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Estado de Minas CHUVAS EM MINAS

Desabrigados em Santa Maria de Itabira temem roubos em casas interditadas

Orientação para quem teve que deixar sair de imóveis depois de temporais é pegar só documentos, remédios e itens essenciais


25/02/2021 06:00 - atualizado 25/02/2021 07:33

Máquinas e equipes ainda trabalhavam ontem na limpeza da cidade, destruída pelas enchentes e deslizamentos provocados pelas fortes chuvas (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Máquinas e equipes ainda trabalhavam ontem na limpeza da cidade, destruída pelas enchentes e deslizamentos provocados pelas fortes chuvas (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

Santa Maria de Itabira  – A fuga dos desabamentos e a corrida para salvamento de vítimas em mutirão são terrores recentes, mas que ficaram em segundo plano entre as preocupações mais urgentes do pedreiro José Alberto Martins, de 54 anos, e de sua família. “Nossa casa foi interditada pela Defesa Civil e tudo o que construímos na nossa vida está lá. Nem durmo de preocupação de alguém ir lá e roubar tudo”, afirma. O drama dele é o mesmo de outros 79 desabrigados das chuvas de domingo, que devastaram Santa Maria de Itabira, na Região Central de Minas Gerais.
 
São famílias que perderam tudo em desabamentos e inundações nos bairros Poção, Lambari, Cidade Nova, Nova Santa Maria, Conselho, Borges e no Centro, ou que tiveram de abandonar tudo para não ser soterradas. Foram adaptados para receber essas pessoas as salas de aula e espaços da Escola Municipal Trajano Procópio, da Escola Estadual Doutor Costa e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário.

“A gente está agoniado aqui. Eu, meu marido e nossa filha de 14 anos temos medo de voltar e de uma chuva derrubar tudo sobre a gente. Agradecemos muito a todos que nos doaram roupas, comida e lugar para ficar, mas o lugar melhor que a gente tem é a casa da gente, né”, afirma a dona de casa Rosimar Gonçalves, de 36, mulher do pedreiro José Alberto.

José Alberto e Rosimar só pensam na casa interditada: 'Tudo o que construímos na nossa vida está lá. Nem durmo de preocupação de alguém ir lá e roubar tudo', diz ele(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
José Alberto e Rosimar só pensam na casa interditada: 'Tudo o que construímos na nossa vida está lá. Nem durmo de preocupação de alguém ir lá e roubar tudo', diz ele (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)


De acordo com instruções dadas em campo por integrantes do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), grupos de moradores estão recebendo permissão para resgatar seus documentos, medicamentos e pertences mais necessários. Se o tempo se firmar e a chuva não castigar mais uma vez o município, de 10,8 mil habitantes, pode ser possível a retirada de móveis e outros objetos das residências.

“A gente fica o dia todo de olho no céu, rezando para não chover para poder tirar nossas coisas enquanto ainda há tempo. Minha casa mesmo não foi destruída, mas a do vizinho ameaça despencar com o barranco e tudo em cima”, afirma o pedreiro José Alberto. Mesmo com a casa interditada, ele conta que ajudou muitas pessoas no bairro do Poção, o mais devastado, onde morreram cinco das seis vítimas da tragédia. “Fizemos um mutirão para salvar as pessoas. Consegui tirar uma senhora que estava encoberta de lama. A gente se ajudou, porque nessa hora somos todos irmãos”, disse. Além dos desabrigados há 129 desalojados, que são pessoas que foram para as casas de parentes.

Uma cozinha industrial foi montada para o preparo de marmitas para trabalhadores e atingidos que não têm mais condições de cozinhar(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Uma cozinha industrial foi montada para o preparo de marmitas para trabalhadores e atingidos que não têm mais condições de cozinhar (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

 
Ontem, mais de 100 funcionários da prefeitura e voluntários se desdobravam para ajudar os necessitados. Uma cozinha industrial foi instalada na Escola Municipal Trajano Procópio, onde marmitas são montadas e distribuídas aos trabalhadores e atingidos que não têm mais condições de preparar alimentos.

Solidariedade


A prefeitura, a Secretaria de Educação, o Centro Cultural Professor Alberto Sampaio, a quadra poliesportiva e vários outros prédios públicos estão abarrotados de doações enviadas de todo o estado. Mutirões são organizados para fazer a distribuição dos mantimentos a diversas comunidades, sobretudo as mais afastadas. A situação é pior nas comunidades que perderam seus acessos viários e ficaram isoladas, como os quilombolas do Barro Preto, moradores de Oriente, Indaiá e Cambraia, como mostrou ontem a reportagem do Estado de Minas.
 
“Nos pontos onde as estradas foram destruídas ou soterradas por barreiras, estamos enviando pelo menos o básico de alimentos, roupas, água e medicamentos com o apoio aéreo do CBMMG. Mas nenhuma comunidade está completamente desassistida”, informou o vice-prefeito da cidade, André Lúcio Torres (PSD).

Doações chegam de todo o estado e, segundo a prefeitura, já há vestuário suficiente, mas ainda faltam água, além de produtos de limpeza e higiene pessoal (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Doações chegam de todo o estado e, segundo a prefeitura, já há vestuário suficiente, mas ainda faltam água, além de produtos de limpeza e higiene pessoal (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)

 
De acordo com o vice-prefeito, doações de roupas e calçados não são mais necessárias. “Necessitamos mais de alimentos, água, produtos de limpeza e higiene pessoal. Temos também grupos em campo para avaliar a segurança das estruturas das casas atingidas para saber quais famílias poderão voltar às suas casas. No momento, esse levantamento está em progresso, mas podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que mais de 50% da área do município foi afetada pelas inundações e deslizamentos de terra”, afirma Torres.

Limpeza


Nas ruas, tratores, pás carregadeiras, motoniveladoras e retroescavadeiras removem grossas camadas de lama das avenidas mais prejudicadas e as depositam nas caçambas de veículos de carga. Caminhões-pipa com mangueiras de água pressurizada fazem uma lavagem do grosso acumulado nas calçadas, passeios, praças, canteiros centrais, drenagens e ruas cobertas pela lama.
 
As vias centrais da cidade ainda se encontram com uma camada de três a quatro centímetros de terra, que se transforma em lama quando chove, espalhando atoleiros, e em pó fino quando seca, que encobre as vias, deixando imundas as construções após ventanias e a passagem de veículos. O trânsito de voluntários é constante, em carros particulares, caminhões e tratores, bem como o incessante fluxo de doações que chegam e são distribuídas a vários pontos do município onde estão os atingidos.

Governo federal faz vistoria


O governo federal, por meio do Serviço Geológico do Brasil (SGB/CPRM), começou ontem o trabalho de atendimento emergencial em Santa Maria de Itabira, na Região Central de Minas, afetada pelas fortes chuvas no início da semana. A cidade decretou situação de calamidade pública. Pesquisadores já estão na cidade e vão avaliar as condições dos bairros atingidos, bem como os locais que podem registrar novos deslizamentos. A decisão de vistoria partiu de reunião com integrantes da Defesa Civil municipal e representantes de órgãos atuantes nas áreas de engenharia e obras da Prefeitura de Santa Maria de Itabira. Um laudo técnico com orientações será emitido e encaminhado aos gestores. O documento servirá como base para solicitação de recursos federais para obras de reconstrução.


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