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Estado de Minas Risco diário

Queima de ônibus espalha medo e transtorno em Belo Horizonte

Com quinto veículo incendiado em uma semana, empresas suspendem operação à noite nas linhas afetadas e estações amanhecem superlotadas. Motoristas relatam rotina de violência


18/09/2020 06:00 - atualizado 18/09/2020 08:21

Trabalhadores que usam transporte no início da manhã ficaram sem o serviço nas estações Venda Nova e Vilarinho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Trabalhadores que usam transporte no início da manhã ficaram sem o serviço nas estações Venda Nova e Vilarinho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


A queima de mais um ônibus na Grande BH, na noite de quarta-feira, aumentou o medo entre motoristas e cobradores e deixou as estações Venda Nova e Vilarinho – os dois maiores pontos de integração do sistema de transporte de Belo Horizonte – transbordando de passageiros na manhã de ontem. A aglomeração foi causada pela suspensão da circulação de coletivos durante a madrugada em toda a cidade, devido à queima do quinto veículo em menos de uma se- mana.

Após o ataque de quarta à noite, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) orientou as companhias do transporte público por ônibus a suspenderem o atendimento na capital mineira até o clarear de quinta-feira. Dessa vez, o ônibus foi queimado em Ribeirão das Neves, na Grande BH. Segundo os bombeiros, o fato ocorreu na Rua 41, altura do número 679, Bairro Pedra Branca. Duas viaturas da corporação se deslocaram ao local.

“É o perigo que a gente corre”, foi assim que o motorista Egladson Angelo de Souza, de 39 anos, definiu a rotina de insegurança de quem, assim como ele, trabalha no transporte coletivo da capital. Há três anos na linha 607 (Estação Vilarinho/Esplendor), itinerário que sofreu na noite de quarta-feira o ataque por quatro criminosos encapuzados e armados com submetralhadoras que incendiaram um veículo da linha, ele conta que esse tipo de crime já se tornou parte do seu cotidiano.

“Como o pessoal aqui já é acostumado com algumas coisas eles devem ter ido de carro pro serviço. Querendo ou não, todo fim do ano é isso”, disse. O motorista relata que só ficou sabendo do fato, que ocorreu a aproximadamente a 400 metros do ponto final do ônibus, em Ribeirão das Neves, quando chegou à garagem da empresa na manhã de ontem. Lá, ele foi avisado de que a linha só voltaria a circular às 6h por ordem do sindicato das empresas. No local do crime foi deixado um bilhete com queixas a respeito de uma prisão considerada irregular pelo grupo que realizou o ataque.

A sensação de vulnerabilidade frente aos recorrentes incêndios de ônibus ocorridos nos últimos dias tem amedrontado os motoristas e passageiros. “Se a gente for conversar com os criminosos quando eles chegam com o galão (combustível) eles querem entrar de qualquer jeito e não tem como a gente barrar. A gente não tem como barrar uma pessoa que pula a roleta, imagina quem chega com um galão. Nós não conhecemos a pessoa e tem que tentar ser o mais brando possível e tentar fazer o nosso trabalho”, conta.

Ataque a veículos chega a cinco na Grande BH e suspeita é que ordem de ataque venha de dentro dos presídios (foto: PM/Divulgação)
Ataque a veículos chega a cinco na Grande BH e suspeita é que ordem de ataque venha de dentro dos presídios (foto: PM/Divulgação)


Desde terça-feira, a PM lançou uma operação para combater os ataques. Ontem, a PM também esteve no local do fato, mas, mesmo assim, Egladson teme por outros ataques. “Quando eu cheguei aqui só tinha um carro da polícia. Eles fizeram a escolta de alguns carros. Mas eles acompanham o carro por um quarteirão e chega no próximo ponto eles voltam e não adianta”, lamenta o motorista.

Na Rua 41, altura do número 679, Bairro Pedra Branca, onde ocorreu o crime, vizinhos também foram afetados pelo ato e acumularam prejuízos. Uma moradora que não quis ser identificada, contou à reportagem do Estado de Minas que uma casa foi comprometida pelas chamas e um carro que estava próximo ao ônibus incendiado também foi danificado. “O fogo pegou e se alastrou muito rápido. Na casa da vizinha, o forro de isopor por dentro queimou todo, o carro dela também, a pintura está toda queimada. Eles tiveram que ir para a casa de parentes.”

Transtorno


Além do medo, passageiros que precisaram usar o serviço na manhã de ontem tiveram que enfrentar estações superlotadas sem nenhum cuidado em relação à proteção contra a COVID-19. Sem transporte, os passageiros se arranjaram como puderam para chegar às estações. Alguns foram de Uber. Outros, de carona. Houve quem pegasse linhas metropolitanas e completasse o restante do percurso a pé. Muita gente chegaria atrasada ao trabalho.

