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Estado de Minas CHECAMOS

Desmatamento, pandemia, 7 de setembro: checamos falas de Bolsonaro perante a ONU

Bolsonaro considerou que falou "verdades que desesperam". Mas nós fomos checar a veracidade de certas afirmações do presidente e...


21/09/2021 22:25 - atualizado 22/09/2021 09:27

O presidente Jair Bolsonaro fez o discurso de abertura da 76ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, em 21 de setembro de 2021. Entre os temas abordados, comemorou uma suposta redução no desmatamento da floresta amazônica, enalteceu a porcentagem do território brasileiro destinada a terras indígenas e defendeu as ações tomadas por seu governo para combater a pandemia de covid-19. Abaixo, o AFP Checamos analisou algumas de suas principais declarações.

“Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior”: Verdadeiro, mas...


O sistema Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou em agosto de 2021 918 km² de área desmatada, o que representa uma queda de 32,45% com relação ao mesmo período de 2020, quando a cifra foi de 1.359 km².

No entanto, os números de desmatamento registrados em agosto de 2021 no sistema Deter seguem maiores do que em agosto de 2018, antes do início do governo do presidente Bolsonaro, quando foram computados 525,9 km² de área desmatada. Nesse sentido, o número registrado em agosto de 2021 é 74,5% maior do que o do mesmo mês em 2018.

Já um outro sistema de monitoramento via satélite da região, o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), aponta um cenário contrário para agosto de 2021.

De acordo com o SAD, que usa uma metodologia diferente do Deter. foi registrada uma área desmatada 7% superior à de 2020 em comparação com agosto de 2021. Ainda segundo o Imazon, o desmatamento acumulado de janeiro a agosto de 2021 é o pior em dez anos para a Amazônia.

O instituto destaca também que, somente em agosto de 2021, foi desmatada uma área equivalente a cinco vezes o tamanho de Belo Horizonte.

“14% do território nacional, ou seja, mais de 110 milhões de hectares, uma área equivalente a Alemanha e França juntas, é destinada às reservas indígenas”: Impreciso


De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), “atualmente existem 488 terras indígenas regularizadas que representam cerca de 12,2% do território nacional, localizadas em todos os biomas, com concentração na Amazônia Legal”. A porcentagem é ligeiramente inferior à citada por Bolsonaro.

Apesar de ter ressaltado as demarcações de terras indígenas em seu discurso na Assembleia Geral da ONU, o presidente classificou esse mesmo percentual como “abusivo”, em uma cerimônia no Palácio do Planalto em 11 de fevereiro de 2020.

“Deixo bem claro que ninguém é contra dar devida proteção e terra aos nossos irmãos índios, mas da forma como foi feita, e hoje em dia reflete quatorze por cento do Território Nacional demarcado por terra indígena, é um tanto quanto abusivo”, afirmou o mandatário.
Manifestantes indígenas durante uma manifestação antes de o Supremo Tribunal Federal decidir sobre o Marco Temporal, que poderia tirar suas terras ancestrais, em Brasília, em 10 de setembro de 2021 ( AFP / Carl de Souza)
Manifestantes indígenas durante uma manifestação antes de o Supremo Tribunal Federal decidir sobre o Marco Temporal, que poderia tirar suas terras ancestrais, em Brasília, em 10 de setembro de 2021 ( AFP / Carl de Souza)

“Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade”: Enganoso


Não foi a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro fez essa declaração. Em um pronunciamento que foi ao ar em 23 de março de 2021 ele já tinha afirmado: “Em nenhum momento o governo deixou de tomar medidas importantes tanto para combater o coronavírus, como para combater o caos na economia”.

No entanto, seu histórico de declarações sobre a pandemia de covid-19 contraria essas afirmações.

No início da emergência sanitária no Brasil, quando o país registrou a primeira morte por covid-19, em 17 de março de 2020, Bolsonaro afirmou ver “alguma histeria” em medidas implementadas pelos estados (1, 2) para reduzir a circulação do SARS-CoV-2, como o fechamento de estabelecimentos comerciais.

Em um pronunciamento à população dias depois, em 24 de março de 2020, quando o Brasil registrava 46 óbitos e mais de 2.200 casos confirmados, o presidente se referiu à doença como uma “gripezinha”. No mesmo mês, provocou pequenas aglomerações %u23BC já desencorajadas , inclusive pelo então ministro da Saúde Henrique Mandetta %u23BC ao realizar passeios em Brasília (1, 2). Na mesma época, o presidente disse que o vírus precisaria ser enfrentado, masnão como um moleque.

