(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Saiba como BH quer entrar para seleto grupo da gastronomia mundial

Depois de deixar para trás 26 concorrentes brasileiras, capital mineira volta seus olhos para Paris, onde a Unesco avalia dossiê que pode tornar a cidade referência mundial em gastronomia


29/06/2019 06:00 - atualizado 29/06/2019 07:59

Eliana Batista Luzia, há anos no Mercado Central: 'A criatividade do mineiro é muito grande' (foto: Jair Amaral/Em/D.a press)
Eliana Batista Luzia, há anos no Mercado Central: 'A criatividade do mineiro é muito grande' (foto: Jair Amaral/Em/D.a press)

A candidatura está no forno, a mesa está pronta para a festa e a sala de jantar não poderia ser mais apropriada ao tema: em Paris, uma das mecas da gastronomia mundial, Belo Horizonte põe seus pratos em jogo para conquistar pelo paladar o título de Cidade Criativa concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Depois de deixar para trás outras 26 cidades brasileiras, a capital mineira ficou entre as quatro finalistas, que disputam duas indicações. Cada uma delas se candidata a partir de um ramo que lhe concede identidade cultural.
 
Para concorrer à segunda fase, foi elaborado e entregue dossiê apresentando as potencialidades de BH. As concorrentes da capital mineira são Cataguases, na Zona da Mata mineira, pela produção cinematográfica, Fortaleza, pela moda e design, e Aracaju, pela música.

As quatro candidaturas já venceram uma etapa: foram indicadas pelo Ministério das Relações Exteriores à Unesco, na capital francesa. O resultado é esperado para outubro. Minucioso, o processo se assemelha ao de concessão do título de Patrimônio cultural da humanidade, recebido pelo complexo arquitetônico da Pampulha em julho de 2016.
 
“Nosso grande trunfo é a singularidade de nossa gastronomia. O Brasil tem três grandes gastronomias: a mineira, a baiana e a do Norte. Estamos confiantes em nossa singularidade. A gastronomia faz parte da vida do mineiro, o cozinhar, a cultura dos sabores e saberes”, afirma o presidente da Belotur, Gilberto Castro. O órgão municipal liderou o processo ao lado de chefs da Frente da Gastronomia Mineira e da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel).
 
As candidaturas devem estar em consonância com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que visam estimular ações para o desenvolvimento sustentável, até 2030, com foco em cinco princípios: pessoa, planeta, prosperidade, paz e parceria. “As ações precisam acontecer de verdade, o que pressupõe um alinhamento do poder público e do setor privado em prol da gastronomia. Precisam ser projetos coerentes e voltados para os ODS”, diz o chef Edson Puiati, coordenador do curso de gastronomia do Centro Universitário Una e integrante da Frente Mineira da Gastronomia.

Sintonia

 
Puiati lembra que, há algum tempo, o governo de Minas tem fomentado a cadeia produtiva da gastronomia no estado e que o poder público municipal, liderado pela Belotur, encampou também a culinária como parte da identidade da cidade e setor capaz de expandir a economia.
 
“No passado, Belo Horizonte fez outras apostas, como cidade de aventura, com a campanha Eu Amo BH Radicalmente, e o turismo de negócios. Agora o foco mudou para gastronomia, mais forte e que ficou coerente com o que o estado já faz”, afirma. Em sua avaliação, diversas ações demonstram que o município está se reposicionando para fortalecer a identidade de cidade da gastronomia, como a realização dos festivais gastronômicos, a inclusão da gastronomia no Arraial de Belo Horizonte e abertura de linhas de financiamento na lei de incentivo municipal.
 
Os festivais gastronômicos fazem parte do calendário oficial da cidade, entre eles o Comida di Buteco, pioneiro, realizado há 20 anos; o Botecar, criado em 2014 com o objetivo de retomar as raízes da cultura tradicional de botecos; o Fartura e a Semana da Gastronomia Mineira, eventos que constituem espaço para elaborar estratégias para o setor.
 
Também engrossam a identidade gastronômica da capital os festivais de rua, como o Made in Minas Gerais, realizado em maio, na Savassi, dedicado à culinária mineira. Outro patrimônio são as cozinheiras de Minas e restaurantes tradicionais, como o Dona Lucinha e o Xapuri.

Meta


O presidente da Abrasel e da Frente Mineira da Gastronomia, Ricardo Rodrigues, lembra que Belo Horizonte já se candidatou ao título há dois anos, mas diz que a capital não estava tão preparada quanto agora, em que há sinergia entre diversos setores e o poder público. “É muito importante para a economia mineira esse reconhecimento. Não enviamos um dossiê com páginas de informação. Enviamos a realidade e o calor que Minas tem de acolher. Mostramos quem somos e como fazemos”, pontua Ricardo.
 
Três cidades brasileiras têm o título de Cidade Criativa pelo valor da gastronomia: Belém, no Pará, Florianópolis, em Santa Catarina, e Paraty, no Rio de Janeiro. “A identidade gastronômica mineira é muito forte e superior à de qualquer outro estado brasileiro. Todos os estados têm restaurante de comida mineira”, defende o chef Edson Puiati. Ele lembra que um bom indicativo, que o faz ficar confiante, é fato de Belo Horizonte ter vencido São Paulo na primeira etapa da seleção. “Ganhamos de São Paulo. Foi uma briga boa”, diz, lembrando que a candidatura do estado vizinho teve importantes defensores, como o chef Alex Atala, que figura entre os melhores do mundo.
 
O título de Cidade Criativa pode se tornar um selo reconhecimento da culinária feita na capital mineira, o que é importante para fomentar o turismo e toda a cadeia produtiva da gastronomia. “Um ganho é o próprio reconhecimento e o que ele traz para a cadeia produtiva da gastronomia. Outro ganho é participar da rede de cidades criativas. Ao todo são 180 cidades em 72 países, o que permite uma troca de experiências que é muito rica”, diz Gilberto Rodrigues.


Mercado Central

Um dos equipamentos turísticos destacados no dossiê de Belo Horizonte é o Mercado Central, que completa 90 anos em setembro. O espaço é um paraíso para quem busca produtos mineiros e de qualidade. Lá se encontra de tudo, do queijo fresco aos temperos mais elaborados, passando pelas verduras de quintal.
 
O mercado também tem um dos mais tradicionais restaurantes de comida mineira, o Casa Cheia. Há 40 anos em funcionamento, não houve um dia sequer que o estabelecimento não tenha feito jus ao nome. As mesas estão sempre lotadas e a fila de espera é grande.
 
O carro-chefe é o Mexidoido Chapado, mexido feito com arroz, repolho roxo, brócolis, abobrinha, cenoura, finalizado com ovo de codorna e servido em panelinhas de pedra. “Belo Horizonte merece, com certeza, o título. A criatividade do mineiro é muito grande, os pratos são muito bem elaborados, de acordo com os ingredientes que temos, como o ora-pro-nóbis”, afirma a proprietária, Eliana Batista Luzia.
 
Ela perdeu a conta, mas costuma vender mais de 300 pratos por mês. “Muita gente brinca que temos que trocar o nome para 'Casa lotada'”, diz. Os irmãos belenenses Hermes Bahia, de 25 anos, e Hélder Bahia, de 22, aprovaram o tempero mineiro. Eles experimentaram o prato almôndegas exóticas. “Os ingredientes são do meu agrado. Adoro carne de porco. Um prato muito bom é o feijão-tropeiro”, diz Hermes, com a autoridade de quem vem de Belém, cidade que já conquistou o título de Cidade Criativa exatamente pela qualidade da gastronomia.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)