(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MANIFESTAÇÃO

Entregadores de aplicativos fazem greve por melhores condições de trabalho em Minas

Protesto da categoria na capital denuncia rotina exaustiva, ganhos abaixo do salário mínimo e pouco apoio dos aplicativos para proteção contra COVID-19


01/07/2020 10:01 - atualizado 01/07/2020 21:31

(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Longe do conforto do home office e das garantias do trabalhador formal, cerca de 200 entregadores de aplicativos se reuniram na manhã desta quarta-feira (1) na Praça da Assembleia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, para anunciar uma paralisação de 24 horas. A greve denuncia as condições de trabalho precárias dos motofretistas, além de reivindicar direitos e melhorias. 

O movimento faz parte de um iniciativa internacional, com adesão de entregadores de todo o Brasil e de países da América Latina, como Chile e Argentina. 

Ver galeria . 8 Fotos Categoria denuncia rotina exaustiva , ganhos abaixo do salário mínimo e pouco apoio dos aplicativos para proteção contra COVID-19Edésio Ferreira/EM/D.A Press
Categoria denuncia rotina exaustiva , ganhos abaixo do salário mínimo e pouco apoio dos aplicativos para proteção contra COVID-19 (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )


Munidos de faixas e cartazes com os dizeres "Motoboy: profissão perigo" e "Nosso trabalho tem valor", os manifestantes ocuparam a escadaria da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, onde gritaram palavras de ordem como "Trabalhador unido jamais será vencido!". 

Após a concentração, o comboio de motociclistas partiu em direção à Praça da Bandeira, no Bairro Mangabeiras. O destino final é a Praça Sete, na Região Central.



'É desumano'

Na pauta dos grevistas estão o aumento do valor mínimo das corridas e da remuneração por quilômetro rodado, seguro de vida que inclua cobertura de roubos e acidentes, sala de apoio para aguardar os chamados dos aplicativos, além do fornecimento de itens de proteção individual contra o coronavírus pelas empresas - máscaras e álcool em gel.

"Saímos de casa sem garantia sequer de que retornaremos. Estamos aqui exigindo o mínimo, que é sermos tratados como trabalhadores. Motoboy tem família, precisa sobreviver dignamente e faz planos como qualquer pessoa", argumenta a entregadora Vanessa Muniz, uma das organizadoras do movimento em BH

"As pessoas não têm ideia de que, na maioria os dias, trabalhamos para comprar o arroz e o feijão. Frequentemente, voltamos para casa ao fim do dia com menos de 30 reais. Fora que somos trabalhadores da linha de frente e mal recebemos máscaras e álcool em gel dos aplicativos. Se eu adoecer, morrer ou me acidentar, quem vai sustentar meus filhos?", queixa-se o motoboy Marques Suelio Pinheiro. Ele diz que trabalha há cinco anos como entregador e ganha, em média, menos de R$5 por corrida. 

"Os aplicativos levam de 27 a 40% do valor dos pedidos. A gente fica com 25% desse valor descontado. Ou seja, sobra muito pouco pra nós. Tem mês que eu pago pra trabalhar, porque ganho o suficiente só pra cobrir a gasolina", conta o trabalhador

O motociclista Jefferson Ferreira denuncia ainda o que chama de "atitudes indignas" das empresas. "Se eu tiver um pedido cancelado, mas já tiver rodado 10 quilômetros para chegar no local, o prejuízo é todo meu. Não recebo um centavo do aplicativo por isso. Fora que recebi, até hoje, um único vidro de álcool em gel desde o início da pandemia e poucas máscaras de má qualidade. Estamos muito expostos, sem apoio nenhum. É desumano", reclama.

A categoria também se queixa de falta de diálogo com os aplicativos e com o poder público. O movimento inclusive reivindica uma reunião com a prefeitura e com o governo do estado para discutir a regulamentação da profissão de entregador. "Também queremos que os governos nos ajudem a mediar uma conversa com as empresas, que praticamente nos ignoram", relata a líder Vanessa Muniz.

