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Estado de Minas ÚLTIMO DIA

Aeroporto Carlos Prates, em BH, fecha de maneira melancólica

No último dia de funcionamento, clima era de tristeza e indignação; usuários retiraram parte dos maquinários, mas afirmaram não ser possível esvaziar hangares


31/03/2023 20:16 - atualizado 31/03/2023 20:16

Na foto, avião é preparado para deixar aeroporto
Diversos aviões deixaram o Aeroporto Carlos Prates nesta sexta-feira (31/3), mas, sem definição de para onde ir, muitos outros continuaram no local (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Tristeza, preocupação, desânimo e incertezas marcaram o último dia de funcionamento do Aeroporto Carlos Prates, localizado no bairro de mesmo nome, na Região Noroeste de Belo Horizonte. A partir deste sábado (1/4), por determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em documento assinado no dia 16 de dezembro de 2022, o local não vai funcionar mais. 

Assim, as empresas que atuam no local, entre elas, escolas de pilotagem e oficinas de manutenção de aeronaves, terão suas atividades paralisadas, assim como os pousos e decolagens de aviões e helicópteros.

Entre os usuários do aeroporto, o clima era de desolação e questionamentos. Caroline Velásquez, 38 anos, diretora e sócia proprietária da VelAir, escola de aviação civil, relatou o clima de tristeza e afirmou que uma pequena parte dos aviões do Aeroporto Carlos Prates irá encher o aeródromo de Pará de Minas. Segundo ela, o da Pampulha já está fechado para novas aeronaves. “Coração muito apertado, todo mundo preocupado, sem saber o que vai fazer. Dívidas, contas para pagar, de alunos e nossas. Foi um prazo muito curto, inviável para todos nós”.

Caroline contou que com a impossibilidade de esvaziar os locais, há um temor de que aconteçam furtos de maquinário. Segundo ela, nenhum dos usuários sabe o que fazer em relação ao problema. “A preocupação é gigante e o medo de invasões também. Não foi possível tirar muitas coisas, ferramentas, peças, todo o administrativo. Estamos sem saber, não temos notícias. Estamos esperando alguma resposta de alguém”.

Cláudio Jorge da Silva, de 56 anos, é proprietário da Claro Aviação, empresa de Manutenção e Hangaragem de Aeronaves. Segundo ele, o momento é de tensão, pois cerca de 500 funcionários perderão o emprego e as empresas não têm para onde ir. “Está impactando mais de 2 mil pessoas, se contarmos as famílias dos funcionários, sem falar nos empregos indiretos que são gerados, restaurantes da região, motoboys. Nesse tipo de trabalho você não sai de um emprego e entra em outro, porque não tem”.

O empresário disse, ainda, que a associação Voa Prates está em contato com autoridades para buscar um adiamento do fechamento, mas que no momento só podem aguardar. “Nós não somos contra fechar o Prates. Nós somos contra fechar sem ter uma alternativa, que é um aeroporto na Grande BH. Aí nós saímos daqui e vamos para lá, mas o argumento que aqui é um lugar perigoso não se sustenta. Todas as estatísticas mostram o contrário. É tudo vontade política”.
 
Na foto, Cláudio Jorge da Silva está sentado sobre material encaixotado, pronto para ser retirado do aeroporto
Cláudio Jorge da Silva senta sobre material encaixotado, pronto para ser retirado do aeroporto (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 
 

Funcionários temem futuro

Com expressões cabisbaixas, funcionários do aeroporto dividiam suas atividades entre fazer manutenções nas aeronaves e guardas peças que seriam levadas para outros locais. Rafael Paranhos, de 29 anos, é auxiliar de manutenção de aeronaves e teme não conseguir se reinserir no mercado de trabalho após o fechamento do Aeroporto Carlos Prates. “Eu estou iniciando agora minha carreira e com o aeroporto e minha empresa fechando, eu vou perder meu emprego, o que vai interromper minha carreira. Eu peço para olharem para a parte tecnológica do aeroporto. Quando fecha o Prates, encerra áreas tecnológicas avançadas. São áreas muito específicas e técnicas”.

