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Estado de Minas COVID-19

As histórias de cinco mães especialmente essenciais

Conheça as histórias de cinco mães que, com o coração apertado, deixam os filhos em casa para ajudar a manter BH funcionando durante a pandemia


postado em 10/05/2020 04:00 / atualizado em 10/05/2020 07:35

Cristina da Silva, que trabalha em um laticínio na Feira dos Produtores, com a filha Kétlin, de 17, e o filho Thiago, de 10(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Cristina da Silva, que trabalha em um laticínio na Feira dos Produtores, com a filha Kétlin, de 17, e o filho Thiago, de 10 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
 

 

Cíntia acelera para fazer a entrega, Cristina aperta o passo a caminho do ponto de ônibus e Cláudia acorda de madrugada com o céu ainda estrelado. Ao longo do dia, Stefany se desdobra nos cuidados aos pacientes, enquanto Cleidimeire mantém a energia na nova dinâmica de atendimento. A exemplo de outras profissionais que não podem parar durante a pandemia do novo coronavírus, as cinco mineiras precisam conciliar atividades domésticas e trabalho – afinal, quem está no isolamento social quer pão quente à mesa, ingredientes para preparar a refeição, urgência na chegada de encomendas, e, se necessário, compra de remédio e acolhimento hospitalar. Neste domingo dedicado às mães, e completamente surpreendente pela falta de celebrações devido à COVID-19, o Estado de Minas conta um pouco do cotidiano de mulheres que ajudam a manter estabelecimentos abertos e serviços essenciais disponíveis à população, em Belo Horizonte, desde o decreto municipal em vigor desde 20 de março. Se para cada uma vale o esforço diário, lá no fundo do coração há um descompasso entre a data especial e a ausência do abraço mais demorado dos filhos e da animada festa em família.

 

Ruas e avenidas não têm segredo para Cíntia Rocha, de 42 anos, que conhece Belo Horizonte como a palma da mão. Com orgulho, ela se declara “motogirl”, mas, deixando de lado a língua inglesa, a tradução em bom português é entregadora. Mãe de João Albert, de 20, e Sophia Pérola, de 7, a moradora do Bairro Coqueiros, na Região Noroeste, conta que, neste período de isolamento social, vem trabalhando dobrado: “As demandas aumentaram muito e, felizmente, as ruas estão mais vazias. Tenho muitos clientes, principalmente mulheres, e não posso deixar ninguém na mão”.

Trabalhando como nunca, a %u2018motogirl%u2019 Cíntia está sofrendo com o isolamento social, já que a filha Sophia Pérola está ficando com o pai(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Trabalhando como nunca, a %u2018motogirl%u2019 Cíntia está sofrendo com o isolamento social, já que a filha Sophia Pérola está ficando com o pai (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Desde o inicio da pandemia, a filha Sophia Pérola tem ficado na casa do ex-marido de Cíntia, no Bairro Jardim Europa, na Região de Venda Nova, e é lá que a família vai se reunir hoje. “Somos todos amigos. Além de cumprimentar minha sogra, é aniversário de 20 anos do meu filho. Vamos manter o distanciamento, será bem diferente dos outros anos, mas terá um churrasquinho.”


Para Cíntia, o pior do isolamento é ficar longe de Sophia Pérola, que passa a quarentena na companhia do pai. “Sempre que posso, vou vê-la”, diz a motogirl. Na manhã de quarta-feira, já de partida para desempenhar sua atividade, ela revelava que o desejo de ser entregadora a acompanha de longa data. “Fui balconista e ficava pensando nessa profissão, na qual me descobri. Não posso reclamar de nada, pois fundamental mesmo é trabalhar e não deixar faltar nada para meus filhos.”

“ABRAÇO DO MEDO”

Se a motogirl Cíntia Rocha tem autonomia na sua mobilidade, a vendedora Cristina da Silva não pode dizer o mesmo, pois é completamente dependente de transporte público. Moradora do Bairro Jardim dos Comerciários, na Região de Venda Nova, e há 25 anos trabalhando na Feira dos Produtores, na Região Nordeste de BH, a mãe de Kétlin, de 17, e Thiago, de 10, pega dois ônibus para chegar ao local de trabalho. No período de pandemia, garante que muitas vezes trafegou no coletivo “lotado, em pé”.
Funcionária do Laticínios Borba, Cristina, viúva, não esconde o brilho nos olhos ao dizer que é “pai e mãe”. O pior de toda a situação, avalia, é chegar em casa no fim do dia e não poder abraçar os filhos, que ficam com a mãe dela, de 73 anos. “Estamos nessa situação há dois meses e meio, por isso fico atenta. Ao chegar do serviço, tomo um banho e só aí vou mexer com as coisas de casa. Depois, 'entro de novo no chuveiro' e vou ver minha mãe, Maria da Conceição, que mora ao lado. Precisamos ter muito cuidado.”


Se em outros tempos a família comemorava o Dia das Mães, desta vez será duplamente silencioso. “Perdi recentemente meu irmão, Carlos Alberto, de 44, vítima de infarto. Morreu dormindo. E agora tem o coronavírus”, lamenta Cristina. Os olhos ficam opacos por uns instantes, e ganham de novo a luz da alegria, quando fala nos filhos. “São minha vida. Infelizmente, desta vez, o abraço será de medo, as pessoas não podem festejar uma data tão importante. Mas isso vai passar. O que mais desejo para todas as mães é que elas tenham saúde e que Deus nos livre de todos os males.”