Em 30 de março de 2020, Bolsonaro demonstrou preocupação com as consequências econômicas da pandemia, como os possíveis empregos que seriam perdidos com as medidas de isolamento impostas em diversos estados. “Tem vacina? Não. Tem remédio? Comprovadamente ainda não. Mas temos um outro problema: o desemprego. E tem que ser tratado com igual responsabilidade. O vírus e a questão do desemprego”, disse ele.

No entanto, logo depois, em 12 de abril, o mandatário minimizou novamente a pandemia, assinalando que o vírus parecia estar “começando a ir embora”, sem citar qualquer dado. Naquele momento, o Brasil registrava 22 mil casos e mais de 1.200 mortes. Hoje, são mais de 21 milhões de casos e de 590 mil óbitos.

“No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo”: Sem provas


Não foi feita uma estimativa nacional do número de participantes das manifestações a favor do governo no último 7 de setembro. No entanto, a estimativa oficial do público que participou do ato em São Paulo, maior cidade do país, vai de encontro a essa alegação.

Segundo informado pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), cerca de 125 mil pessoas se reuniram na Avenida Paulista na manifestação a favor do governo Bolsonaro em 7 de setembro de 2021.

Mas em 13 de março de 2016, por exemplo, o mesmo órgão calculou que cerca de 1,4 milhão de pessoas saíram às ruas para protestar pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

“Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina. Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. (...) Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”: Checamos


O presidente Bolsonaro (1, 2, 3) tem se pronunciado frequentemente a favor do chamado tratamento precoce, que inclui medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina e ivermectina.

Procurado pela AFP em 21 de setembro de 2021, o Conselho Federal de Medicina informou que entende que o médico e o paciente, mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, têm autonomia, de forma conjunta, para decidirem qual a melhor opção terapêutica para tratar os casos diagnosticados, o que consta no Parecer nº 04/2020 do órgão.

“Ou seja, o médico pode ou não prescrever medicamentos que considerar necessários e, por sua vez, o paciente pode acatar ou não o que foi prescrito”, explicou o CFM, acrescentando que o conselho tem incentivado e apoiado ações como distanciamento seguro entre as pessoas, o uso de máscaras e o reforço à higienização.

No entanto, os medicamentos geralmente utilizados no chamado “tratamento precoce” não têm eficácia comprovada contra a covid-19 e não são recomendados para pacientes com a doença pela OMS nem por agências reguladoras de outros países.
O presidente Jair Bolsonaro mostra uma caixa de hidroxicloroquina a apoiadores do lado de fora do Palácio da Alvorada, em Brasília, em 23 de julho de 2020 ( AFP / Evaristo Sa)
O presidente Jair Bolsonaro mostra uma caixa de hidroxicloroquina a apoiadores do lado de fora do Palácio da Alvorada, em Brasília, em 23 de julho de 2020 ( AFP / Evaristo Sa)

No caso da hidroxicloroquina e da cloroquina, a OMS emitiu em dezembro de 2020 uma “forte recomendação” contra seu uso em pacientes infectados pela covid-19 com qualquer gravidade de sintomas. Já a eficácia da ivermectina não foi comprovada e as evidências científicas não permitem afirmar que o medicamento previna ou cure a doença.

De maneira semelhante, a Agência Europeia de Avaliação de Medicamentos (EMA) destaca que a hidroxicloroquina e a cloroquina não mostraram efeitos benéficos no tratamento da doença. Além disso, os medicamentos “podem causar alguns efeitos colaterais, incluindo problemas cardíacos”, diz a organização. Sobre a ivermectina, a agência europeia também não recomenda seu uso fora de ensaios clínicos randomizados.

Já a Agência de Medicamentos e Alimentos dos Estados Unidos (FDA) dos Estados Unidos revogou a autorização do uso de emergência neste país da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento da covid-19 em 15 de junho de 2020, alertando ainda para possíveis efeitos colaterais. O FDA também não recomenda o uso de ivermectina contra a covid-19 em pacientes.

A AFP já checou diversas alegações sobre o uso da cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid-19 (1, 2, 3, 4).


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