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Estado de Minas

Mulheres que trabalham em Brumadinho mostram a força de ser bombeira

Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais é formado por apenas 8,45% de mulheres. Major Karla e sargento Daisy contam como é ser minoria na corporação, que teve a primeira turma de bombeiras militares em 1993


postado em 08/03/2019 12:56 / atualizado em 08/03/2019 13:40

Major Karla foi a piloto de uma das primeiras aeronaves a chegar no local da tragédia(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
Major Karla foi a piloto de uma das primeiras aeronaves a chegar no local da tragédia (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)

O desafio de ser mulher em uma corporação formada por 91,55% de homens é diário. O serviço do Corpo de Bombeiros Militar muitas vezes exige força, elemento que é associado ao homem, ficando longe do sexo, dito, frágil. Elas têm que provar, além da força, o poder de superação de si mesmas e de preconceitos estabelecidos pela sociedade. Mulheres que atuaram no resgate de vítimas do rompimento da barragem de rejeitos de minérios da Vale em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, mostram que são capazes de desbravar as duas primeiras décadas da presença feminina na corporação neste Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março.

major Karla Lessa Alvarenga Leal, de 36 anos, é piloto de uma das primeiras aeronaves dos bombeiros a chegar em Córrego do Feijão. No comando da equipe, ela ajudou a resgatar uma das vítimas ainda com vida. “Ali tinha que transparecer segurança e tranquilidade”, disse a major, que teve que colocar em prática tudo que viu na teoria para que o resgate fosse bem feito e o mais rápido possível, mas a experiência também foi fundamental. Doze dias antes da tragédia em Brumadinho, a mesma tripulação comandada por ela resgatou uma mulher que escorregou e ficou presa nas pedras da Cachoeira do Tabuleiro, em Conceição do Mato Dentro, na Região Central de Minas. “Eu disse para a equipe: nós fizemos um ensaio para Brumadinho naquele resgate.”

Major Karla estudou no Colégio Militar de Belo Horizonte. Quando saiu, prestou concurso para estudar engenharia química na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e também para ser bombeira. Ela foi aprovada nas duas opções, mas escolheu a carreira militar. Karla entrou na corporação em 2001 e se tornou a primeira mulher comandante de helicóptero de bombeiros militar do Brasil. “O processo de ser um bom comandante de aeronave exige um profundo estudo e bastante treinamento. Cada etapa tem um desafio específico e não ser aprovado é ruim. Existe a pressão e isso talvez seja o desafio. É também o que motiva, sem dúvida”, disse.

Busca por igualdade

Major Karla se tornou a primeira mulher comandante de helicóptero de bombeiros militar do Brasil(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
Major Karla se tornou a primeira mulher comandante de helicóptero de bombeiros militar do Brasil (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press)
O desafio de mostrar que a mulher é capaz de exercer as mesmas funções que os homens não foi diferente na corporação. O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais é uma organização que garante o tratamento igualitário entre os sexos. Não existe distinção nos sistemas de promoção, remuneração e atividades, mas é uma corporação onde existe uma mulher para cada 11 homens. “Todo lugar onde um determinado sexo é minoria tem que superar alguns obstáculos. Igualdade de gênero é realidade no bombeiro como órgão, mas ele é formado por pessoas, que é o reflexo da sociedade, que tem origem patriarcal, que tem resquícios de alguns momentos de machismo e isso reflete no comportamento das pessoas em algum momento na corporação", disse a major.

Nos concursos para integrar a corporação, pelo menos 10% das vagas são para mulheres. A sargento Natalia Daisy Ribeiro, de 31, concorreu a vaga há nove anos e hoje se encontrou na profissão. “Eu fazia enfermagem e não gostava. Quando passei no concurso, fiquei muito feliz. Me sinto privilegiada de ter conseguido uma oportunidade”, revela a militar, que garante não existir disputa entre homens e mulheres.

A primeira turma a receber mulheres no Corpo de Bombeiros Militar foi em 1993 e o aumento da presença feminina é um fator de incentivo. A sargento Daisy conta com alegria que hoje se inspira em outras bombeiras. “A cabo Carolina é a melhor do mundo. Eu sempre digo: quero ser igual ela quando eu crescer”, disse, lembrando também da professora tenente Silva.

Durante os trabalhos em Brumadinho, Daisy ficou 24 dias longe da família. “É muito triste, porque, querendo ou não, a gente se coloca no lugar da família, mas os moradores da comunidade nos acolheram”. Por lá, ela contou que as pessoas ficavam surpresas quando a viam. “Muita gente ainda não sabe que tem bombeira. As pessoas falam: ‘Olha lá, ela é mulher’. Algumas meninas também ficavam espantadas e eu dizia: ‘Menina pode fazer o que quiser.’

E elas fazem isso sem perder a feminilidade. “Não tem nada que impeça de ser feminina e continuar sendo vaidosa”, completou a sargento.


*Estagiária sob supervisão da subeditora Regina Werneck


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