É o caso do porteiro Rodrigo Rubens, cujo expediente começava às 6h. Ele conta que sai de casa, normalmente, às 4h30 e chega à Estação Venda Nova às 5h. De lá, toma outra condução rumo ao Centro. Ele calculava que chegaria ao trabalho com cerca de uma hora de atraso. “Hoje, como não teve ônibus na cidade, eu tive que pegar um do DER, com passagem mais cara, para conseguir chegar à estação. Só que eu cheguei aqui e já estou há uma hora esperando, pois só tem ônibus a partir das 6h, quando eu já deveria estar começando a trabalhar. Paciência", lamentou o passageiro.

A técnica de enfermagem Célia Maria Soares, que trabalha no centro de hemodiálise do Hospital da Baleia, estimava que seus pacientes ficariam esperando por ela por ao menos duas horas. A profissional começa a trabalhar às 5h30. Às 6h, quando os ônibus começaram a circular, ainda estava na estação. “Peguei um Uber para chegar até aqui. Cheguei por volta das 5h. Quando vi que os ônibus ainda iam demorar, tentei pegar um ônibus do lado de fora da estação, na avenida, mas não passou nenhum. O jeito é esperar", conformou-se.

Quando os coletivos finalmente chegaram, muitos passageiros, irritados com o atraso, embarcaram reclamando. Sobrou desaforo para o motorista Robson Magela, da linha 621 (Estação Venda/Lagoa). Ele relata que, normalmente, começaria a rodar às 4h. Hoje, começou às 6h, com medo ser agredido pela multidão. “Foi o vandalismo que prejudicou bastante as pessoas, né? O motorista trabalha com medo constante. Com medo de danos físicos causados tantos pelos passageiros, quanto pelos bandidos. No caso da queima dos ônibus, já houve casos em que o motorista não teve tempo de sair do carro” comentou. Segundo a BHTras, o intervalo entre as saídas dos ônibus Move foi encurtado para absorver o público aglomerado nas estações. *Estagiária sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira

Dois suspeitos são presos


Dois homens, de 18 e 31 anos, foram presos no final da noite de quarta-feira, suspeitos de ter sido responsáveis pelos incêndios a dois coletivos no Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste de BH, nos  dias 9 e 11 de setembro. Eles foram localizados no aglomerado Vila da Luz, na mesma região. Durante operações, a PM recebeu a informação de que no último dia 11 um traficante da Vila da Luz, pequeno aglomerado localizado nas redondezas do Bairro Jardim Vitória, teria se deslocado pela região com um galão de gasolina e, em seguida, entrado em um veículo de cor escura. Ele estava com um comparsa, e ambos carregavam armas longas de fabricação caseira.

Os denunciantes afirmaram ainda que a dupla usava um casebre no aglomerado para armazenar drogas e armas ilícitas. A PM se deslocou até o local. Os autores tentaram fugir ao se deparar com as guarnições, mas foram alcançados. Nas buscas, foram apreendidas 10 barras de maconha, 49 pedras de crack, R$ 89 em espécie, dois radiocomunicadores, duas submetralhadoras de fabricação caseira, uma chave e um galão com gasolina.

A chave encontrada com os autores abria o então suposto casebre usado para armazenar substâncias ilícitas. As armas estavam escondidas embaixo do colchão e em cima da caixa d'água, enquanto o galão com gasolina estava dentro de um quarto, perto dos radiocomunicadores. Durante a tentativa de fuga, um dos autores, que trabalhava como uma espécie de olheiro do esquema, gritou "azul", enquanto corria pelas vielas do aglomerado, para avisar da presença dos militares. (RS) *Estagiário sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira

Outros ataques

O veículo incendiado na noite de quarta-feira foi o quinto ônibus queimado na Grande BH nos últimos dias. Antes do fato dessa quarta, um ônibus metropolitano da linha 5500, que liga os bairros Morro Alto e Serra Dourada, foi queimado. Na segunda-feira, criminosos atearam fogo em um veículo da linha 705, que faz o trajeto Solimões-Estação São Gabriel. Três homens abordaram o ônibus, roubaram os passageiros e exigiram que todos saíssem antes de incendiar o coletivo. Três dias antes, na sexta-feira passada, um coletivo da linha 825 (Estação São Gabriel / Vitória II via UPA Nordeste) também foi atacado. Desta vez, por oito criminosos armados, que cercaram o ônibus com dois carros. O primeiro registro de incêndio em veículo é de 9 de setembro, no Bairro Jardim Vitória, na Região Nordeste da capital. Três homens renderam o motorista da linha 5502C (Pousada Santo Antônio), mandaram que ele se retirasse e atearam fogo no veículo. O trio disse que estava a serviço de presos da Nelson Hungria.


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