Entre o vai e vem de abertura das portas, a hora é de contabilizar prejuízos, manter o negócio da própria atividade e minimizar os impactos do desemprego, dos postos de trabalho extintos e salários reduzidos.
Logo cedo, com as portas do comércio ainda fechadas, a movimentação do trânsito, do transporte público e nas ruas da ciadade, já apontava um ritmo, tímido, mas crescente. A desconfiança da população em relação a uma possível "nova onda" da COVID-19 que se alastra pelo país, contribui para que as pessoas adotassem certa cautela em relação a essa retomada, explica a bancária Aline Rodrigues, de 33 anos.
"As medidas de proteção contra a propagação do novo coronavírus, marteladas incansavelmente durante os 11 meses da pandemia, em parte provocaram uma certa consciência em parte da população", afirma.
No hipercentro de BH, várias portas cerradas em definitivo. Alguns comerciantes não conseguiram manter o negócio e desistiram. Outros precisaram inovar ou dispor das próprias economias para manter a atividade, mesmo diantes das incertezas.
Sócios do restaurante Aquino's, Tarcísio Tomaz, de 69, e Thiago Aquino, de 39, pai e filho, calculam um prejuízo em torno de R$ 140 mil até o momento. Funcionando na rua dos Tupinambás há quatro anos, foram pegos de surpresa pela pandemia. Nesta segunda-feira (1º) se preparavam para o primeiro almoço após a reabertura. A expectativa ainda é de movimento fraco. Em dezembro, quando o comércio voltou parcialmente, os clientes foram 20% do esperado.
"Mantivemos todos os nossos 13 funcionários, os salários, os encargos sociais e taxas e impostos em dia, com nossos recursos de reserva", explica Thiago. Para Tarcísio, o difícil agora é manter o padrão de preços cobrados, com mercadorias, principamente alimentos em forte alta. "Compramos diretamente na Ceasa para manter qualidade, mas os valores chegaram a mais de 100%".
Quando inaugurado há sete anos, em outro endereço próximo ao atual, a expectativa era atender ao público da região central formada por lojistas, funcionários de lojas de departamentos, bancos, além de clientes dos mais variados ramos do comércio que circulam pelo centro.
"Veio a pandemia e fechou todo o Centro em três dias", recorda Thiago. "Um desastre ineseparado", classifica o comerciante. Com lojas cerradas, trasporte coletivo restrito e sem o movimento de pessoas pelo Centro, não houve nem mesmo a possibilidade de serviços delivery. "Com todos em casa, os clientes transferiram suas compras para lojas e restaurantes nos bairros".
“Não se abre um restaurante da noite pro dia sem um amplo planejamento prévio, desde o reabastecimento dos nossos estoques que tiveram que ser zerados devido ao fechamento repentino por prazo indeterminado; contamos inclusive com insumos importados que não são repostos com rapidez, principalmente nesses tempos de pandemia, como também às férias dos funcionários que fomos obrigados a dar agora já que não tínhamos previsão de reabertura. Teremos que contratar funcionários extras, sem treinamento, o que encarece e prejudica muito nosso trabalho.
Desfizemos de todo o nosso estoque, primeiro porque trabalhamos com muitos itens perecíveis impossíveis de serem armazenados, segundo porque imaginamos que o Prefeito que não iria liberar o funcionamento antes do carnaval, e como demos férias para boa parte da equipe tivemos que diminuir nosso estoque para levantar o caixa e conseguir arcar com os custos pertinentes; agora que a equipe está de férias teremos que contratar funcionários extras, isso é insano!
Precisaremos de pelo menos de 20 a 30 dias para normalizar nossa operação” diz Vinicius Veloso sócio dos restaurantes O Italiano e Cozinha de Fogo Wals.
Segundo Veloso, algumas horas após ser anunciada a reabertura do comércio alguns fornecedores já não dispunham de produto para entrega para a próxima semana: “resultado da falta de bom senso e planejamento da prefeitura, e mais uma vez é o empresário que arca com o prejuízo”.
Essa nova fase será mesmo de readequação. Muitas lojas fechadas, assim como agências bancárias e outras atividades que eram clientes fiéis do estabelecimento.
Uma loja de roupas para todos os públicos, reabriu na manhã desta segunda, mas com apenas 10 dos 40 funcionários que trabalhavam antes da pandemia. A assistente de vendas, Mariza Lopes da Silva, de 29, disse aguardar com "grande expectativa a retomada dos negócios". Ela conta os dias de incertezas e desesperadores que passou em casa. "Sem saber até quando nosso patrões poderiam cumprir com os compromissos, e se voltaríamos ou não".
Renata de Souza Camargo, de 38, gerente da loja, explica que a reabertura "não significa a retomada das ativades como antes": "As mercadorias estão bem mais caras, faltam tecidos e as pessoas perderam os empregos. E com o fim do auxílio emergencial, não tem dinheiro para vir as compras". A expectativa, segundo a gerente, "com muito otismismo", é de que as vendas comecem a ser retomadas somente em abril ou maio.
Servidora do Hospital das Clínicas que já tomou a primeira dose da vacina, Débora Carneiro, 33 anos, resolveu "aproveitar que estava na rua" e fazer uma compra. Mas disse que obedece rigorosamente as recomendações sanitárias. Ela aprova a reabertura do comércio, "devido à necessidade de empresários e empregados manterem seus rendimentos", mas apela à consciência das pessoas para que o vírus não se espalhe em grande velocidade. "Acho que as pessoas precisam estar atentas a todas as medidas para se evitar a contaminação, e evitar sair de casa, a não ser em casos de extrema necessidade, até porque a vacina já está chegando."
Como ocorreu em dezembro, todas as normas sanitárias continuam em vigor: uso do álcool em gel e das máscaras, e restrição de horário. A higienização frequente com álcool em gel, inclusive das máquinas de cartão, também precisará ser feita. Ao mesmo tempo, provadores, atividades de entretenimento com aglomeração, cardápio físico, saleiros, açucareiros e dispensadores de temperos continuam proibidos. Quanto às mesas, a ocupação máxima é de quatro pessoas. Elas devem ser limpas após o uso.
Com o decreto da PBH, voltam também a funcionar as 10 feiras tradicionais na cidade, a da Afonso Pena, as duas da Avenida Carandaí (de bebidas, comidas típicas e antiguidades e a de plantas e flores naturais) e das praças Duque de Caxias, da Savassi e Comendador Negrão de Lima. Os centros de comrpas dos bairros São Gabriel, Buritis, Jaraguá e Sagrada Família, também reabrem as atividades.
O protocolo permanente para funcionamento das feiras na pandemia continua válido para essa reabertura. Ou seja, todas as medidas tomadas nas flexibilizações anteriores continuam necessárias nessa. Isso inclui o uso obrigatório de máscara, que deve ser trocada a cada quatro horas para os feirantes.