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Estado de Minas PANDEMIA

Covid-19: Belvedere e Buritis lideram ranking dos bairros mais afetados pela doença

Moradores dos dois bairros não parecem assustados com o fato de que habitam os locais da cidade com maior incidência do novo coronavírus


19/06/2020 06:00 - atualizado 19/06/2020 11:05

Decoradora Eliana Machado acha que há sensacionalismo da imprensa sobre a COVID-19
Decoradora Eliana Machado acha que há sensacionalismo da imprensa sobre a COVID-19 (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Chega mesmo um tempo em que não se diz mais: “Meu Deus”, como constata o mineiro Carlos Drummond de Andrade em um de seus poemas mais conhecidos, Os ombros suportam o mundo. Ao menos essa é a impressão de quem tenta conversar sobre o avanço do novo coronavírus com moradores dos bairros Belvedere e do Buritis, onde o Estado de Minas circulou na tarde de ontem. Segundo a prefeitura, os dois bairros – situados nas regiões Centro-Sul e Oeste – lideram o ranking de casos de COVID-19 na capital. A notícia não chega a alterar a expressão ou tom de voz da maioria das pessoas abordadas pela reportagem. “Ah é? Nem sabia.” “Ouvi falar.” “Diz que é mesmo”, comentavam os entrevistados ao serem confrontados com a situação. Como quem recebe a notícia de que vai chover.

Não que haja motivo para pânico. O boletim epidemiológico da PBH, divulgado na quarta-feira (17), aponta 30 infectados (quatro deles em estado grave) e uma morte pela doença no Belvedere. O Buritis, primeiro da lista, aparece no relatório com 35 contaminados (dois graves), sem óbitos. Em toda a BH, há 24.906 casos confirmados de coronavírus, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde. Mas quem está seguro entre vizinhos doentes ou dentro do país que beira 50 mil mortos pelo vírus? A aparente insensibilidade que quase todos os moradores interpelados pelo EM demonstravam ao falar do assunto soa como sintoma de que a pandemia alterou as definições de normalidade de maneira mais ampla do que se pode calcular.
 

'Sensacionalismo'

(foto: Arte EM)
Moradora dos arredores do BH Shopping, onde o movimento era moderado e sem aglomerações – Eliana Machado, de 69 anos, fazia sua caminhada diária pela Lagoa Seca “sem neuras”, expressão que ela usa para definir sua maneira de encarar o surto global. O fato de o Belvedere concentrar o segundo maior volume de infectados pelo coronavírus não parece abalar a decoradora. “Não estava sabendo disso. Mas eu estou protegida. Não tenho contato com as pessoas que tem COVID-19. Para mim, está tranquilo”, comentou.

A decoradora aproveitou para criticar a imprensa pelas denúncias de aglomerações nas principais pistas de práticas de esporte e lazer da capital. “ Tem coisa sensacionalista e a gente tem que tomar muito cuidado com isso. Hoje, as notícias, a gente tem de pôr na balança”, queixou-se. Ontem, o movimento na Lagoa Seca, que foi cercada por grades, era reduzido. Quem saiu para passear ou se exercitar no local usava máscaras e respeitava a distância orientada pelas autoridades sanitárias. Embora a prática de esportes ao ar livre durante a pandemia não esteja exatamente aconselhada.

Para o revendedor Eduardo Ribeiro, a população está cumprindo o recomendado
Para o revendedor Eduardo Ribeiro, a população está cumprindo o recomendado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


Na Avenida Luiz Paulo Franco, forte ponto comercial do Belvedere, o revendedor Eduardo Ribeiro, de 24 anos, passeava com o cachorro pela calçada com a máscara posicionada abaixo do queixo. Acertou a posição do item de proteção ao ver as câmeras da reportagem. Não esboçou reação ao ser informado sobre a propagação da COVID-19 na região e avaliou que a comunidade local está cumprindo o isolamento social de forma razoável. “Como na cidade inteira, (o movimento) já está começando a voltar. Mas nada igual antes. Acredito que a população está cumprindo o recomendado”, pontuou, apontando para as lojas das redondezas – sem grandes filas ou tumultos.

Guilherme Mendes diz não temer o cenário da pandemia no Bairro Belvedere
Guilherme Mendes diz não temer o cenário da pandemia no Bairro Belvedere (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


O office boy Guilherme Mendes, de 19, não mora no Belvedere. Trabalha há três meses em uma loja de móveis da Luiz Paulo Franco. Resignado, ele diz não temer o cenário da pandemia no bairro, mas acredita que a reabertura do comércio pode ajudar a agravar a situação. “Tem muita gente que vem para cá para trabalhar. O ônibus está sempre lotadíssimo. As vezes isso ajuda”, pondera.
 

'Rapidinho'

Valquíria disse que ouviu falar da propagação do vírus no Buritis, por isso, faz tudo rapidinho na rua
Valquíria disse que ouviu falar da propagação do vírus no Buritis, por isso, faz tudo rapidinho na rua (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
No Buritis, próximo da Avenida Mário Werneck – onde o movimento era pouco maior que o observado no Belvedere –, as pessoas não se mostravam dispostas a entrevistas. Temiam ser “fiscalizadas”. Valquíria Damasceno, de 51, aceitou falar após alguma insistência, mas foi breve nas respostas. “Ouvi falar (da propagação do vírus no Buritis). Por isso, venho aqui rapidinho, faço o que tenho que fazer e vou embora”, justificou. Questionada sobre as aglomerações em bares e quadras esportivas outrora flagradas na região, a professora afirma que o respeito ao isolamento social melhorou, sobretudo após as denúncias e reforço da fiscalização. “Aqui no bairro, depois das 19h, não tem ninguém na rua mais”, disse. A estudante Vanessa Gomes, no entanto, acredita que as pessoas continuam fazendo festas, só que em casa. “Vejo muita gente combinando no Whatsapp. Ninguém está preocupado”, relata a jovem de 16.

A estudante Vanessa Gomes acredita que as pessoas continuam fazendo festas em casa
A estudante Vanessa Gomes acredita que as pessoas continuam fazendo festas em casa (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


A única demonstração de sobressalto veio da pedagoga Vera Torres, de 69. “Tudo isso me assusta muito”, confessou a idosa, que é sergipana, mas mora há 14 anos no Buritis. Talvez porque acompanhe o drama da COVID-19 de perto. Vera conta que vários membros de sua família, que mora em Aracaju, foram contaminados. “Minha nora está saindo de uma pneumonia. Pegou o vírus do meu filho, que se infectou indo para o trabalho. Um dos meus netos também já testou positivo. Esse vírus é complicado, nem os infectologistas estão entendendo . Minha nora se curou, mas continua tossindo. Perguntou ao médico se a tosse poderia ser emocional. Porque ela está estressadíssima, né? Ele não soube dizer, explicou que ainda não se sabe das sequelas que o vírus deixa”, relatou. Com a inquietude de quem está bem-informada.

Vera Torres teve alguns membros da família infectados pelo coronavírus, que classifica como complicado
Vera Torres teve alguns membros da família infectados pelo coronavírus, que classifica como complicado (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


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