
“Aí galera, ó, a ptezada pira. Presta atenção, você clica aqui e faz a seguinte pergunta: pesquisa em tempo real para presidente. Aí voce vem aqui, isso é uma pesquisa do Google, é enquete do Google, vigia. Olha aí, ó: vamos ver se vai aparecer quantos mil votantes já. Olha aí, 2.444.892 votantes. Aí quem quer votar igual eu, ó: aí você vem aqui. O meu presidente é o número 5, Bolsonaro”, diz o vídeo, compartilhado no Facebook, no Twitter (1, 2, 3) e no YouTube.
A orientação para participar da enquete continua: “Aí você vem aqui e digita no 5, vai aparecer a carinha do incrível Hulk, aí você clica em confirmar, pronto, aí você digita o DDD do seu número. Pronto, meu rei, já está votado, e aí sim. E aí sobe, vai subindo. 2.444.990 votos. E a ptezada pira, olha aí galera, olha o homem. Coisa linda, isso é pesquisa de verdade”.
Alegações similares, mostrando capturas de tela do site Enquetes ao Vivo, também circularam no Twitter (1, 2, 3), no Instagram e no Facebook.
Apesar disso, as publicações compartilhadas alegam se tratar de uma “pesquisa em tempo real para presidente”, fazendo crer que a votação divulgada é uma “pesquisa de verdade”.
Glauco Peres, professor de ciência política e coordenador do Grupo de Estudos Eleitorais do Núcleo de Estudos Comparados e Internacionais da Universidade de São Paulo (NECI-USP), explicou ao Checamos que “para uma pesquisa ser válida, todos os cidadãos devem ter chance de serem escolhidos na amostra. Se não têm, ela não é válida, não é representativa”.
Já uma enquete, como a que circula nas redes sociais, caracteriza-se como o “levantamento de opinião sem plano amostral, que depende da participação espontânea do interessado e que não utiliza método científico para a sua realização”, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Claramente um segmento da população, uma parcela das pessoas, não tem chance de ser ouvida. Isso não tem validade, porque é uma amostra viesada, como a gente chama”, acrescentou Peres.
A amostra, utilizada como método nas pesquisas eleitorais, é um grupo de pessoas cujas características como idade, sexo, escolaridade, distribuição regional, traduzem o conjunto do total de eleitores, explica o instituto de pesquisas Datafolha.
Quantidade de votos
Segundo Peres, o fato de a enquete dizer já ter computado mais de cinco milhões de votos não influencia na confiabilidade da pesquisa, pois esse número não representa, necessariamente, o total de 147 milhões de eleitores aptos a votar no Brasil.Além disso, “não sabemos se é possível votar várias vezes”, diz o professor.
A equipe do AFP Checamos fez esse teste e conseguiu votar mais de uma vez, tanto repetindo o candidato, quanto votando em candidatos diferentes. Após a seleção, a página pede que “digite o DDD do seu Estado”, o que facilitaria a visualização da votação por localidades. O Checamos conseguiu preencher o campo diversas vezes, com códigos de estados de todas as regiões do Brasil, e também repetindo o código de um mesmo estado.
Votação “em tempo real”
As publicações viralizadas destacam o fato de a votação ocorrer “em tempo real”. Mas Peres afirmou que “não importa se é ao vivo, isso não altera a discussão”.
O especialista apontou que esse fator pode, inclusive, tornar a enquete ainda menos confiável: “Quem está online e disponível a responder esse tipo de enquete com maior chance, com maior possibilidade? É isso que a gente tem que pensar. Eu não consigo dizer a priori quem são nem o que pensam. Eu não estou dizendo que é bolsonarista, que é petista… Eu não sei. Eu só estou dizendo que isso não é representativo da população - alguém que fica online olhando para uma enquete assim, podendo responder esse tipo de questão. Para quem chegam essas perguntas?”, indagou o professor.
Ele destacou que é preciso atentar-se à forma como as pessoas são ouvidas. “A maneira como um instituto [de pesquisa] chega até as pessoas é o que faz uma pesquisa eleitoral ser válida, porque tem essa preocupação e tem técnicas, métodos de fazer, de abordar as pessoas”. Em uma pesquisa eleitoral, “todo mundo potencialmente pode ser ouvido, todo mundo pode ser selecionado no começo do processo, isso é o que torna a pesquisa válida”.
Pesquisas recentes
Até o dia 8 de setembro de 2021, o site de enquetes mostrava o presidente Jair Bolsonaro na liderança, com 53,68% dos votos, seguido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 15,11%.
As pesquisas eleitorais realizadas de junho a setembro por institutos como Datafolha, Ipec e Quaest/Genial Investimentos, contudo, mostram um cenário distinto, com Lula liderando a corrida eleitoral para 2022.
Essa última, divulgada em setembro de 2021, mostra Lula com 23% dos votos na intenção espontânea, quando os candidatos não são apresentados ao eleitor, e Bolsonaro com 15%. Já no cenário estimulado, quando os candidatos à Presidência são apresentados, o petista aparece com 47% dos votos, contra 26% do atual presidente no primeiro turno, e com 55% contra 30% de Bolsonaro no segundo turno.
O Checamos entrou em contato com o site Eleições ao Vivo, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.
