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Estado de Minas PREVENÇÃO

Demora no diagnóstico e tratamento aumenta chances de óbitos por câncer

Em estágio inicial, chance de cura da doença pode chegar a 90%


06/12/2020 06:00 - atualizado 07/12/2020 17:27

Sem histórico de câncer na família, a empresária Gislaine Gonçalves, de 44 anos, enfrentou um câncer de mama há 13(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Sem histórico de câncer na família, a empresária Gislaine Gonçalves, de 44 anos, enfrentou um câncer de mama há 13 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Pesquisa veiculada pela Universidade de Kingston, no Canadá, mostra que o risco de morte por câncer aumenta a cada mês de atraso para o início do tratamento. 

Foram reunidos diversos estudos, publicados entre 2000 e 2020, com mais de 1 milhão de pacientes, para calcular o perigo e estimar o número de óbitos por câncer relacionados à demora no diagnóstico e à intervenção médica tardia, muito em função da pandemia.

Em análise, diferentes tipos de câncer, como de mama, bexiga, cabeça e pescoço e colorretal. Os resultados dão conta de que, no caso da realização de cirurgia para o câncer de mama, por exemplo, o atraso de oito semanas aumenta a possibilidade de morte em 17%, enquanto que, para um prolongamento de 12 semanas, esse índice fica em 26%.
 
Segundo o radio-oncologista, presidente do Instituto de Radioterapia São Francisco, Miguel Torres Leite, o diagnóstico precoce está diretamente relacionado à maior possibilidade de cura de um tumor. Em estágio inicial, a lesão tem menor volume e o paciente está em melhores condições clínicas.

Ele reforça que o temor em contrair a COVID-19 levou ao retardo no diagnóstico de pelo menos 60 mil casos de câncer desde o início da pandemia, o que ocasiona reflexos importantes na curabilidade dos indivíduos. O médico lembra que a COVID-19 afeta o sistema imunológico e, para quem está em tratamento oncológico, é fundamental ter cuidados individualizados.
 
José Francisco da Silva, de 71 anos, enfrentou um câncer de próstata em 2016, fez a cirurgia e hoje está recuperado(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
José Francisco da Silva, de 71 anos, enfrentou um câncer de próstata em 2016, fez a cirurgia e hoje está recuperado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
 
 
Os tumores podem ocorrer em todas as faixas etárias, mas são mais frequentes após os 60 anos. A idade contribui para a diminuição da imunidade, e as pessoas idosas podem ter mais tempo de exposição a fatores cancerígenos.

No Brasil, os homens são afetados principalmente pelos tumores de pele, próstata, pulmão e intestinais, e as mulheres por tumores de mama, pele, uterinos, pulmonares e intestinais.
 
Cerca de 95% dos casos de câncer estão associados a causas externas. A Sociedade Americana do Câncer estima que os cânceres causados por fatores hereditários variam entre 5% e 10%.

"Mas quem tem um ou mais casos de câncer entre parentes de primeiro grau deve procurar orientação médica para avaliar a necessidade de iniciar o rastreio de forma mais precoce", recomenda o onco-proctologista do Grupo Onco Procto, do Hospital Felício Rocho, Ricardo Cembranelli.
 
Herman Barbosa, coordenador do serviço de urologia do Hospital Madre Teresa, alerta que o câncer de próstata, no estágio inicial, é uma doença silenciosa(foto: Madre Teresa/Divulgação)
Herman Barbosa, coordenador do serviço de urologia do Hospital Madre Teresa, alerta que o câncer de próstata, no estágio inicial, é uma doença silenciosa (foto: Madre Teresa/Divulgação)
 
 
"Com a enorme queda da realização de exames de rotina, como colonoscopia e mamografia, por exemplo, devido à pandemia, a expectativa é que em breve mais doenças começarão a ser diagnosticadas em fases mais avançadas", constata.