Marcos dos Santos, 47 anos, trabalha como técnico em pintura de aeronaves. Com um filho que passa por problemas de saúde em casa, o profissional relatou muita preocupação e sentimento de desamparo em relação ao futuro de sua família. “Muita tristeza. Não sei o que vou fazer mais. Estou, praticamente, saindo da aviação. Estamos esperando dar 17h para largar serviços, sem saber o que vamos fazer na segunda-feira”.
 
Na foto, funcionários enchem porta-mala de carro com material do aeroporto Carlos Prates
Funcionários encheram porta-malas de carros com materiais do Aeroporto Carlos Prates (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 
 

Prorrogação

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, esteve em Brasília, na última quarta-feira (29/3), para tentar negociar uma prorrogação do prazo para a retirada do material das empresas em seis meses. Apesar disso, o Governo Federal manteve o plano de desmobilização. Em nota, o Governo do Estado comentou o caso.

“Apesar dos esforços empreendidos, o Governo de Minas respeita a decisão do Governo Federal de manter o plano de desmobilização e se coloca à disposição da Prefeitura de Belo Horizonte e dos cidadãos para contribuir no processo de desmonte, observando as limitações legais”, disse o Governo do Estado.

De acordo com a administração estadual, “o pedido levou em conta a complexidade da operação, que envolve diferentes atores atuantes no aeroporto, bem como a necessidade de um adequado planejamento para minimizar os impactos sociais, incluindo possíveis perdas de empregos e a não execução de serviços já contratados”. A ideia era, segundo o Governo de Minas, “realizar e implementar um planejamento a respeito do aeródromo de maneira mais adequada, organizada e segura e com tempo hábil para reorganização de todos os envolvidos”.

Caroline Velásquez confirmou que nenhuma informação em relação a um adiamento foi repassada aos usuários. “A prorrogação não aconteceu, até o momento. Estamos aguardando. Temos feito algumas tentativas com autoridades, mas não tivemos retorno neste prazo tão curto. Estamos esperando algo acontecer, mas não sabemos de onde, nem de quem”.

O que dizem os moradores

Vinícius dos Santos, de 30 anos, morador do Bairro Jardim Montanhês, na Região Noroeste de Belo Horizonte, afirmou que o fechamento do Aeroporto Carlos Prates trará mais segurança à população. “Não fica uma data boa sem cair um avião. Passa um tempo, vai e cai outro. O medo de todo mundo é que chegue um dia que o avião caia em cima de um na rua”.

Maria de Lourdes Pinto, de 66 anos, também moradora do Jardim Montanhês, comemorou a saída do aeroporto. “O que eu já vi de avião caindo aqui, meu Deus do céu. Tem dia que nem televisão dá para assistir por causa do barulho, muito cedo já começa as decolagens. A gente tem que ser firme, mas fico com medo”.
 
Na foto, Maria de Lourdes Pinto, moradora do bairro Jardim Montanhês
Maria de Lourdes relatou já ter visto diversos acidentes de avião durante os 56 anos em que vive no bairro (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 

Marta Rodrigues, por sua vez, também moradora da região do aeroporto, afirma que é contra o fechamento por causa do desemprego que será causado em decorrência da desativação dos serviços. “Esse negócio de cair são acidentes, igual tem de carro. Eu só não concordo porque os funcionários do aeroporto vão trabalhar onde? São 500 pessoas empregadas”.

Aeroporto da Pampulha

Um lugar bastante citado para ser destino das aeronaves é o Aeroporto da Pampulha, na região de mesmo nome, em Belo Horizonte. Apesar da sugestão de local, a solução não é tão fácil. De acordo com a Voa Prates, a Pampulha passa longe de ter a capacidade de comportar a quantidade de aeronaves provenientes do Aeroporto Carlos Prates.

Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a administração do Aeroporto da Pampulha afirmou que decisões sobre mudanças na operação do aeroporto dependem do Governo Federal e que não há mudanças no funcionamento e movimentação do local.

A reportagem do EM entrou em contato com o Ministério da Infraestrutura, Prefeitura de Belo Horizonte e com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), mas até a publicação da matéria, não havia obtido retorno.
 


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