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Estado de Minas EDUCAÇÃO

Coronavírus: as limitações do ensino a distância em Minas

A rede estadual retomou as aulas desde o dia 18, mas ainda há problemas no sistema remoto e estudantes reclamam, principalmente, da falta de contato com o professor


29/05/2020 04:00 - atualizado 29/05/2020 11:15

Rebeca Rezende está no 7º ano e acompanha aula pela TV, em BH(foto: Simone Rezende/Arquivo pessoal )
Rebeca Rezende está no 7º ano e acompanha aula pela TV, em BH (foto: Simone Rezende/Arquivo pessoal )

As aulas da rede estadual de ensino recomeçaram há 12 dias. Depois de longo conflito com o Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais (Sind-UTE/MG), a Secretaria de Educação conseguiu retomar as aulas no estado. Hoje, a pasta comemora o número de alunos que aderiram ao programa virtual de ensino, apesar de saber que 700 mil não terão acesso. Por outro lado, professores e diretores reclamam da falta de recursos oferecidos pelo governo e tentam buscar medidas alternativas para fornecer uma educação digna e eficiente aos alunos. 

Conforme dados divulgados pela secretaria ao Estado de Minas, até quarta-feira mais de um milhão de alunos tinham recebido os Planos de Estudos Tutorados (apostilas) em arquivos pelos meios virtuais. O número considera os PDFs que foram enviados via site do programa e e-mail, deixando de fora os downloads realizados pelo aplicativo Conexão Escola, desenvolvido justamente para garantir a comunicação entre os alunos e professores.

Além disso, a secretaria informou que, até o momento, cerca de 380 mil alunos já receberam as apostilas impressas em suas residências. Isso acontece no caso dos alunos que não têm acesso à celular e internet. Cabe ao diretor da escola organizar como será feita a impressão e a entrega aos alunos. 
 
“Grande parte das escolas que a gente tem conhecimento tem optado por terceirizar a impressão e distribuição dessas apostilas. Os nossos auxiliares de serviços gerais estão lá de forma esporádica. Quem está autorizado estar todo dia na escola é apenas o diretor. Portanto, é humanamente impossível o diretor imprimir e entregar a apostila para todos os alunos. Além disso, as máquinas que temos nas escolas não são boas e algumas não funcionam”, explica uma das coordenadoras do coletivo Gestores Articuladores Independentes de Escolas Estaduais, Neimara Lopes.
 
O grupo reúne diretores de 170 escolas estaduais de Minas, sendo a maioria na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo Neimara, as impressões dos primeiros volumes das apostilas estão sendo custeadas pelos caixas das escolas. No entanto, a Secretaria de Educação ainda não disponibilizou nenhum recurso específico para o serviço. “A gente sabe que vai ter outros volumes da apostila, mas eu só tenho como garantir a impressão e a entrega do primeiro volume”, comenta. 

Aplicativo


Até essa quarta, o Conexão Escola já teve mais de 1 milhão de downloads na Google Play Store. A plataforma ainda não está disponível para o sistema IOS, do iPhone. Toda a navegação no app é custeada pelo Governo de Minas, sem a necessidade de uso do pacote de dados dos servidores e estudantes. A secretaria ainda informou que o site do Estude em Casa já teve mais de 12 milhões de acessos, sendo em média, 1,5 milhão de acessos diários.
 
Inicialmente, o governo previu que um chat seria disponibilizado no aplicativo para facilitar a comunicação entre alunos e professores. A ideia era de que o sistema começasse a funcionar na última segunda-feira (25), mas não foi o que ocorreu.
 
“Como houve alguns erros no app, esse chat não iniciou essa semana. A projeção é que inicie na próxima semana. Com isso, tem escolas que estão criando grupos no Facebook, Whatsapp e Instagram. Já que o meio oficial não está funcionando, tivemos que buscar recursos alternativos”, afirma Neimara.
 
Ainda que educadores busquem um planos B para se aproximar dos alunos, vários jovens continuam fora do programa. Isso porque, segundo o governo estadual, 700 mil, dos 1,7 milhão de matriculados, não têm acesso a celular, internet ou sinal da Rede Minas. 

