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Estado de Minas HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO

Fim do colapso na saúde impõe compromisso coletivo, alerta quem se curou

A lição foi aprendida por pacientes contaminados com o vírus e que precisaram de tratamento intensivo. Após a alta, eles pedem atitudes firmes de prevenção


04/04/2021 04:00 - atualizado 04/04/2021 07:24

(foto: lelis)
(foto: lelis)
Enfrentar e vencer a COVID-19 deixou marcas de um aprendizado árduo e solitário para quem passou momentos dramáticos num leito hospitalar. São várias liçõeas guardadas na mente e no coração como atestado de que a  vida não tem preço. Pacientes que se curaram da doença respiratória em diversas regiões de Minas Gerais destacaram em depoimentos à reportagem do Estado de Minas a descoberta ou redescoberta da importância da família e dos amigos, além dos cuidados necessários para manter uma boa saúde do corpo e do alma.

Na conversa franca e carregada de emoção, Lourival Ramos de Sousa, Bruno Nicolau de Almeida Siqueira, Saulo Lopes, Gabriel Mendes e Jairo Chagas Oliveira falaram da sofrida experiência que vivenciaram desde os primeiros sintomas da contaminação pelo vírus até a intubação nos centros de terapia intensiva.
  
A ausência das pessoas queridas cobrou duplo esforço e para aqueles que têm fé foi esse o sentimento que prevaleceu na batalha contra a COVID-19. Em comum, eles alertam para a falta de conscientização das pessoas no combate à disseminação do coronavírus.

“Enquanto não mudarmos nossa visão sobre esse vírus, não iremos esvaziar os hospitais”, ensina Saulo Lopes. Minas Gerais registrou, nesse sábado (03/04), 1,153 milhão de pessoas contaminadas pelo coronavírus desde o início da pandemia. O número de mortes provocadas pela doença alcançou 25.534 registros e em várias regiões do estado há saturação de leitos hospitalares e fila de espera por vagas.

 
(foto: lelis)
(foto: lelis)
  
 
“Considero que sou privilegiado por ter vencido essa batalha. O carinho da minha família foi o que mais fez falta”
 
Lourival Ramos de Sousa, 60 anos, policial militar da reserva e vice-prefeito de Barão de Cocais, na Região Central de Minas Gerais

Conceitos Revistos


“Eu me contaminei no fim da campanha eleitoral, e, assim que passou a eleição, comecei a sentir dor de cabeça e a garganta arranhava. Nos primeiros sintomas, eu me isolei dentro de casa. Oito dias se passaram entre o primeiro sintoma e a internação. Na tomografia, foi constatado que eu já estava com 25% do pulmão comprometido. Fiquei internado na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital em Itabira, quando a rede de saúde ainda não estava em colapso. Só não fui intubado, mas precisei da respiração mecânica. Fiquei 10 dias na UTI, e também muito abalado psicologicamente, o que é inevitável para quem passa pela internação. Tive o sentimento de que estaria me despedindo da minha família pela última vez. Além do tratamento, a equipe médica me deu apoio emocional, o que, para mim, foi essencial. Perdi 10 quilos e, de sequela, a memória falha um pouco, mas, graças a Deus, considero que sou um privilegiado por ter vencido essa batalha. O carinho da minha família foi o que mais fez falta no período da internação. Tive medo de não vê-los mais. Voltei para casa bem mais ponderado. Ouço muito mais as pessoas, e, sem dúvida, estou mais amoroso.“
 
 
“Peço às pessoas que se cuidem. A COVID-19 é uma doença que chega de forma silenciosa e é muito agressiva”
 
Bruno Nicolau de Almeida Siqueira, 39 anos, pastor em Governador Valadares, no Leste de Minas


Apelo por cuidados


“Comecei a tossir e a tosse progrediu para febre durante três dias. Depois, passei a sentir muita dor de cabeça, e, na sequência, perdi o olfato e o paladar. Alguns médicos disseram que eu poderia estar com dengue, porque o teste para a COVID-19 deu negativo. Voltei pra casa e não melhorei. Quando surgiu a falta de ar, fui levado para o Hospital Unimed e fui tratado em UTI. Muita coisa passou pela minha cabeça, vendo muitas pessoas morrendo. Não conseguia mais respirar.  Então, fui avisado de que seria intubado. Uma médica perguntou se eu acreditava em Deus e respondi que sim. Senti a presença dele. Quase morri minutos depois de ser intubado. Tive uma convulsão violenta e ninguém acreditava que eu venceria a morte, mas as pessoas fizeram orações pela minha vida. Senti uma alegria muito grande quando saí da UTI, quando tive contato com meu pai, que, infelizmente, veio a falecer três meses depois. Minha alegria se completou quando vi minha mãe, esposa e filhas. Peço às pessoas que continuem se cuidando, usando máscara cobrindo nariz e boca, usando o álcool em gel e evitando aglomerações. A COVID-19 é uma doença que chega de forma silenciosa e é muito agressiva.”
 
