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Estado de Minas DENÚNCIA

'Meu orientador virou meu pior pesadelo'; alunos da UFMG denunciam abusos

Com relatos publicados nas redes sociais, estudantes de veterinária contam abusos psicológicos que sofreram na pós-graduação da UFMG


13/05/2022 11:45 - atualizado 13/05/2022 19:51

Fachada do prédio da Escola de Veterinária da UFMG. Muro verde, com gramado na frente.
Relatos de abuso psicológico estão reunidos no Instagram de residentes de patologia clínica na Escola de Veterinária da UFMG (foto: Google Street View)
Estudantes residentes da área de patologia clínica da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) denunciam abusos psicológicos de seus orientadores. Os relatos foram publicados nas redes sociais na quarta-feira (11/5) e os posts já contam com dezenas de comentários. 

Uma residente, que optou por conceder relatos anonimamente, conta que viveu os abusos de um orientador durante a residência, em 2021. “Todo mundo tem medo dele, vivemos 60 horas semanais na UFMG com medo de ele 'queimar' os residentes para as clínicas veterinárias de Belo Horizonte”, conta.
 
Joana** entrou na UFMG para a residência no início de 2020, e acabou sendo uma das “escolhidas” por esse professor. No começo, ela conta que observava como ele tratava um outro residente, sempre de forma muito grosseira e rude. Quando ele saiu, foi a sua vez de ser “marcada” pelo professor.

Captura de tela com foto de braço com catéter em maca de hospital. Imagem publicada em perfil de instagram
Uma das estudantes relata ter passado a tomar antidepressivos, ansiolíticos e remédio para dormir em decorrência dos abusos (foto: Arquivo)
“Teve uma aula on-line em que ele, durante a explicação de uma matéria, parou para falar de mim, em meio a professores convidados, e outros residentes, (Disse) que eu era extremamente infantil e imatura, e começou a rir”, narra Joana. 

"Cheguei ao ponto da minha irmã precisar morar comigo, porque ela tinha medo que eu me matasse. Eu fui definhando. Ele minou minha autoestima e eu não sei nem mesmo se algum dia eu vou voltar a ser a pessoa que eu era antes de entrar para a residência."

Joana*

Ela passou a tomar antidepressivos, ansiolíticos e remédio para dormir. Além disso, chegou a fazer mais de 30 sessões de fisioterapia e foi diagnosticada com dores crônicas causadas por estresse e ansiedade. Por fim, conseguiu trocar de orientador, e precisou refazer grande parte do seu trabalho de pesquisa. 
 
Captura de tela com diversos relatos de abuso. Imagem publicada em perfil de instagram
Relato de uma residente que acabou desistindo da pós-graduação com os abusos psicológicos (foto: Arquivo )
Um relato publicado no Instagram, escrito por outra residente, conta que o professor dizia que ela “não servia nem para servir cafezinho” e que “lugar de mulher é atrás do fogão”. A residente que fez o desabafo acabou desistindo da sua residência em função dos abusos psicológicos. 
 
No início da tarde desta sexta-feira (13/5), a página que continha os relatos acabou sendo desativada no Instagram, e os estudantes afirmam que a situação se tornou “insustentável”. 
 
Captura de tela com o anúncio da página sendo desativada
A página acabou sendo desativada nesta sexta-feira (13/5) (foto: Arquivo)
A Escola de Veterinária publicou uma nota de repúdio e incentivou os estudantes a denunciar na Ouvidoria da UFMG. “A Escola de Veterinária da UFMG não compactua com comportamentos abusivos e práticas de ensino que não estejam alicerçadas no respeito às pessoas, repudiando firmemente toda e qualquer forma de tratamento indigno e discriminatório”, diz a nota, publicada no Instagram da escola.  
 
 

UFMG se posiciona

 
A Universidade Federal de Minas Gerais se pronunciou, na tarde desta sexta-feira (13/5), em relação às denúncias de abuso psicológico sofrido por alunos da pós-graduação do curso de Veterinária.

A instituição ressalta que os perfis de Instagram que postaram as denúncias são de estudantes da residência e não da Escola de Veterinária. Além disso, os alunos não seriam estudantes de uma clínica da escola e sim de residência na área de Patologia Clínica.