Vinícius tem 17 anos, está no 3º ano e quer cursar edificações e arquitetura:
Vinícius tem 17 anos, está no 3º ano e quer cursar edificações e arquitetura: "Faz total diferença ter aula presencial e poder tirar dúvida na hora" (foto: Vitor Fernandes/Arquivo pessoal)
 

Para atenuar esse problema, diretores criaram um esquema de telefonema entre educadores e alunos. “Para alguns alunos, o máximo que vamos conseguir é o contato por telefone, que é o que temos feito na nossa escola. Às vezes, eles até têm a internet, mas ela é ruim ou o celular tem uma tela muito pequena. Mesmo esses alunos que têm acesso, a gente tem que ver com que insumos que ele acessou. São 3.601 escolas estaduais, portanto, são realidades muito distintas”, finaliza.

Instabilidade


As aulas são transmitidas diariamente via sinal da Rede Minas, emissora pública do estado. Contudo, apenas 186 municípios têm acesso ao sinal da emissora, deixando vários alunos de fora do programa.
 
Uma solução encontrada pela secretaria foi transmitir as aulas também no site da emissora. No entanto, alunos vêm tendo dificuldades em acompanhar as aulas, uma vez que com o grande número de pessoas acessando o portal ao mesmo tempo, o site fica instável.
 
Em entrevista ao Estado de Minas nessa segunda-feira, o governador Romeu Zema (Novo) reconheceu os problemas enfrentados durante a primeira semana do programa, mas disse que as aulas virtuais continuarão.
 
“Nossa preocupação, hoje, é melhorar e tornar viável o ensino a distância. Sei que não é tão bom quanto o ensino presencial, mas é o que temos condições de fazer no momento”, pontuou Zema.

Sindicato


Na última quarta-feira, o Sind-UTE apresentou denúncia contra o governo estadual ao Ministério Público do Trabalho e ao Ministério Público Estadual. O sindicato alega que os regime remoto de aulas vem trazendo graves transtornos à categoria e aos estudantes.

Irmão de Rebeca, Gabriel Rezende está no 9º ano e também assiste as aulas pela TV(foto: Simone Rezende/Arquivo pessoal)
Irmão de Rebeca, Gabriel Rezende está no 9º ano e também assiste as aulas pela TV (foto: Simone Rezende/Arquivo pessoal)
 

No documento, o sindicato defende que o programa apresentado pela Secretaria de Educação “impõe aos educadores a responsabilidade de arcar com plano de internet para atender aos estudantes. Além de cargas horárias extenuantes, acompanhamento de dezenas de grupos de Whatsapp, correção de atividades de madrugada”.

Visão dos alunos

 
São vários anos de escola para um dia cursar o ensino médio e realizar o sonho de entrar na faculdade. No entanto, com a pandemia de COVID-19, Vinícius Fernandes, 17, viu mais um obstáculo para alcançar seu objetivo de cursar edificações e arquitetura no ensino superior. Estudante do 3º ano do ensino médio de uma escola estadual em Belo Horizonte, ele teve que aprender a estudar sozinho.
 
Desde a semana a passada, vem assistindo as aulas disponíveis diariamente pela Rede Minas e praticando os exercícios das apostilas elaboradas pela secretaria. No entanto, ele sabe das limitações das aulas à distância. 
 
“As aulas são bem tranquilas, tem vários lugares para acessar. E tem o aplicativo, onde as teleaulas ficam gravadas. Mas faz total diferença ter aula presencial e poder tirar dúvida na hora. Eu até tenho o contato dos professores, mas eu, particularmente, não tiro dúvidas com eles, porque eles têm as coisas deles e estão envolvidos com as coisas da escola”, comenta.
 
Simone Rezende é mãe de dois alunos de escola estadual: Gabriel, que está cursando o 9º ano do ensino fundamental, e Rebeca, no 7º. Os dois acompanham as aulas pela Rede Minas, mas também preferem o ambiente escolar. “Eles reclamam muito da falta de professor, da presença da sala de aula, e da saudade dos colegas. Essas aulas deixam muito a desejar e eles não veem a hora de tudo isso acabar logo”, conta Simone.


