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Estado de Minas

Moradores denunciam: tráfego pesado é constante em ladeira da tragédia em BH

Desastre que matou psicóloga em carro esmagado por veículo de carga ocorreu em rua íngreme do Bairro Santo Antônio, onde o trânsito de caminhões, apesar de ser proibido, é constante


postado em 20/08/2019 06:00 / atualizado em 20/08/2019 13:17

Destruição e desespero: Honda HRV em que estava psicóloga foi esmagado pelo caminhão e ficou completamente destruído(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Destruição e desespero: Honda HRV em que estava psicóloga foi esmagado pelo caminhão e ficou completamente destruído (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
 
Em 1988, um caminhão a serviço de uma obra desceu desgovernado a Rua Professor Aníbal de Mattos, uma das muitas ladeiras do Bairro Santo Antônio, um dos mais íngremes da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que por sua vez concentra algumas das topografias mais acidentadas da capital. Só parou depois de derrubar um muro e entrar em um terreno, então vago, mas onde hoje existe um prédio. Trinta e um anos depois, o aviso daquela época se transformou em tragédia na mesma via, onde atualmente é proibida a circulação de veículos de carga. Um caminhão de transporte de caçambas arrastou dois carros e esmagou um deles contra uma árvore. A motorista, a psicóloga Ivanilda José Basílio Felisberto, de 58 anos, morreu.
 
Tragédia deixou em choque o filho da vítima(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Tragédia deixou em choque o filho da vítima (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
 
 
Moradores reforçam o fato de que o desastre era uma questão de tempo, ao denunciar que o fluxo de caminhões no local é diário e intenso, apesar da proibição exposta em várias placas. Não é uma situação isolada em uma cidade de topografia montanhosa, onde várias vias têm restrição ao tráfego de veículos de carga, devido à inclinação. Neste ano, segundo a Guarda Municipal, ocorreram apenas 25 autuações por desrespeito a essas áreas de restrição de janeiro a julho, média de 3,6 por mês. No ano passado inteiro foram 29, média de 2,4 por mês.
 
Ver galeria . 18 Fotos Edesio Ferreira/EM/D.A.Press
(foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press )
 
Apesar de a gravidade do desastre de ontem ter chamado a atenção, acidentes na Rua Professor Aníbal de Mattos não são novidades para os moradores. O advogado Fernando Antônio Costa, de 43 anos, mora em um prédio na via desde 1986, e convive com ocorrências há anos. “Em 1988, um caminhão de uma obra desceu desgovernado e atingiu um muro, onde hoje tem aquele prédio”, disse, apontando para o edifício localizado no encontro com a Rua Pitangueiras.
 
Vizinho dele, Carlos Gustavo Veloso, de 39, reclama da falta de fiscalização e informa que, devido ao fluxo de caminhões, nem mesmo sabia que era proibido o tráfego de veículos pesados na rua. “Até carro pequeno tem dificuldade de subir, o asfalto já não é de boa qualidade. Aqui desce caminhão direto: carregados com gás, betoneiras, veículos de mudança... Eu não sabia dessa proibição”, afirmou.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

 

A vítima


A psicóloga Ivanilda José Basílio Felisberto, de 58 anos, morta no acidente que chocou Belo Horizonte ontem, estampava sorrisos em sua rede social. Testemunhas contaram que ela tinha acabado de prestar um atendimento domiciliar quando foi atingida em seu carro, um HRV vermelho, por um caminhão de transporte de caçambas. Ivanilda era divorciada e deixa um filho, Breno Nascimento, de 30. Ele foi ao local do acidente e acompanhou a retirada do veículo da mãe. Segundo Breno, seu irmão também morreu há alguns anos. Ele e a mãe tinham diversas fotos juntos publicadas nas redes sociais. Em 1998, a psicóloga se formou no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, em BH. Natural do Recife, Ivanilda morava e exercia a profissão na capital mineira. Em 15 de novembro ela completaria 59 anos.  
 
(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
O caminhão de transporte de caçambas que provocou a tragédia ontem não tinha Autorização Especial pra Trânsito de Veículo (AETV), da BHTrans, para trafegar no local restrito. Mesmo assim, o motorista se arriscou ao passar pela ladeira, com um peso estimado de 13 toneladas, considerado o peso de aproximadamente 5 toneladas do cavalo mecânico e 8 toneladas de uma caçamba de 5 metros cúbicos cheia.
 
