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Estado de Minas

Dos 316 desaparecidos e mortos em Brumadinho, 128 são funcionários da Vale

Total de corpos resgatados na área do desastre chega a 157, dos quais 23 ainda não foram identificados


postado em 08/02/2019 06:00 / atualizado em 08/02/2019 09:53

Bombeiros chegam à área do desastre para mais um dia de trabalho: 182 pessoas continuam desaparecidas, 55 delas funcionários da mineradora(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Bombeiros chegam à área do desastre para mais um dia de trabalho: 182 pessoas continuam desaparecidas, 55 delas funcionários da mineradora (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


Brumadinho – Pode passar de 300 o número de mortos no rompimento da barragem da Vale em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, levando-se em consideração que a chance de encontrar sobreviventes em meio aos desaparecidos é praticamente zero, segundo o Corpo de Bombeiros. Caso nenhuma das 182 pessoas que constam como não localizadas seja encontrada com vida, o total de óbitos chegará a 316. Até o momento, 134 corpos já foram devidamente identificados pela Polícia Civil, na maior tragédia humana da história da mineração no Brasil. As informações disponibilizadas pela Vale apontam que nesse conjunto de vítimas (mortos resgatados + desaparecidos) há pelo menos 128 funcionários diretos da empresa. Os demais mortos eram funcionários de outras firmas que prestavam serviços para a Vale e também moradores e visitantes da comunidade atingida. Ontem, o total de corpos resgatados chegou a 157, sendo que 23 ainda não haviam sido identificados.

Luiz Paulo Caetano, de 31 anos, é um dos operários que ainda estão desaparecidos no mar de lama. De Nova Lima, na Grande BH, ele foi contratado como mecânico de manutenção por uma empresa terceirizada da Vale. “Se eu pudesse, mergulhava na lama para achá-lo”, disse o pai de Luiz, Wilson Caetano, de 64. Ele relatou que o filho estava havia dois dias trabalhando na Mina Córrego do Feijão, que se rompeu em 25 de janeiro. “Ele vinha para cá de vez em quando. Não foi sua primeira vinda e nunca se queixou de insegurança”, completou.

O mecânico de manutenção se levantava cedo todos os dias, beijava a mãe e saía para ganhar o pão de cada dia. Ele se casou no fim de 2018, depois de 10 anos de namoro, com planos de fazer a família crescer rapidamente. “Ele queria ter filhos logo. Dizia que ia ficar velho. Gostava muito de crianças”,  contou Wilson. Sonhos que foram interrompidos pelo desastre, cujas proporções tiram do pai a esperança de encontrar o filho vivo. “Quero é enterrar o meu filho. Quero uma resposta, saber por que eles assassinaram o meu filho. Eles mataram e estão soltos, andando de avião. E eu aqui, na lama, esperando uma resposta”, cobrou.

Ontem, o tempo nublado e chuva fina fizeram com que a equipe do Corpo de Bombeiros que trabalha nas buscas por Luiz e as demais vítimas da tragédia se deslocasse apenas por meio de viaturas. Isso porque a falta de visibilidade limita o voo com helicópteros. De acordo com o tenente-coronel Anderson Passos, durante o dia, 492 bombeiros foram divididos em 38 equipes. Na quarta-feira, em coletiva de imprensa, a corporação informou que as buscas estavam concentradas em dois pontos: a área do vestiário e o estacionamento da Vale. Máquinas pesadas auxiliam fazendo escavações profundas na área. Os cães também foram extremamente necessários nas buscas de ontem. Dezessete cães atuam na cidade. Outros 10 animais de outros estados são esperados para auxiliar nas buscas.

A cidade acompanha ansiosa os trabalhos de resgate e aguarda novas notícias. Mesmo quem não perdeu parentes perdeu amigos ou vizinhos. “Aqui todo mundo conhece todo mundo”, contou o aposentado Nelson Maia, de 73. A pequena comunidade é muito unida.  Só para se ter uma ideia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população estimada de Brumadinho é de 39.520. Até as últimas atualizações, a tragédia fez 316 vítimas (entre mortos e desaparecidos), número que corresponde a quase 1% de toda a população. Se o fato ocorresse em Belo Horizonte, esse mesmo percentual corresponderia a pelo menos 25 mil vítimas. “Não há uma pessoa que não conheça alguém que tenha morrido. Nos encontrávamos para jogar bola, tomar uma, fazer a farra. Perdi todos os meus amigos”, lamenta. Ele explica que esses amigos residiam na área rural da cidade. De acordo com boletim divulgado ontem pela Defesa Civil, entre os desaparecidos, 55 são funcionários da Vale e 127  empregados terceirizados ou membros da comunidade.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Ainda segundo o aposentado, há pelo menos quatro meses um treinamento de fuga foi feito na comunidade para um eventual rompimento da barragem. Ele acredita que nessa época a Vale já sabia dos riscos, opinião compartilhada por outros integrantes da comunidade. Não à toa, as apurações e depoimentos que apontam que a mineradora foi avisada dois dias antes do desastre sobre problemas nos sensores que faziam o monitoramento da barragem da Mina Córrego do Feijão aumentaram o clima de revolta.

A Polícia Federal analisa e-mails trocados entre a Vale e duas empresas ligadas à segurança da Barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, que evidenciam que a mineradora tinha sido informada sobre os problemas. Uma das testemunhas afirma que a empresa responsável por atestar a estabilidade da represa vinha sendo pressionada pela mineradora a se manifestar pela segurança do depósito de rejeitos. As informações fazem parte de depoimentos prestados pelos engenheiros Makoto Namba e André Jum Yassuda, da Tüv Süd Brasil, empresa contratada pela mineradora, divulgados pela TV Globo. “Não me surpreendo. Tenho certeza de que eles sabiam de tudo. E, o pior de tudo, é que nós não fazíamos ideia. Os avisos que seriam dados não foram feitos e a rota de fuga passada foi inviável”, disse um morador do município.

 

Executivo nega pressão


O gerente-executivo corporativo da Vale, Alexandre Campanha, negou em depoimento ter travado o diálogo citado pelo engenheiro Makoto Namba, da Tüv Süd, que disse ter se sentido pressionado por ele a assinar documento atestando a estabilidade da barragem da Mina Córrego do Feijão, que se rompeu em Brumadinho.  “A Tüv Süd vai assinar ou não”, teria dito Campanha, segundo Namba. Na tarde de ontem, dois dias depois de habeas corpus concedidos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), os executivos da Vale e os engenheiros da empresa terceirizada investigados no processo que apura as causas da ruptura da barragem deixaram a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. A decisão inicial da Justiça em Brumadinho era de que a prisão fosse por, no mínimo, 30 dias. Todos saíram tampando os rostos. Os executivos da Vale que estavam presos são Cesar Augusto Paulino Grandchamp, geólogo, Ricardo de Oliveira, gerente de meio ambiente do Corredor Sudeste, e Rodrigo Artur Gomes de Melo, gerente-executivo do Complexo Paraopeba da Vale. Os engenheiros da Tüd Süv são André Yassuda e Makoto Mamba.

 


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