 
 
“Aprendi que a gente vive um dia de cada vez. Não adianta abusar da saúde, e deixar passar as coisas do dia a dia”

Gabriel Mendes,  33 anos, cantor e historiador, de Uberaba, no Triângulo Mineiro
 

Ansiedade e reflexões

 
“Fiquei com o vírus mais ou menos por 20 dias. Até o oitavo dia, tive sintomas leves, como dor de cabeça e no corpo e perda do paladar. No nono dia, não sentia mais nada disso, sendo que o meu paladar já havia voltado um pouco, mas no décimo dia, quando estava terminando a medicação, comecei a passar mal. Tive febre e dor no pulmão, e não sofro de comorbidades. Fui internado e usei um cateter de respiração. Pensei que iria embora no mesmo dia, ou talvez ficasse internado de um dia para o outro, mas quando os médicos decidiram que eu precisaria ir para o CTI, e que não tinha prazo para voltar, aí sim, foi um momento muito difícil. Não sabia se ficaria mais na Terra. Em 30 minutos, tive conversas com minha mãe que nunca havíamos compartilhado, fiz ligações e mandei mensagens. Também foi difícil segurar a ansiedade. Após receber alta, aprendi que a gente vive um dia de cada vez. Não adianta abusar da saúde, não adianta deixar passar as coisas do dia a dia que precisamos fazer, pois sentia falta de muitas coisas que eram simples na minha vida.”
 
 
 
“Eu me deparo com tanta gente despreocupada. Enquanto não mudarmos nossa visão sobre esse vírus, não iremos esvaziar os hospitais”
 
Saulo Lopes, 38 anos, técnico odontológico em Divinópolis, na Região Centro-Oeste
 

Nova postura

 
"Minha esposa testou positivo primeiro, e, como não estávamos sabendo, acabei me contaminando. Viajei para Três Marias a serviço, e sempre tomando todos os cuidados sanitários. Na volta, senti muita dor no corpo. Quando cheguei ao hospital, passei pela triagem e depois de exame de sangue, tomografia e  consulta, a médica decidiu pela internação. A tomografia indicou que já estava com 40% dos pulmões comprometidos, além do agravante de que sou diabético. Meu temor maior foi a internação. O medo de entrar e não sair. Com sorte, consegui uma vaga na UPA. Minha saturação caiu muito, tive que ser transferido para o CTI. Foram sete dias intubado. Minha recuperação foi muito rápida, e um verdadeiro alívio. Após receber alta, enfrentei 20 dias de uma lenta recuperação. Família, amigos, às vezes até os clientes fazem falta. Devemos preservar aqueles que nos rodeiam, que nos querem bem. O problema não é só a falta de vagas, nas também a falta de consciência de muita gente e a falta de medicamentos para combater o vírus. Estou atendendo clientes na cidade e fora dela com o mesmo cuidado que eu tinha antes, mas me deparo com tanta gente andando nas ruas sem máscara e despreocupados. Acho que, enquanto não mudarmos nossa visão sobre esse vírus, não iremos esvaziar os hospitais.”
 
 
 
“O que mais aprendi depois da internação é que o bem maior que temos é a vida. Ela está 
em primeiro lugar”
 
Jairo Chagas Oliveira, 65 anos, fotógrafo, de Uberaba, no Triângulo Mineiro 
 

O valor da vida

 
“O que mais me assustou, quando estive internado no Hospital São Domingos, foi ver tantas vidas sendo ceifadas, mesmo diante da luta das equipes que estão na linha de frente do combate ao vírus. Do que mais senti falta, nesse momento tão difícil, foi o aconchego da minha família. Quando estive internado na UTI, senti a insegurança. É total e não sabemos o que vai acontecer. Depois que saí do hospital, em 15 de fevereiro, continuei o tratamento com os antibióticos em casa. Passados dois dias, minha saturação havia caído muito. Então, retornei ao hospital e precisei voltar para o aparelho de oxigênio. Permaneci mais um dia no hospital e voltei para casa com oxigênio. Fiquei mais cinco dias com ajuda e fisioterapias respiratórias. Diante de tantas vidas perdidas, tive a alegria de reencontrar um companheiro que permaneceu na UTI comigo. O que eu mais aprendi depois da contaminação e internação é que o bem maior que temos é a vida. Ela está em primeiro lugar.” 
 
(*Amanda Quintiliano/Especial para o EM)


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