Um câncer de intestino descoberto no estágio 1, diz Ricardo Cembranelli, tem taxa de cura superior a 90%. Se descoberto no estágio 4, quando já há a presença de metástases em outros órgãos, a chance de cura dificilmente chega a 10%.
 
Empresária e agitadora cultural, Gislaine Gonçalves, de 44 anos, enfrentou um câncer de mama há 13 anos. À época, estava amamentando a filha caçula e percebeu um caroço na mama esquerda ao tomar banho.

O diagnóstico veio depois que outro caroço apareceu na axila. Era um tumor maligno e agressivo, que já se espalhava pelos linfonodos da axila. Foi preciso retirar toda a mama, depois reconstruída e, entre radioterapia, quimioterapia e imunoterapia, o tratamento durou um ano e meio.
 
Gislaine não tem histórico de câncer na família, sempre praticou atividades físicas, não bebe e não fuma. Quando a doença apareceu, vivenciava um momento complicado, depois da perda dos pais no intervalo de uma semana.

"Estava tão anestesiada com essas outras coisas da vida, que encarei o câncer sem desespero, sem pânico, sem tristeza. Mas me preparei para morrer", lembra. O grande motivo para se manter de pé foi o receio de que suas duas filhas também perdessem a mãe. "Agora, tenho uma noção melhor sobre a gravidade do que passei", diz Gislaine que, curada, comemorou pulando de paraquedas.

Alta incidência


O câncer de intestino é o segundo tumor mais frequente na população brasileira, informa a coloproctologista do corpo clínico do Biocor Instituto Luciana Pyramo. Segundo o INCA, a estimativa para 2020 é do aparecimento de 40.990 novos casos, e o número estimado de mortes é de 19.603.

"A incidência e mortalidade do câncer colorretal aumenta de modo exponencial com a idade, independentemente do sexo. Cerca de 90% dos diagnósticos são feitos em pessoas acima de 50 anos."
 
Oncologista gastrointestinal do Grupo Oncoclínicas, Alexandre Jácome lembra que a incidência do câncer de intestino tem relação íntima com o índice de desenvolvimento humano (IDH) de um país ou região, o que reforça a influência dos hábitos de vida no surgimento da doença. "Países com elevado IDH geralmente apresentam altos índices da doença, enquanto países mais pobres apresentam menores taxas."
 
Ainda que diversas síndromes genéticas predispõem uma pessoa saudável a desenvolver o câncer de intestino, em cerca de 90% a 95% dos pacientes a hereditariedade não influencia diretamente na ocorrência do problema. "Com exceção dos casos da doença causados por erros genéticos herdados dos pais, a maioria dos casos não apresenta uma causa específica identificável", afirma.
 

Rastreamento precoce

 
O câncer de próstata é o segundo tipo mais frequente em homens, perdendo apenas para o câncer de pele (não melanoma). No Brasil, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), são diagnosticados 68 mil casos novos por ano de homens com essa neoplasia. 

A cada 40 minutos é registrada uma morte pela doença. Neste cenário, o diagnóstico precoce é fundamental, uma vez que, descoberto em fase inicial, o paciente tem cerca de 90% de chance de cura.
 
Justamente por isso, o urologista e coordenador da urologia do corpo clínico do Biocor Instituto, Daniel Xavier, destaca a importância do rastreamento precoce para um tratamento eficaz.

“Nas fases avançadas, com metástases a distância, infelizmente as chances de cura são mínimas, havendo apenas abordagens paliativas.” Ele destaca que, em todo o mundo, a partir da década de 1990, momento em que o exame de sangue com a dosagem do PSA passou a ser feito de forma rotineira, ocorreu uma queda significativa na mortalidade.
 