A falta do contato com o professor


No interior do estado, a alteração na rotina das famílias por causa do ensino a distância não é diferente, como na casa de Arlete Durães Azevedo Freire, de Montes Claros, no Norte de Minas. Ela é professora da rede municipal, cujas atividades estão suspensas temporiamente por causa da pandemia. No entanto, Arlete continua se dedicando ao ensino, mas dos próprios filhos, Narciso Durães Freire, de 14 anos, e João Marcos Durães Freire, de 10. Ambos estão matriculados na rede estadual em Montes Claros, acompanhando as aulas remotas.

Os irmãos João Marcos (E) e Narciso, de Montes Claros, utilizam celular e contam com a ajuda da mãe, Arlete, que é professora(foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
Os irmãos João Marcos (E) e Narciso, de Montes Claros, utilizam celular e contam com a ajuda da mãe, Arlete, que é professora (foto: Luiz Ribeiro/EM/D.A Press)
 

“O ensino a distância requer disciplina. E essa disciplina é estabelecida pelos pais, que auxiliam os filhos nas atividades todos os dias. Por isso, o sistema sobrecarrega os pais”, afirma Arlete. Ela afirma que está dedicando cinco horas no acompanhamento dos filhos na casa simples da família, no Bairro Santa Rita. 
 
Narciso Durães, o filho mais velho de Arlete, está cursando o 9º ano do ensino fundamental na Escola Estadual Gonçalves Chaves, no centro de Montes Claros. “Estou gostando das aulas a distância. As matérias estão bem aplicadas”, afirma Narciso. Porém, ele reclama da “falta de contato físico”. “A tecnologia nunca vai substituir o professor presencial”, afirma. 
 
O irmão de Narciso, João Marcos, que está no 5º ano na Escola Estadual Francisco Sá (também localizada no centro), concorda: “O celular não substitui o professor. Acho que a aula a distância nunca será a mesma coisa da aula na escola”, afirma João Marcos.
 
Por outro lado, João Marcos disse que defende a aula a distância para a proteção contra a transmissão da COVID-19. “Na minha escola tem salas pequenas. Se continuassem as aulas lá e se alguém (algum aluno) tivesse o coronavirus iria 'pegar' em todo mundo”, diz o estudante.

João Paulo Viana da Silva, de 17 anos, mora em Francisco Sá, no Norte de Minas, e reclama que o tempo de aula diminuiu muito, já que estuda em tempo integral na escola(foto: Ana Thais Viana/Arquivo pessoal)
João Paulo Viana da Silva, de 17 anos, mora em Francisco Sá, no Norte de Minas, e reclama que o tempo de aula diminuiu muito, já que estuda em tempo integral na escola (foto: Ana Thais Viana/Arquivo pessoal)
 

Além de assistir as aulas pela televisão (Rede Minas), os dois irmãos recebem os conteúdos pelo aplicativo Whatsapp. Também recorrem às apostilas, disponibilizadas pela Secretaria Estadual de Educação pela internet. 
 
Outro estudante que teve que se adaptar ao modelo de ensino a distância por causa da pandemia do coronavírus é João Paulo Viana da Silva, de 17 anos, matriculado no 3º ano do ensino médio, na Escola Estadual Tiburtino Pena, em Francisco Sá, município de 26 mil habitantes, também no Norte do estado. 
 
Joao Paulo reclama que com o sistema remoto teve reduzidas as horas de aulas, tendo em vista que está matriculado na escola em tempo integral. “Antes, eu assistia nove horas por dia de aulas presenciais. Agora, tenho aulas a distância com professores somente 40 minutos por dia”, assegura o estudante, que recebe os conteúdos por um computador em sua casa. 
 
Ele também alega que no modelo de aulas não presenciais o aprendizado é mais complicado. “Nesse sistema, não existe uma interação com os professores para esclarecer dúvidas, especialmente na área das ciências humanas. Nas matérias de ciências exatas, falta por parte dos professores mais explicações e demonstrações práticas sobre o conteúdo ensinado”, observa o adolescente de Francisco Sá. 


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