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Estado de Minas Meio ambiente

Vazamento da AngloGold polui córrego em Sabará

Despejo de material da mineração em curso d'água preocupa pescadores, que temem efeito da poluição


18/03/2022 04:00 - atualizado 18/03/2022 06:20

Riacho Cuiabá, afluente do Rio das Velhas, em Sabará, foi atingido por rejeitos da mineradora, que turvaram suas águas
Riacho Cuiabá, afluente do Rio das Velhas, em Sabará, foi atingido por rejeitos da mineradora, que turvaram suas águas (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Um tradicional ponto de pesca para moradores de Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, é o Córrego Cuiabá, afluente do Rio das Velhas. O curso d'água sofreu um despejo de rejeitos da mineradora AngloGold Ashanti no último fim de semana, após um vazamento, e agora preocupa os pescadores da região que sobrevivem da atividade. O Ministério Público de Minas Gerais interveio e bloqueou R$ 100 milhões da empresa.

Próximo ao córrego, a mineradora tem a Mina Cuiabá e a Minas Lamego. No sábado passado, foi identificado um vazamento de material industrial na baía de secagem da planta da Mina Cuiabá e, segundo a empresa, “o vazamento foi estancado imediatamente, assim que identificado”. No entanto, a água que percorre o córrego próximo ao vazamento foi atingida e chegou a ficar cinza.

Pescadores, como Berenice Soares, de 55 anos, que utiliza o córrego há pelo menos 30 anos, ficaram apreensivos com a poluição do ambiente. Ela, além de trabalhar com serviços gerais, utiliza a pesca para completar a renda mensal em casa. “É uma fonte de renda que a gente tem. Na atual conjuntura, você não está conseguindo sobreviver com o que é vendido no comércio, carne e esse tipo de coisa. É uma fonte de proteína nossa também”, conta.

Com o vazamento dos rejeitos, ela diz que está apreensiva, assim como centenas de outros pescadores. “Não sabemos qual a contaminação, qual tipo de metal caiu, o que aconteceu. Temos que esperar a perícia apurar e estamos esperando o resultado do teste laboratorial para ver o quanto foi contaminada essa área pra gente, que sobrevive da pesca”, ressalta.

Berenice ainda afirma que, apesar do receio, não pode parar de consumir o que pesca. “Estamos vivendo numa faca de dois gumes – ou vai, ou vai de qualquer jeito”, afirma. “Centenas de pessoas pescam aqui. Depois da pandemia e do desemprego, isso virou fonte de vida. Não é uma ou duas pessoas, são centenas de pessoas que ficam aqui. É um rodízio dia e noite, porque precisamos do rio e é uma fonte de renda e de alimento para todos nós”, completa.

Segundo a pescadora, o córrego serve não só para pesca como para outras atividades e é preciso preservá-lo. “Já nadei, já lavei roupa no córrego. Ficamos com pena de ver o rio sendo morto e as coisas acontecendo e ninguém fazendo nada. Tem que cuidar melhor do rio, não é um favor, é uma obrigação. Não só para nós, mas para as gerações que virão.”

Ela continua: “Antigamente, tínhamos o Greenpeace que protegia o lado da pesca por aqui, hoje não vemos o meio ambiente fazendo nada em prol disso. É meio ambiente para ficar sentado no gabinete? Para nós, não. Estamos no sol e sujeitos a contaminação e qualquer outro tipo de coisa. Enquanto isso, vamos pescando porque não temos outra opção.”

Pescadora, Berenice Soares critica a falta de fiscalização e se diz apreensiva. Córrego é fonte de renda e alimento para população
Pescadora, Berenice Soares critica a falta de fiscalização e se diz apreensiva. Córrego é fonte de renda e alimento para população (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Rodrigo Solan, de 53, técnico de patologia clínica e segurança, aproveita o córrego como lazer há 20 anos. Ele também entristeceu com o que viu. “Não sabemos o grau de contaminação da sujeira que desceu no rio. Estavam fazendo uma pesquisa pra ver a contaminação. A água muda de uma hora para a outra a cor, fica avermelhada de minério. É muita sujeira que desce, uma tristeza”, aponta. Ele pede: “Tem que pedir ao pessoal mais fiscalização. Falta fiscalização por parte do Ministério da Saúde, do Meio Ambiente, porque se deixar toda responsabilidade para a Prefeitura de Sabará, não resolve.”

Justiça 


O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) ajuizou ação contra a AngloGold e pediu à Justiça o bloqueio de R$ 100 milhões das contas da mineradora. O valor seria destinado a atividades de recuperação e compensação ambiental e à elaboração de plano de comunicação dirigido à comunidade impactada pelo vazamento. Além disso, o órgão também pediu que a empresa fique impedida de mexer na mina, nas pilhas, nas barragens e em outras estruturas operacionais da empresa até que sejam comprovadas a segurança e a estabilidade das atividades. A ação cautelar foi ajuizada por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Sabará e do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma).

''Tem que pedir ao pessoal mais fiscalização. Falta fiscalização por parte do Ministério da Saúde, do Meio Ambiente, porque se deixar toda responsabilidade para a Prefeitura de Sabará, não resolve''

Rodrigo Solon, técnico em patologia clínica


Em nota enviada do Estado de Minas ontem, a mineradora informou que o material que desceu para o rio é classificado como “rejeito não perigoso” e a coloração foi “devido à característica natural da própria rocha”. A empresa ressaltou ainda que estão sendo feitos monitoramentos e não há nenhuma relação com a barragem, que se encontra segura e estável. A AngloGold informou ainda que foi contratada uma empresa especializada em atendimento a emergências ambientais, que realiza a limpeza do local de forma ininterrupta, 24 horas por dia.

A mineradora afirmou ainda que “a água do Rio Sabará já retornou à coloração normal”. Informa ainda que “o vazamento foi estancado imediatamente, assim que identificado”. Na nota, a mineradora disse lamentar “profundamente o ocorrido”, além de reforçar “seu compromisso ambiental”. 

Sem comentar a ação ajuizada pelo Ministério Público e o pedido de bloqueio de recursos, a AngloGold disse que está colaborando com as autoridades. “Vamos cumprir todas as obrigações legais que forem determinadas”, diz a empresa na nota.

Monitoramento 

A Prefeitura de Sabará informou que solicitou à mineradora o acompanhamento da qualidade da água nos trechos afetados e também foi determinada a apresentação da classificação do material. Além disso, a empresa tem sete dias para encaminhar todos os relatórios de estudos e cronograma para avaliação dos danos causados.

Em nota, a prefeitura informou que a AngloGold foi autuada a 'realizar o acompanhamento da qualidade da água nos trechos afetados pela ocorrência (Córrego Cuiabá, Córrego Gaia e Rio Sabará), com amostragens diárias, até que a qualidade da água retorne ao status quo; a apresentar classificação completa do material lançado no corpo d'água” e ainda a “encaminhar, num prazo de sete dias, todos os estudos e relatório com cronograma, contendo a avaliação da extensão dos danos causados (fauna, flora, recurso hídrico e população) pelo vazamento do material e as medidas adotadas a fim de interromper e sanear totalmente os danos causados”.







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