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Estado de Minas CHECAMOS

Checamos as novas declarações de Bolsonaro sobre a covid-19, a hidroxicloroquina e seu governo

Declarações foram feitas em coletiva em 11 de dezembro


12/12/2021 19:39 - atualizado 13/12/2021 08:14

Em coletiva de imprensa realizada em 11 de dezembro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro voltou a abordar temas relacionados à pandemia e ao seu governo.

Entre eles, falou sobre o uso da hidroxicloroquina para tratar a covid-19, a eficácia e negociação das vacinas e afirmou que, na ocasião em que associou o esquema vacinal completo contra a doença com o desenvolvimento da aids, se baseou em um artigo publicado pela revista Exame. O AFP Checamos analisou as declarações do presidente.

Vacinação e infecções

Em resposta à pergunta de uma jornalista sobre a quarentena de estrangeiros, Bolsonaro indagou:

“Pessoal vacinado contrai o vírus? Responda pra mim. Sim, né? Transmite o vírus? É sempre essa historinha, então o cara contaminado não procura o médico, com todo o respeito, porque você está repetindo isso. O que eu recomendo, conversando com autoridades sanitárias, é que qualquer cidadão contaminado, vacinado ou não, procure seu médico”: Checamos

É verdade que vacinados contra a covid-19 podem se contaminar e transmitir o vírus, pois nenhuma das vacinas aplicadas no mundo tem 100% de eficácia. Contudo, como destacado em dados e por especialistas consultados pelo AFP Checamos em verificações anteriores (1, 2, 3), a vacinação é parte de uma estratégia de saúde pública de salvar vidas.

No Brasil, onde mais de 134 milhões de pessoas haviam completado o esquema vacinal de duas doses ou dose única até 9 de dezembro de 2021, o número de óbitos diários, de casos e de hospitalizações segue diminuindo (1, 2, 3, 4).

De acordo com Alexandre Naime, chefe do departamento de Infectologia da Unesp e consultor para covid-19 da Sociedade Brasileira de Infectologia e da Associação Médica Brasileira, isso se deve justamente à vacinação em massa: “Não há a menor dúvida. [Foi] A única variável que se associou à redução de óbitos e internações no Brasil, e também de casos. Nossa média móvel de casos nunca esteve tão baixa”.

Uma publicação do Our World in Data que analisa a taxa de mortalidade de covid-19 defende que esta é “uma métrica-chave” que pode evidenciar “com precisão” o quanto as vacinas são eficazes contra as formas graves da doença.

Segundo dados disponíveis na página, nos Estados Unidos, em 2 de outubro de 2021, a taxa de mortalidade era de 7,29 para os não vacinados contra 0,55 dos vacinados. No Reino Unido, a cifra foi de 5,40 para não vacinados e 1,1 para vacinados em 24 de setembro de 2021. Já no Chile, o número registrado em 20 de novembro passado foi de 2,48 para não vacinados ou sem o esquema vacinal completo contra 0,53 dos imunizados e 0,02 dos vacinados que tomaram a dose de reforço.

Presidente Jair Bolsonaro segura uma caixa de hidroxicloroquina
Presidente Jair Bolsonaro segura uma caixa de hidroxicloroquina durante a cerimônia do general Eduardo Pazuello como Ministro da Saúde, em 16 de setembro de 2020 ( AFP / Sergio Lima)

Hidroxicloroquina
“Devemos respeitar a autonomia do médico, isso que eu sempre falei e fui duramente atacado. Tomei hidroxicloroquina e se me contaminar de novo tomo outra vez. Me senti bem no dia seguinte, não só eu: milhares de pessoas fizeram a mesma coisa. Cadê o remédio? Por que tanta preocupação apenas com a vacina?”: Checamos

O posicionamento em defesa do chamado tratamento precoce, que inclui medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina e ivermectina, tem sido frequente por parte de Bolsonaro ao longo da pandemia (1, 2, 3).

No entanto, esses medicamentos não têm eficácia comprovada no tratamento da covid-19 e não são recomendados para pacientes com a doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nem por agências reguladoras ao redor do mundo.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou ao Checamos em 12 de dezembro de 2021 que a hidroxicloroquina teve autorização para a condução de estudos clínicos para a covid-19, que foram interrompidos por não comprovarem a eficácia da droga. A agência reguladora disse ainda que “esse medicamento não tem indicação em bula” para a covid-19, e que portanto “não está autorizado” para a doença.

Quando a procura pela hidroxicloroquina e pela cloroquina aumentou, em março de 2020, a Anvisa dificultou a sua compra, disse ao Checamos. Assim, os medicamentos foram enquadrados como produtos controlados (1, 2, 3). Com a diminuição da demanda, a regulamentação dos remédios mudou: eles deixaram de ter controle especial e passaram a ter a receita retida na farmácia - modelo que ainda é mais restrito do que o anterior à pandemia, informou a agência reguladora.

A OMS explicou, em um comunicado divulgado em 31 de abril de 2021, que não recomenda o uso da droga para tratar a covid-19 com base em 30 estudos com mais de 10 mil pacientes. “A hidroxicloroquina não reduziu a mortalidade, a necessidade ou a duração de ventilação mecânica. Usar hidroxicloroquina para tratar a covid-19 pode aumentar o risco de arritmia cardíaca, distúrbios sanguíneos e linfáticos, lesão no rim, problemas no fígado e falência dos órgãos”.

