritmo e aprendizagem. O crescimento, inclusive, depende da quantidade de movimento e das possibilidades que ele pode proporcionar. Já na fase adulta, a atividade física tem o papel de ajudar no controle e prevenção das doenças, e na terceira idade ajuda a manter a memória e a autonomia. De maneira geral, a atividade física é importante para o desenvolvimento físico, cognitivo, social em todas as fases da vida.

2. Como fazer as pessoas se conscientizarem que alimentação saudável e atividade física são essenciais para a saúde?
A informação já é disseminada, as pessoas têm consciência de que alimentação, atividade física e sono são importantes para a qualidade de vida. Acredito que só com a implantação de políticas de saúde pública é possível mudar hábitos de grandes populações. Outro fator para mudar o estilo de vida é o ambiente em que se está inserido. Tem o conceito de cidades caminháveis, a exemplo de Amsterdã, Copenhague, Manhattan ou centro de Boston, que são cidades onde você usa muito mais o transporte a pé, ou de bicicleta. Lugares pensados com esse conceito faz com que você melhore o seu estilo de vida e tem aspectos importantes de longevidade e qualidade de vida.

3. Ioga, meditação, pilates... atividades de baixo impacto são indicadas e têm benefícios para a prevenção da saúde mental. O praticante terá um ganho físico?
Qualquer atividade física tem ganho mental, cognitivo, diminui o hormônio do estresse, seja ela uma ioga, meditação, pilates ou uma corrida, por exemplo. Todas elas têm impacto direto em ansiedade, depressão, cognição, saúde mental e emocional. Em relação às atividades físicas de menor impacto e gasto calórico, se feitas com regularidade, vão ter ganhos na saúde. Para o emagrecimento, com certeza será necessário um sacrifício maior na alimentação. Mas toda atividade tem benefícios.

4. Existe um grupo de exercícios mais adequados para cada fase da vida? A musculação é indispensável para todas as fases?
A atividade física é adaptada por diversos fatores: condicionamento, histórico de lesão e, sem dúvida nenhuma, a idade. Como a partir dos 30, 35 anos entramos em um processo de perda de massa muscular, é importante que a musculação passe a fazer parte da programação de exercícios. Quando digo musculação, me refiro a exercícios resistidos, pode ser funcional, ginástica localizada, crossfit, pilates ou o que a pessoa escolher. A ideia é manter massa muscular para ter autonomia física pelos anos que virão.  


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