Apps contestam queixas

O Estado de Minas solicitou esclarecimentos aos principais aplicativos de entrega que atuam em Belo Horizonte - Ifood, Rappi, Uber Eats e 99 Food- sobre as queixas e reivindicações dos grevistas. Todos disseram apoiar o direito à livre manifestação dos trabalhadores e negaram planejar qualquer tipo de punição aos participantes do movimento desta quarta-feira (1°). Além disso, contestaram as reclamações dos motofretistas, como remuneração abaixo do salário mínimo e falta de suporte para o enfrentamento da COVID-19.

Ifood 

O aplicativo esclareceu que o preço médio das rotas é de R$ 8,46. Segundo a empresa, todo os parceiros são informados do valor da corrida antes de aceitar ou declinar a entrega. Os deslocamentos teriam valor mínimo de R$5 por pedido. “Em maio, o valor médio por hora dos entregadores foi de R$ 21,80. Para fins de comparação, esse valor é 4,6 vezes maior do que o valor por hora tendo como base o salário mínimo vigente no país”, diz a nota enviada pelo app. Ainda de acordo com o Ifood, os ganhos médios mensais daqueles que têm a atividade de entregas como renda principal - 37% dos parceiros cadastrados na plataforma - aumentaram 70% em maio na comparação com fevereiro. 

O aplicativo também alega que oferece a todos os seus fretistas um seguro de acidente pessoal sem custo, com cobertura de despesas médicas e odontológicas, bem como indenização em caso de invalidez temporária ou permanente ou óbito causado pelo acidente. Sobre medidas de enfrentamento do Covid-19, o Ifood informou que criou um fundo de auxílio financeiro, ao qual foram destinados R$ 25 milhões. O dinheiro é empregado no auxílio financeiro de parceiros que pertencem ao grupo de risco da COVID-19 ou que apresentem sintomas da doença - e portanto estão impedidos de trabalhar. A empresa alega, por fim, que iniciou a distribuição de álcool em gel e máscaras reutilizáveis aos entregadores.

Rappi

A Rappi também argumenta que oferece seguro de vida e proteção à integridade dos fretistas desde o ano passado que, além da cobertura de despesas médicas e hospitalares, oferece parcerias que possibilitam descontos em serviços de manutenção de veículos. Outro ponto mencionado pela empresa é a criação de bases físicas para descanso dos parceiros - os chamados de Rappi Points. 

Sobre a remuneração dos entregadores, a Rappi afirma que 75% dos motoboys e motociclistas ganham mais de R$ 18 por hora quando ativos em entregas, e quase metade deles passa menos de uma hora por dia conectada. “Entre fevereiro e junho, a empresa identificou um aumento de 238% no valor médio das gorjetas e de 50% no percentual de pedidos com gorjeta. Todo valor pago é integralmente repassado ao entregador”, acrescenta o comunicado enviado pelo aplicativo. 

Para auxiliar os parceiros no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, o app diz ter iniciado a distribuição de álcool em gel e máscaras, além da sanitização de carros, motos, bikes e bags. A exemplo do Ifood, a Rappi relata que instituiu  um fundo de auxílio financeiro aos entregadores infectados pela COVID-19, com suspeita de infecção pelo vírus que, no Brasil, está sob a gestão da Cruz Vermelha.

Uber Eats

O aplicativo enviou à reportagem uma nota assinada pela Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (AMOBITEC). O texto ressalta que empresas associadas à entidade (Uber, 99, Buser, Movo, Lime, Quicko, Ifood e Grow) implementaram ações de apoio aos entregadores parceiros desde o início da pandemia. Como exemplo, citou a distribuição gratuita ou reembolso pela compra de materiais de higiene e limpeza, como máscara, álcool em gel e desinfetante, e a criação de fundos para o pagamento de auxílio financeiro aos parceiros diagnosticados com Covid-19 ou que estão incluídos em grupos de risco.

"Além disso, os parceiros cadastrados nas plataformas estão cobertos por seguro contra acidentes pessoais durante as entregas", afirma o comunicado. 

99 Food

Procurado pela reportagem, o aplicativo 99 Food não se pronunciou até a última atualização desta matéria.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)