De maneira semelhante, a Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos (EMA) destacou que a hidroxicloroquina e a cloroquina não mostraram efeitos benéficos no tratamento da doença, além de poderem causar alguns efeitos colaterais, incluindo problemas cardíacos.

Já a Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) dos Estados Unidos revogou, em 15 de junho de 2020, a autorização do uso de emergência da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento da covid-19, alertando para possíveis efeitos colaterais.

No mesmo país, os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH) fizeram uma recomendação contrária ao uso da droga em sua página dedicada à prevenção da infecção pelo SARS-CoV-2, atualizada em 19 de outubro de 2021.

A AFP já checou diversas alegações sobre o uso da cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid-19 (1, 2, 3, 4).

Vacinas e negociações

“Nós disponibilizamos quase 400 milhões de doses de vacinas, e foram compradas a partir do momento em que foram disponibilizadas. Então mente descaradamente quem fala que o governo não comprou a vacina ano passado. Ano passado não tinha uma só dose à venda. A primeira dose foi aplicada no início de dezembro no Reino Unido. Nós, por volta de 40 a 50 dias depois, começamos a aplicar a primeira dose aqui”: Falso


Ao contrário do que afirmou o presidente, não só havia doses disponíveis à venda, como elas começaram a ser distribuídas no mundo. De acordo com dados do Our World in Data, até 31 de dezembro de 2020, mais de 5 milhões de doses foram aplicadas apenas nos Estados Unidos.

Países vizinhos como Argentina, Chile e México estavam à frente do Brasil no início da vacinação, tendo administrado, respectivamente, cerca de 32 mil, 9 mil e 25 mil doses até o fim de 2020.

Tampouco é verdade que as doses de vacina contra a covid-19 foram compradas só quando disponibilizadas, em 2021. O presidente regional da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou em testemunho à CPI da covid-19 em 13 de maio de 2021 que os primeiros contatos da empresa com o governo brasileiro para apresentação de sua vacina aconteceram entre maio e junho de 2020.

A primeira oferta oficial ao Ministério da Saúde foi feita em 14 de agosto de 2020, declarou Murillo. Ela dava duas possibilidades: 30 ou 70 milhões de doses, ambas com a entrega de 500 mil doses ainda em 2020.

De acordo com o depoimento, na segunda oferta, em 18 de agosto de 2020, e na terceira, em 26 de agosto, também foram propostos 30 e 70 milhões de doses, mas com uma nova proposta: 1,5 milhão de doses para serem entregues em 2020.

“Nossa oferta de 26 de agosto tinha uma validade de 15 dias. Passados os 15 dias, o governo brasileiro não rejeitou, tampouco aceitou a oferta”, disse o presidente regional da Pfizer na CPI.

Este material publicado pela Agência Senado detalha, com base no depoimento de Murillo, o cronograma de ofertas de vacinas da Pfizer ao Brasil.
Senador Omar Aziz (E) e senador Renan Calheiros
Senador Omar Aziz (E) e senador Renan Calheiros, respectivamente presidente e relator da CPI da covid-19 durante uma sessão em Brasília, em 18 de maio de 2021 ( AFP / Evaristo Sa)

Vacinas e aids

No final da coletiva de imprensa, uma jornalista questionou Bolsonaro sobre a fonte da informação que o levou a associar a vacina contra a covid-19 com a aids. O presidente disse:

“Publicação da revista Exame. Não fui eu que inventei isso aí, eu li aquilo: ‘olha aqui uma informação da revista Exame’. Dois dias depois a Exame tirou aquela matéria do ar. Eu li apenas a manchete da matéria, tá ok? Só isso”: Falso

Em transmissão ao vivo realizada em 21 de outubro de 2021, Bolsonaro disse: “Outra coisa grave aqui, só vou dar a notícia, não vou comentar. (...) Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados - quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose, 15 dias depois, 15 dias após a segunda dose - estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido que o previsto”. Essa alegação é falsa, informaram autoridades de saúde britânicas à AFP.

Uma análise feita pelo Checamos de trechos do momento em que o presidente lê o texto que associa a imunização contra o novo coronavírus à possibilidade de “desenvolver” aids permitiu identificar a fonte usada pelo presidente: o site Before it’s news.

Datado de 15 de outubro de 2021, o artigo é intitulado, em tradução livre do inglês: “Uma comparação de relatórios oficiais do governo sugere que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a Síndrome de Imunodeficiência Adquirida muito mais rapidamente do que o previsto”. Além desse texto, o Checamos encontrou outros três artigos do mesmo site que relacionam a imunização contra a covid-19 e o “desenvolvimento” de aids (1, 2, 3).

Mas a matéria da Exame viralizada por usuários nas redes sociais, intitulada “Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV”, não menciona qualquer relatório oficial do governo do Reino Unido e foi publicada em outubro de 2020, quando a vacinação massiva contra a covid-19 nem sequer havia começado.

Após a repercussão do assunto, a Exame acrescentou a data de publicação ao título e o alterou. O artigo, que continua disponível online, ao contrário do que afirmou o presidente, agora é intitulado “Out/2020: Algumas vacinas contra a covid-19 podem aumentar o risco de HIV?”.

Em 27 de outubro, a revista publicou novo texto, dando detalhes sobre o estudo citado no artigo de outubro de 2020, alegando que o “tema virou polêmica” após live de Bolsonaro.

Esta verificação foi realizada com base em informações científicas e oficiais sobre o novo coronavírus disponíveis na data desta publicação.


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