E o risco permanece, já que na via várias caçambas foram encontradas pelo Estado de Minas. Foi exatamente quando um desses reservatórios de entulho seria retirado que o acidente aconteceu, no fim da manhã de ontem. O caminhão parou na Rua Professor Aníbal Mattos, em frente ao número 183, em um dos trechos mais íngremes da via. No local havia duas caçambas. O veículo de carga parou em frente a uma delas e tentou erguê-la. Mas, com o peso, a parte da frente do cavalo mecânico se levantou e ele começou a descer, desgovernado.
 
Pelo caminho, atravessou para o outro lado da via, bateu em uma escada na calçada e atingiu um Palio. O motorista só escapou porque pulou do carro antes de ser atingido. Logo depois, ainda em alta velocidade, o caminhão voltou para o lado direito, e, próximo ao número 125, atingiu o HRV onde estava a psicóloga Ivanilda Felisberto. Moradores afirmam que ela havia acabado de sair de um prédio, onde atendera um paciente. O Palio e o HRV foram arrastados por aproximadamente 70 metros. O veículo de carga só parou ao bater em uma árvore em frente ao número 80. O carro de Ivanilda foi esmagado pelo caminhão. O Palio foi arremessado na descida.

Por causa dos riscos depois do acidente e para retirar a vítima das ferragens, uma grande operação foi montada na rua.  Reboques de alta capacidade foram usadas em uma operação que levou aproximadamente quatro horas.

Sem autorização


O motorista do caminhão, de 57 anos, foi detido e encaminhado ao Departamento de Trânsito (Detran/MG), onde até a noite de ontem ainda era ouvido por um delegado. Com a documentação em dia, o condutor não tinha consumido bebidas alcoólicas, segundo a Polícia Civil.  Segundo o tenente Sílvio Roncone Breygil, da Polícia Militar, o caminhoneiro vai responder pelas infrações. “Será autuado nas leis de trânsito por transitar em local proibido, além de responder pela morte da condutora”, afirmou o tenente Sílvio Roncone Breygil, um dos militares presentes na ocorrência, que mobilizou também bombeiros.
 

Uma vida salva por frações de segundo 

 
A tragédia que tirou a vida da psicóloga Ivanilda José Basílio Felisberto, de 58 anos, no Bairro Santo  Antônio, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, poderia ter sido ainda mais grave. O mecânico de ar-condicionado Marcos Aurélio Braga, de 44 anos, se salvou por pouco. Instantes antes de ser atingido, ele pulou do carro em que estava, um Palio, que foi arrastado por mais de 70 metros pelo caminhão de transporte de caçambas. Com o terço nas mãos ainda no local do acidente ele agradeceu por estar vivo. “Nasci de novo. Só pensei nos meus dois filhos. Eles dependem muito de mim”, afirmou, horas depois do acidente.
 
Depois de se salvar, Marcos se sentou na calçada e chorou. Recebeu ajuda de moradores da região. Ainda trêmulo, mesmo horas depois do acidente, o mecânico ainda se emocionava ao relembrar dos momentos de terror. “Parei o carro em frente o prédio de número 120 e estava esperando meu colega para subir e trabalhar. Foi quando vi o caminhão perdendo o freio e o barulho. Abri a porta e corri para o outro lado”, contou.

Marcos Aurélio Braga conseguiu saltar instantes antes da batida(foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a PRESS)
Marcos Aurélio Braga conseguiu saltar instantes antes da batida (foto: Gladyston Rodrigues/Em/D.a PRESS)

 
O homem afirma que ajudou o caminhoneiro a tentar salvar a psicóloga que estava no veículo esmagado. “Ajudei o motorista na hora que parou para ver se dava para socorrer a mulher. Ele estava desesperado”, disse. “Tentamos tirar ela, mas não tinha mais o que fazer”, acrescentou. “Fui amparado por moradores, que me deram água. Tenho 44 anos, mas considero que nasci de novo”, disse, segurando um terço e uma cruz que ganhou de familiares.
 
O colega de Marcos estava aliviado. “Atrasei alguns minutos. Passei em um posto de combustível para calibrar os pneus e abastecer, mas estava muito cheio”, disse Wander Lúcio. “Era para eu estar aqui junto com ele. Normalmente chego antes”, completou. Depois do acidente, ele foi até o local para ajudar o colega na retirada do carro.


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