(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Funcionária de uma padaria, Cláudia Rodrigues acorda às 3h30. No detalhe, os quatro filhos: Bruna, de 21, Bárbara, de 16, Victor, de 13, e Sofia, de 7 (foto: Arquivo pessoal)
Funcionária de uma padaria, Cláudia Rodrigues acorda às 3h30. No detalhe, os quatro filhos: Bruna, de 21, Bárbara, de 16, Victor, de 13, e Sofia, de 7 (foto: Arquivo pessoal)
 

DOCE AFETO

O dia começa cedo, mas muito cedo mesmo, para Cláudia Rodrigues de Oliveira, de 39, moradora do Bairro Cristina B, no distrito de São Benedito, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Mas só de pensar nos quatro filhos – Bruna, de 21, Bárbara, de 16, Victor, de 13, e Sofia, de 7 – ela se enche de energia e disposição. “São o maior valor que tenho no mundo”, resume.


Vendedora da padaria e confeitaria Bella Itália, no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste da capital, Cláudia também não parou de trabalhar neste período, pegando dois ônibus todos os dias para chegar ao serviço. Enquanto a cidade dorme, ela está de pé, pois acorda às 3h30. “Com esta pandemia, fico mais preocupada, mas sei que meus filhos cuidam uns dos outros. Falo com eles pelo celular quase o tempo todo, para ficar tranquila. Minha filha mais velha já trabalha.”


Na volta para casa, por volta das 16h, são naturais os carinhos entre pais e filhos. “Eles gostam mais de abraçar e beijar. Mas é daquele jeito, né? Já vou direto pro banho, pois praticamente fico fora a maior parte do dia. Depois, sim, sou toda dos meus filhos.”

 

 

A enfermeira Stefany, com o filho Dante, de seis meses, trabalha diretamente com pacientes da COVID-19(foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A Press)
A enfermeira Stefany, com o filho Dante, de seis meses, trabalha diretamente com pacientes da COVID-19 (foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A Press)

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
 

SABEDORIA

Médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e demais profissionais da área de saúde estão na linha de frente neste tempo em que a pandemia assombra o mundo. Com a enfermeira Stefany Jackelline Moreira Lima não é diferente, com um detalhe: ela acabara de chegar da licença-maternidade do primeiro filho – Dante, agora com seis meses – quando foi confirmado o primeiro caso de COVID-19 em Belo Horizonte.
Coordenadora das unidades de Cuidados Cirúrgicos e Isolamento Respiratório da Santa Casa BH, onde ficam pacientes com a COVID-19, Stefany conta que o retorno ao trabalho no meio de um turbilhão não foi fácil, “muitas vezes sofrido”, ainda mais com um bebê em casa, aos cuidados de uma babá. “Ficava com ele apenas uns 30 minutos por dia”, diz a enfermeira, que declara seu amor pela profissão escolhida. “Faço porque gosto.”


Quando volta para casa no Bairro Nova Vista, na Região Leste da capital, Stefany toma um banho “da cabeça aos pés”, conforme define, para só então cuidar do pequeno Dante. “Estamos trabalhando 24 horas. Quando não estamos no hospital, o telefone está ligado”, afirma. No seu primeiro Dia das Mães, a enfermeira se vale da palavra sabedoria para falar sobre todas as mulheres que deram à luz ou estão grávidas. “Desejo conhecimento para saber educar, sabedoria para cuidar. E que os filhos tenham muita saúde para poder desfrutar de tudo. Mas sempre com sabedoria.”

NOVA DINÂMICA

A busca por álcool em gel e máscaras lotou farmácias e drogarias de Belo Horizonte desde o início da pandemia do novo coronavírus, num movimento que coincidiu, em março, com a vacinação contra a gripe. A partir de um entendimento do prefeito Alexandre Kalil com a direção da Drogaria Araujo, as unidades da empresa se tornaram pontos de imunização. “Houve uma nova dinâmica, mas dentro de uma estrutura que temos, embora redobrando os cuidados para receber as pessoas, especialmente os idosos”, conta Cleidimeire Duarte Afonso, gerente da loja Centenário, na Avenida Getúlio Vargas, no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul da capital.

A gerente de farmácia Cleidimeire Duarte Afonso, com o filho Joaquim, de 4 anos. Ela mora em Vespasiano e trabalha no Bairro Funcionários, em BH(foto: ARQUIVO PESSOAL)
A gerente de farmácia Cleidimeire Duarte Afonso, com o filho Joaquim, de 4 anos. Ela mora em Vespasiano e trabalha no Bairro Funcionários, em BH (foto: ARQUIVO PESSOAL)

Moradora de Vespasiano, na Região Metropolitana de BH, Meire, como é conhecida, sabe que tem sido uma rotina exaustiva para todos, ainda mais para quem não pode parar de trabalhar. Mas só de chegar em casa e ver o sorriso do filho Joaquim, de 4, o dia está completo. “Ser mãe é um privilégio que Deus nos dá”, acredita.


Neste domingo, Meire vai trabalhar, e só à noite, ao voltar para casa, poderá acarinhar o filho, ao lado do marido, e, juntos, tomarem um chocolate quente. Isso tudo, claro, depois de um banho. “E será que não vai ter presente?”, pergunta o repórter. Meire sorri e responde: “Bem... aí eles vão ter que passar em uma de nossas lojas e comprar”.


Vale informar ao leitor que as entrevistadas nesta reportagem só tiraram a máscara de proteção na hora de posar para as fotos.


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