A universidade destaca que tem o “compromisso intransponível com a erradicação de todas as formas de intolerância, discriminação e violação de direitos.” Além disso, ressalta que casos de intolerância, discriminação e violação aos direitos humanos em suas dependências devem ser formalmente denunciados na Ouvidoria da universidade. 

“Esse passo é fundamental para a busca de soluções que contribuam para o aperfeiçoamento das atividades desenvolvidas na e pela UFMG, que acompanha com atenção todos os casos registrados.”
  
A universidade também manifesta preocupação com casos específicos em redes sociais, “uma vez que não aprova a exposição de membros de sua comunidade e de suas identidades, que podem resultar em ‘linchamentos virtuais’”.

A nota destaca ainda que “seguir os trâmites para a instauração de um processo administrativo é fundamental para se tomar todas as medidas cabíveis e para garantir o contraditório e a ampla defesa dos envolvidos.” E reforça a importância de formalizar as denúncias para que elas sejam direcionadas ao órgão competente para os encaminhamentos processuais formais. Este canal de denúncia é a Ouvidoria, por meio do endereço https://www.ufmg.br/ouvidoria. 

Leia a nota na íntegra: 

"A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem o compromisso intransponível com a erradicação de todas as formas de intolerância, discriminação e violação de direitos. Casos de intolerância, discriminação e violação aos direitos humanos no âmbito de suas atividades devem ser formalmente denunciados na Ouvidoria da Universidade. Esse passo é fundamental para a busca de soluções que contribuam para o aperfeiçoamento das atividades desenvolvidas na e pela UFMG, que acompanha com atenção todos os casos registrados.
  
Sobre a visibilidade de casos específicos em algumas plataformas de redes sociais, a UFMG manifesta preocupação, uma vez que não aprova a exposição de membros de sua comunidade e de suas identidades, que podem resultar em “linchamentos virtuais”. 

Ressalta, ainda, que seguir os trâmites para a instauração de um processo administrativo é fundamental para se tomar todas as medidas cabíveis e para garantir o contraditório e a ampla defesa dos envolvidos.
 
A UFMG reforça a importância da formalização de denúncias que devem ser devidamente direcionadas ao órgão competente para os encaminhamentos processuais formais, ou seja, à Ouvidoria da UFMG, pelo endereço https://www.ufmg.br/ouvidoria, respeitados os direitos de todos e todas.

Sobre a Ouvidoria da UFMG

A UFMG é uma instituição comprometida com a formação acadêmica e cidadã, guiada pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Como instituição pública, fundamenta suas decisões na legalidade, um dos parâmetros que rege o serviço público. A Ouvidoria da UFMG, criada pela Portaria 007, de fevereiro de 2009, tem como finalidade contribuir para o aperfeiçoamento das atividades desenvolvidas na instituição e sugerir a adoção de medidas para correção e prevenção de falhas na prestação do serviço público.
 
A Ouvidoria tem um fluxo de sigilo, garantindo o anonimato no registro de manifestações. Desde 2017, ela integra o Sistema de Ouvidorias do Poder Executivo Federal para receber elogios, sugestões, reclamações e denúncias por meio do site FalaBR . O sistema, que atende à Portaria 3681/2016, da Ouvidoria Geral da União, foi criado com o objetivo de aprimorar a prestação de serviços públicos, qualificar o atendimento ao cidadão e promover atuação integrada dessas instâncias federais. 

Segundo a Controladoria Geral da União (CGU), há um trâmite que deve ser seguido para apuração das denúncias recebidas, seu encaminhamento e solução. No caso da instauração de um processo de sindicância investigatório, uma comissão deve ser montada para conduzir um processo administrativo disciplinar (PAD), seguindo as regras estabelecidas pela CGU e que, resguardadas todos os preceitos da legalidade, pode culminar em vários tipos de punição ao denunciado, inclusive sua exoneração."
 
 
**Nome fictício para preservar a identidade dos denunciantes. 

*Estagiária sob supervisão da subeditora Jociane Morais 


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