Separar algumas peças de roupa, documentos e colocar os móveis e eletrodomésticos para cima. Essa é a realidade de quem mora na Rua B Um, às margens da Avenida Tereza Cristina, no Bairro Betânia, na Região Oeste de Belo Horizonte, já nos primeiros dias de outubro, quando começa o período chuvoso. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a previsão é que todas as regiões de Minas Gerais registrem pancadas de chuva cada vez mais frequentes durante o mês. Ontem, forte chuva de granizo provocou estragos no Sul de Minas.
Segundo o tenente-coronel Sandro Correa, da Defesa Civil de Minas Gerais, o estado está se preparando para o início do período chuvoso há cerca de três meses. Em junho, um ofício do órgão recomendou que todos os municípios fizessem reuniões de secretariado e montassem um gabinete de crise, e a entrega de cartilhas com modelos de atuações.
Por ora, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ainda não se pronunciou sobre o plano de ação contra as chuvas.
Enquanto isso, o medo das enchentes cresce entre os moradores. A atendente Diana Rosa da Silva, de 30 anos, tem três filhos e duas cachorrinhas. Ela mora na Rua B Um há dois anos e conta que o receio sobre quando a enchente vai chegar só aumenta. “A gente não dorme, começou a chuva, a gente já fica com a pulga atrás da orelha só pensando: 'Vou ter que sair agora ou depois'”, diz.
No quarteirão vizinho de Diana, Maria Aparecida Lopes, de 51, já está pronta para a possibilidade de ter que sair de casa às pressas. Acostumada com a “rotina” do período chuvoso, a faxineira, que mora às margens da Avenida Tereza Cristina há 22 anos, já separou uma mala com roupas e documentos. Ela relata que em 2020 teve a casa invadida pela água barrenta, que ainda marca a parede de seu quarto.
“Para a gente, é muito difícil porque, às vezes, começa a encher lá em cima, perto da fábrica da Vilma, e lá embaixo, no córrego do (bairro) Salgado Filho. Aí, as águas sempre se encontram aqui, e começa a marola. Eu chamo de marola, porque nunca fui ao mar, mas imagino que seja assim”, relata a faxineira.
ALAGAMENTOS
O tenente-coronel Sandro Correa explica que ainda é cedo para uma previsão do volume de chuva, mas que a tendência é que haja a mesma proporção de 2020. “É prematuro falar de previsão pluviométrica, pois a Terra é um organismo vivo, que se modifica e o clima se manifesta de diversas formas. A tendência é que seja parecida com o período anterior de 2021. Nosso grande receio é a severidade e concentração de chuvas. Por exemplo, se for 50mm em um dia é mais tranquilo. Mas 50mm em meia hora é um estrago”, diz.
De acordo com os modelos meteorológicos apresentados à Defesa Civil pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Cemig e Instituto Mineiro de Gestão de Águas, a probabilidade é que as chuvas mais severas se concentrem na Zona da Mata e regiões Central e Sul de Minas. “Mas esses modelos podem sofrer alterações, a questão meteorológica não é exata”, ressalta.
Por isso, a Defesa Civil de MG está visitando as principais regiões do estado, baseada nas ocorrências do último período chuvoso. Até ontem (3/10), municípios da Zona da Mata, Vale do Jequitinhonha, Sul de Minas e Região Metropolitana de BH já haviam sido orientados.
O comerciante Valdeci Marques de Oliveira, de 50, perdeu cerca de R$ 20 mil em mercadorias no fim de 2020, quando a enchente atingiu 1,3 metro de altura. Sem ter muito o que fazer, ele conta que quando o período chuvoso se aproxima prepara sua loja, colocando tudo acima de 1,5m. “Passou novembro, a gente já fica na espera, porque a qualquer hora que a chuva vier as coisas já estão pra cima, aí é só deixar a água descer. Não tem muito o que fazer”, afirma.
ALERTA
O Inmet publicou um alerta laranja (perigo) de tempestade, com início às 15h de ontem até as 11h de hoje. Ao todo, 373 cidades mineiras podem ser atingidas por chuvas entre 30 e 60 milímetros por hora, ventos intensos entre 60 e 100km/h e possibilidade de granizo.
Entre as regiões de Minas afetadas estão o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, Zona da Mata, Oeste, Sul/Sudoeste, parte do Noroeste, Campo das Vertentes e a Região Metropolitana de Belo Horizonte. O Sul de Goiás e a região de Ribeirão Preto, em São Paulo, também estão sob aviso.
Além disso, a Defesa Civil de Belo Horizonte emitiu um alerta para pancadas de chuva até a manhã de hoje. Segundo o órgão, há possibilidade de 20mm a 40mm de chuva, com raios e rajadas de vento em torno de 50km/h.
Os órgãos também fazem recomendações para manter a segurança no período chuvoso, dentro de casa e nas ruas. É importante evitar áreas de inundação e não trafegar em ruas sujeitas a alagamentos ou perto de córregos e ribeirões nos momentos de forte chuva. Em caso de raios, não se deve permanecer em áreas abertas nem usar equipamentos elétricos. Áreas de encostas e morros devem ter mais atenção, em caso de possíveis deslizamentos.