O urologista Fernando Marsicano alerta que, apesar do câncer de próstata ser tratável, o risco que acometa outros órgãos, tornando as células saudáveis doentes, é grande(foto: Arquivo Pessoal)
O urologista Fernando Marsicano alerta que, apesar do câncer de próstata ser tratável, o risco que acometa outros órgãos, tornando as células saudáveis doentes, é grande (foto: Arquivo Pessoal)
Segundo Fernando Marsicano, médico urologista especializado em cirurgia oncológica, membro da Comissão Municipal de Oncologia de Belo Horizonte (MG), apesar de ser esse um câncer tratável e que se desenvolve lentamente, o risco de que ele acometa outros órgãos, tornando as células saudáveis doentes, é grande.

“As mutações que ocorrem nas células do corpo do paciente com câncer de próstata modificam o DNA e fazem com que as células cresçam de forma descontrolada, se espalhando pelo corpo.”


Exames preventivos



Herman Barbosa, coordenador do serviço de urologia do Hospital Madre Teresa, explica que, tendo em vista a maior incidência do câncer de próstata em pessoas com mais de 50 anos, os exames preventivos precisam ser realizados por esse público anualmente.

O mesmo ocorre com pacientes acima de 45 anos com casos na família, como pai e/ou irmãos. Isso porque o histórico familiar induz risco aumentado para a doença.

“O mesmo é recomendado para os indivíduos afrodescendentes e para os obesos, os quais têm, também, maior incidência do tumor”, diz.

O aposentado e, agora, empresário Rube Rocha, de 66 anos, seguia essa recomendação à risca. Ele conta que desde os 40 fazia o rastreamento anual, com exames de rotina e acompanhamento médico.

“Em 2015, comecei a apresentar alterações e meu PSA oscilava. Em dezembro de 2018, fiz uma biópsia e foi constatado o câncer de baixa agressividade.” Em fevereiro de 2020, ele fez outra biópsia, que constatou um segundo ponto. “Em março deste ano passei pela cirurgia robótica. Agora, levo uma vida normal”, diz.
 
Herman Barbosa destaca que o câncer de próstata, no estágio inicial, não apresenta sintomas, sendo considerado uma doença totalmente silenciosa, o que, para ele, se coloca como mais uma justificativa pertinente à necessidade de manter os exames preventivos em dia.
 
O psicólogo social, sanitarista e articulador público para a segurança pública municipal José Francisco da Silva, de 71, mesmo sem sintomas iniciais, recebeu o diagnóstico de câncer de próstata em 2016.

“Fazia acompanhamento médico desde 38 anos. Meu clínico geral me recomendou um urologista e não tive receio. Fiz o rastreamento e quando descobri a doença, ela ainda estava no estágio inicial.” Porém, no fim de 2019, relata que passou a ter retenções líquidas. “No início deste ano, optamos pela cirurgia para a retirada da próstata.” O procedimento, segundo José Francisco, foi um sucesso.

 

A prevenção do câncer está estruturada em


– Conscientização populacional e mudança de hábitos e comportamentos

– Rastreamento do câncer e de 
    lesões precursoras

– Tratamento rápido e acessível a todos

A prevenção primária inclui mudanças de hábitos alimentares e hábitos de vida


– praticar atividade física regularmente

– não fumar

– manter peso adequado para a altura

– não consumir bebida alcoólica

– evitar carnes processadas

– reduzir o consumo de carne vermelha

– ter alimentação variada e rica 
    em fibras (verduras, frutas frescas e   
    cereais integrais)

– beber pelo menos dois 
    litros de água por dia.

Fonte: Luciana Pyramo, coloproctologista do corpo clínico 
do Biocor Instituto


Fatores de risco para câncer


– Envelhecimento

– Estilo de vida: tabagismo, etilismo, obesidade e sedentarismo, sendo o hábito de fumar o principal fator de risco: responde pela maioria dos tipos de câncer, como pulmão, cabeça e pescoço, e bexiga, entre outros

– Doenças sexualmente transmissíveis: a infecção pelo HPV, um vírus sexualmente transmissível, é responsável pelo surgimento de câncer de colo uterino, canal anal e orofaringe 

*Estagiária sob supervisão da editora Teresa Caram


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