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Estado de Minas CHECAMOS

Polícia do Mato Grosso não prendeu sobrinho do ex-presidente Lula com R$ 6 milhões

Fotos usadas em postagens compartilhadas milhares de vezes em redes sociais são de casos distintos e de 2015, sem relação com o ex-presidente


14/09/2021 20:31 - atualizado 15/09/2021 08:05

Publicações que asseguram que um sobrinho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi preso na cidade de Canarana, no Mato Grosso, enquanto carregava aproximadamente R$ 6 milhões, foram compartilhadas centenas de vezes nas redes sociais ao menos desde o último dia 10 de setembro.

No entanto, as fotos que embasam a alegação são de dois casos distintos ocorridos em 2015, sem relação com o ex-mandatário. Ao AFP Checamos, a Polícia Civil do Mato Grosso negou ter prendido qualquer parente de Lula em ação semelhante à citada nas redes. 
“Manda para todo mundo que conhecer. Sobrinho de  Lula preso em Canarana/MT com aproximadamente 6 milhões de reais e disse para a Polícia que era do tio Lula e foi para comprar uma fazenda” , começa o texto compartilhado mais de 500 vezes no Facebook ( 1 , 2 , 3 ), Instagram e Twitter .

A mensagem é acompanhada por duas fotos: uma de homens sendo escoltados por agentes de segurança e outra de policiais posando ao lado de uma grande apreensão de dinheiro. “A delegacia está cercada à 200 mts pq a população ameaça invadir a delegacia, a força nacional já foi deslocada para o local para ajudar na segurança” , continua.
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2021 de uma publicação no Facebook ( . / )
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2021 de uma publicação no Facebook ( . / )

Uma busca reversa pela imagem que supostamente mostra o “sobrinho de Lula” sendo preso em Canarana leva, no entanto, a uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre a realização de exames de corpo de delito de seis presos da 11ª fase da Operação Lava Jato, em abril de 2015. 

Segundo a reportagem, estavam entre os detidos que foram encaminhados ao Instituto Médico Legal de Curitiba o ex-deputado federal André Vargas (ex-PT), seu irmão Leon Vargas, o ex-deputado Luiz Argôlo (SDD) e sua funcionária Elia Santos da Hora. Também faziam parte do grupo Ricardo Hoffmann, diretor de uma agência de publicidade, e Ivan Torres, apontado como “laranja” do também ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP). 
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2021 de uma reportagem no site do jornal Folha de S. Paulo ( . / )
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2021 de uma reportagem no site do jornal Folha de S. Paulo ( . / )

Fotos e vídeos do momento foram publicados por outros portais de notícia com a mesma descrição ( 1 , 2 , 3 ). Em nenhum dos textos é mencionado que algum dos detidos seria parente do ex-presidente Lula. 

Em 10 de abril de 2015, a Polícia Federal também divulgou uma nota sobre essa fase da Operação Lava Jato. Segundo o texto, a ação visava “apurar fatos criminosos atribuídos a três grupos de ex-agentes políticos”.  

Para isso, foram cumpridos mandados judiciais no Distrito Federal e nos estados do Paraná, da Bahia, do Ceará, de Pernambuco, do Rio de Janeiro e de São Paulo, como registrado na nota. Não é mencionado o estado do Mato Grosso, onde supostamente ocorreu a prisão citada nas publicações viralizadas. 

Uma busca reversa pela segunda foto mostra que ela também é de um caso ocorrido em 2015, dessa vez realmente na cidade de Canarana, no Mato Grosso. No entanto, o episódio também não tem relação com o ex-presidente Lula. 

A imagem foi localizada em uma reportagem do portal de notícias Terra sobre a prisão em flagrante de José Silvan de Melo, conhecido como “Abençoado”, em 5 de abril de 2015 na cidade matogrossense. Na ocasião, Melo, suspeito de tráfico, carregava mais de R$ 3,2 milhões sem origem comprovada na carroceria de uma caminhonete.

Uma busca no site da Polícia Civil do Mato Grosso leva a uma nota oficial sobre o caso, ilustrada com uma foto da mesma pilha de dinheiro vista na imagem viralizada. No texto, é relatado que o suspeito já era investigado pelo Departamento de Repressão ao Narcotráfico de Recife (PE) por tráfico internacional de drogas.

Em nenhum momento da nota é mencionado que o preso teria se identificado como sobrinho de Lula ou indicado que o dinheiro seria destinado ao ex-presidente. Na verdade, o texto registra que o suspeito “não apresentou qualquer documentação da origem do dinheiro” e que alegou ser “‘cidadão de bem’, proprietário de fazendas na região e comprador de gado”

Captura de tela feita em 14 de setembro de 2021 de uma publicação no Facebook ( . / )
Captura de tela feita em 14 de setembro de 2021 de uma publicação no Facebook ( . / )


Procurada pelo AFP Checamos no último dia 13 de setembro, a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Mato Grosso indicou que “não procedem as informações que circularam fazendo menção à suposta prisão feita pela Polícia Civil de Mato Grosso relacionada a parente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”

O órgão acrescentou que é igualmente falso que, devido à suposta prisão, “a delegacia está cercada por populares que ameaçam invadir a unidade policial”

Uma busca por palavras-chave no site oficial da Polícia Civil do MT também não localiza nenhum registro de operação do tipo. 

O órgão informou, ainda, que a foto da pilha de dinheiro apreendido em 2015 já havia circulado na época junto à mensagem de que o suspeito seria sobrinho do ex-presidente Lula, o que também é uma “notícia falsa” , assegurou. De maneira semelhante, a informação foi negada , em 2015, pelo Instituto Lula. 

Sobrinho de Lula 


Em 2016, um sobrinho de Lula foi efetivamente indiciado por suspeita de corrupção em um caso envolvendo o ex-mandatário. Lula foi acusado de ter ajudado a empresa  Exergia, da qual seu sobrinho Taiguara Rodrigues era sócio, a conseguir contratos de até R$ 20 milhões com a construtora Odebrecht em Angola. 

No entanto, em 2020 as ações contra Rodrigues e Lula foram arquivadas por falta de elementos para embasar uma ação penal. 

Conteúdo semelhante a este também foi verificado pelos sites Aos Fatos , Agência Lupa e Boatos.org


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