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Estado de Minas SAÚDE PÚBLICA

BH: casos de sífilis adquirida aumentam quase 40% no último ano

Especialista aponta que aumento pode ter influência da pandemia, mas que cenário pede atenção e reforço na prevenção e educação sexual


14/07/2022 18:01 - atualizado 14/07/2022 18:53

Teste para ISTs realizado em BH
Testes positivos na capital em 2021 superaram a marca dos 4 mil (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Os casos de sífilis adquirida em Belo Horizonte aumentaram 39,5% em 2021 em comparação com o ano anterior. Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram que os registros do primeiro semestre de 2022 apontam uma tendência de manutenção do número alto de diagnósticos. Segundo especialista ouvido pelo Estado de Minas, a realidade pode estar influenciada pela pandemia, mas isso não descarta a gravidade do cenário e a importância de discutir métodos de prevenção.

Em 2021, Belo Horizonte registrou 4.364 casos de sífilis adquirida. No ano anterior, foram 3.127. A doença é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) que pode não ter sintomas ou ainda apresentar sinais que surgem de forma intermitente, dificultando o tratamento e o diagnóstico.

Segundo o infectologista e professor emérito da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, as características específicas da manifestação da sífilis devem ser levadas em conta ao se avaliar os números registrados

“Assim como no HIV, a sífilis pode ter sintomas que surgem, somem e a pessoa acredita que houve cura. Então quando tratamos sobre o diagnóstico, ele não está necessariamente relacionado ao período de infecção. Temos aí também a interpretação de que, durante o período mais agudo da pandemia, o diagnóstico de outras doenças pode ter sido prejudicado”, aponta.

Ainda assim, o professor ressalta que o aumento do indicador deve ser tratado com a devida atenção. Ele recorda que a sífilis é transmitida da mesma maneira que outras ISTs e, portanto, onde há o contágio por uma, existe a chance de circulação de outras doenças. 

“Esse marcador é preocupante sim, mostra que as ISTS não estão controladas. Vivemos uma situação que é sabida a muito tempo sobre o aumento de infecções sexualmente transmissíveis no mundo todo e afetando, principalmente, populações chamadas mais vulneráveis. E precisamos também lembrar que a sífilis não anda sozinha, nos mesmos locais tem gonorreia, HPV, hepatite, HIV, dentre outros”, afirma.
 

De acordo com o especialista, pessoas com vida sexualmente ativa devem ficar atentos a sinais de ISTs, realizar testes e monitorar a saúde para evitar não apenas o contágio, como a disseminação das doenças. Os testes para sífilis são disponibilizados gratuitamente nos centros de saúde.

Em 2022, dados do primeiro semestre apontam uma similaridade com o mesmo período do ano passado. Até junho, foram 1.937 casos da doença, em 2021 foram 1.949. Na primeira metade de 2020 e 2019 os diagnósticos não superaram a marca de 1.700 registros.
 

Prevenção

“É muito importante tratar do tema da prevenção. Nesses casos, ela é feita pelos métodos de barreira, principalmente os preservativos. As pessoas precisam andar com o preservativo à mão, estarem preparadas porque as doenças estão aí e como estamos voltando à vida normal, após a pandemia, isso é ainda mais necessário”, avalia Dirceu Greco.

O infectologista afirma que é necessário que os métodos de prevenção estejam ao alcance da população sem estigmas e ressalta que os postos de saúde oferecem preservativos de forma gratuita. Ele cita que o número de diagnósticos precisa ser analisado também a partir dos públicos que têm, por diversas razões, menos acesso a formas de evitar as ISTs.

“Temos que fazer o recorte, como é o índice de diagnósticos de pessoas nas ruas, de pessoas encarceradas, de mulheres, que em nosso país muitas vezes não tem poder sobre a decisão de usar ou não o método de prevenção?”, questiona.

Citando os a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2009/2019, divulgada na quarta-feira (13), com dados alarmantes sobre a saúde sexual dos jovens brasileiros, Greco aponta que as escolas são espaços importantes para combater o avanço das ISTs.

“Um dos pontos em relação a essa parte dos riscos está relacionada à escola. Esse pensamento atrasado que governa o Brasil acabou com a possibilidade de falar sobre sexualidade nas escolas, perde-se aí uma oportunidade real e franca de tratar sobre o tema no momento em que se começa a descoberta e sem informação você tem vários riscos, não apenas das infecções, mas também de violências das mais variadas formas”, diz.

Sífilis Congênita

Em 2021, os diagnósticos de sífilis congênita, quando a doença é transmitida da mãe para a criança durante a gestação, caíram pelo terceiro ano consecutivo, saindo de 287 para 189 casos. O índice, no entanto, não dá motivos para comemorar.

A síflis congênita ainda é causa importante de perdas fetais, mortes neo-natais e morbidade entre recém-nascidos. Para Dirceu Greco, a existência de casos por si só já é um aspecto grave.

“Essas variações pequenas não tem valor, o importante é que ainda tem transmissão. No caso da sífilis congênita é mais inaceitável porque o SUS, por definição, oferece o pré-natal. O que acontece muitas vezes é que a mulher não faz o pré-natal porque tem dificuldades de acesso e isso está relacionado aos determinantes sociais do acesso à saúde no Brasil, a quantidade de sífilis congênita no país é inaceitável”, pontua.

Fases da doença

Se não tratada, a sífilis pode se desenvolver em diferentes fases. Na primária, a doença se manifesta com erosões ou úlceras no local de entrada da bactéria (pênis, vagina, ânus, boca), denominadas de “cancro duro”. São lesões indolores e que podem durar entre duas e seis semanas.

Na fase secundária, os sintomas podem incluir lesões cutâneas no tronco, queda de cabelo, febre, mal-estar e dor de cabeça. Este estágio ocorre entre seis semanas e seis meses após a infecção.

A doença também tem períodos chamados de latentes, quando não há sintomas, mas a pessoa ainda é capaz de transmissão. Não tratada, a sífilis pode evoluir para um estágio terciário, com risco de atingir o sistema nervoso central e causar a neurossífilis, problemas ósseos e cardiovasculares.


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