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Estado de Minas

Desastre de Brumadinho dá origem a povoados fantasmas na beira do Paraopeba

Participantes de seminário em Montes Claros pontuaram que comunidades que existem próximas ao manancial estão sendo esvaziadas no pós-tragédia


postado em 02/05/2019 06:00 / atualizado em 02/05/2019 08:01

Lama da Vale em Brumadinho foi parar no Rio Paraopeba(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS - 01/03/2019)
Lama da Vale em Brumadinho foi parar no Rio Paraopeba (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS - 01/03/2019)
Os rejeitos de minério que vazaram da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de BH, fizeram do Rio Paraopeba “um rio morto”, segundo denunciam ambientalistas.

Devido aos efeitos da tragédia, localidades às margens do manancial estão sendo esvaziadas e virando comunidades fantasmas, sustentaram participantes de seminário promovido na sede da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), com a participação de lideranças de movimentos sociais, pesquisadores e representantes de comunidades atingidas pela catástrofe ocorrida em 25 de janeiro. A atividade foi organizada pelo Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (Gesta) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pela Unimontes e outras entidades.

No encontro, ficou evidente também a grande apreensão entre vazanteiros, pescadores e pequenos produtores ao longo do Rio São Francisco, preocupados com a possibilidade de que o Velho Chico também venham sofrer os efeitos da lama com rejeitos minerais. O rompimento da barragem em Brumadinho provocou 233 mortes, enquanto 37 pessoas seguem desaparecidas, acarretando também grandes impactos ambientais na Bacia do Paraopeba, afluente do São Francisco. Além de debate entre especialistas, o evento teve uma parte dedicada a depoimentos dos atingidos.

Um dos participantes, Clarindo Pereira dos Santos, líder da comunidade tradicional de Canabrava, situada às margens do Rio São Francisco, no município de Buritizeiro (Norte de Minas), disse que constatou in loco os danos provocados pela tragédia de Brumadinho ao fazer “visitas solidárias” a localidades ao longo do Rio Paraopeba, para verificar danos provocados pela lama de rejeitos de minério. “Ouvimos depoimentos, olhando nos olhos das pessoas, entre pescadores, vazanteiros, pequenos produtores e demais ribeirinhos”, relatou Clarindo.

Ele informou que constatou que muitas dessas pessoas estão abandonando os lugares de origem, diante da falta de condições de vida nas áreas afetadas pela lama, já que ficaram impossibilitadas de plantar e não podem consumir e nem usar a água do Paraopeba. “Descobrimos que comunidades (nas margens do Paraopeba) estão se tornando praticamente fantasmas”, disse.

O líder comunitário citou como exemplo uma comunidade do município de São José da Varginha (Região Central do estado), onde esteve por duas ocasiões após o rompimento da barragem em Brumadinho. “Na primeira vez em que estivemos no lugar, logo depois do desastre, existiam lá umas 30 famílias. Quando retornamos, recentemente, encontramos muitas casas abandonadas”, revelou Clarindo. “Por causa da lama, ribeirinhos não podem plantar e colher nada a 100 metros do rio. Não podem aproveitar a produção do que plantaram nem para fazer ração para animal”, lamentou.

O líder comunitário disse que existe uma grande preocupação de moradores das dezenas de comunidades situadas nas proximidades do Rio São Francisco de que eles também venham ser afetados pelos impactos da tragédia em Brumadinho. “Tudo o que atinge a calha do Rio Paraopeba será transportado, ano a ano, em direção ao São Francisco”, disse, citando a previsão de que, a cada período chuvoso seja carregada mais contaminação para o Velho Chico.

Maria Aparecida Ferreira Paz Souza, moradora da área quilombola de Lapinha, às margens do São Francisco, no município de Matias Cardoso (Norte de Minas), disse que a preocupação da comunidade, onde vivem 120 famílias, é de que a poluição venha a impedir o uso da água do manancial. “O nosso medo é de não puder mais beber e usar a água do São Francisco. O rio é nossa vida”, disse.

O integrante da Comissão da Pastoral da Terra (CPT) Alexandre Gonçalves disse que também participou de uma peregrinação de representantes de pastorais e de movimentos sociais pelo Rio Paraopeba, desde Brumadinho até a usina hidrelétrica de Três Marias, já no São Francisco, percorrendo cerca de 330 quilômetros. “Constatamos que o Paraopeba está praticamente morto. Em um trecho perto de Brumadinho, o rio virou um caldo de ferro e de rejeitos minerários. Acabou-se qualquer forma imaginável de vida naquela altura”, afirmou Gonçalves.


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