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Estado de Minas

Jogos de tabuleiro reúnem fãs em BH

A quarta edição do UaiBG está sendo realizada na PUC São Gabriel. Brincadeira de "infância" conquista adeptos em um vasto universo de estilo, dados, peças e jogadores


postado em 02/12/2018 06:00 / atualizado em 04/12/2018 09:18

Nos eventos do UaiBG, é comum os gamers levarem seus jogos e disponibilizá-los para o público(foto: Carlos Eduardo Avelin/UAIBG/Divulgação)
Nos eventos do UaiBG, é comum os gamers levarem seus jogos e disponibilizá-los para o público (foto: Carlos Eduardo Avelin/UAIBG/Divulgação)


Em um mundo cada vez mais digitalizado, onde campeonatos mundiais de games estilo XBox dominam, o jogo de tabuleiro, ou o board game (em inglês) como é mais conhecido,  ganha cada vez mais a preferência de diversão. Afinal, quem nunca se reuniu com os amigos ou com a família para um Banco Imobiliário? Pois é, a brincadeira de “infância” tem conquistado muitas pessoas em um vasto universo de estilos, dados, peças e de fiéis jogadores. E para quem acha que essa diversão é uma coisa “recente”, está enganado. Para se ter uma ideia, Belo Horizonte sedia neste fim de semana a quarta edição do UaiBG. A expectativa dos organizadores é que o evento receba aproximadamente 1 mil pessoas entre ontem e hoje. E esse não é o único evento que ocorre na capital.


O motivo para tantos fãs? É que a variedade disponível impressiona. O site Board Game Geek tem catalogados mais de 100 mil jogos espalhados em todo o mundo. Somente os Estados Unidos produzem 1 mil jogos por ano, aproximadamente. O Brasil não fica atrás. O movimento em Belo Horizonte, que começou a crescer no início da década de 2010, já tem encontros de gamers, páginas em redes sociais e grupos no WhatsApp. Além de reunir aficionados pelos tabuleiros, os eventos estimulam a criação de jogos.


João Vitor Cacique Avelin, de 34 anos, um dos organizadores do UaiBG, explica como tudo começou. “Sempre gostei de jogos. Em 2015, um amigo comprou um jogo chamado Colonizadores de Catan, que é alemão e um dos mais vendidos no mundo. Ele é um jogo que também se baseia em sorte (tem dados). E foi a partir desse que descobrimos (ele e os amigos) o gigantesco mercado de jogos modernos. Inclusive, muitos dizem que o Catan é o ‘pai’ deles e certamente o sucesso dele é que levou a esse boom de jogos criados por indivíduos ou pequenas editoras”, explica o professor de idiomas, que cresceu jogando War e Banco Imobiliário.


O hobby não é dos mais baratos, uma vez que muitos jogos ainda não são encontrados no Brasil. Por isso, João Vitor conta que ele e os amigos gastaram um bom valor no final de 2015 e início de 2016. “Se somarmos as compras de jogos na minha turma, deve ter chegado a uns R$ 5 mil fácil. Começamos a buscar os mais elaborados e estratégicos (Terra Mystica, Projeto Gaia, Blood Rage), que às vezes demoram quase tanto como um War ou Banco Imobiliário, mas como eles são mais imersivos, você nem vê o tempo passar.” Ele conta que as partidas do jogo Twilight Imperium duram entre sete e 12 horas. “Lançaram uma edição dele agora que diminuiu um pouco (o tempo de jogo), mas ainda vai entre seis e oito horas.”


Em relação ao tempo, o professor Lucas Bleicher, de 38, relembra um caso que ocorreu com ele. “Um dos meus jogos preferidos, o 1.846, é parte de um nicho que não tem tantos fãs aqui em Belo Horizonte (são jogos sobre investimentos em companhias de trem). Por ser mais pesado, é comum que dure entre três e quatro horas. Uma vez, eu estava de passagem no Rio de janeiro e encontrei uma pessoa, que inclusive cria jogos também, e ele me buscaria para jogar às 10h. Achei até meio estranho e falei ‘nossa, o jogo é longo, mas não tanto assim’ e ele falou ‘ah, é que você nunca jogou com fulano de tal’.” A brincadeira durou 12 horas e só no final ele descobriu que jogava com uma pessoa que era “praticamente uma referência nacional em como se jogar lentamente”.


Apesar dessas histórias, nem todos os jogos são tão longos assim. O chamado ‘party games’, que engloba a maioria dos jogos, tem duração média de uma hora e meia a duas horas, garantindo maior rotatividade de jogadores. Lucas enfatiza que o jogo de tabuleiro aproxima as pessoas. “É uma oportunidade ótima de reunir pessoas e fazer algo menos digital e mais interativo. E acabei até fazendo amigos com esse hobby também”, afirma Lucas, que teve a honra de trocar e-mail com um “papa” dos jogos.


“Cheguei a trocar algumas mensagens com o Mac Gerdts, criador de um dos meus jogos preferidos (o Imperial) e há uns meses fui surpreendido com um e-mail dele perguntando se não daria para a gente se encontrar no Brasil, já que ele estava avaliando a possibilidade de ir a um casamento em São Paulo”, lembra-se. O encontro, segundo ele, não ocorreu porque Gerdts não veio para o Brasil. “Imagina a minha cara quando soube que esse amigo meu, que também é professor na UFMG, foi este ano a Essen (que é o maior evento mundial sobre jogos de tabuleiro e ocorre na Alemanha), encontrou esse autor e ele perguntou sobre mim”, diz satisfeito.

FAMILIAR Apesar de ter um custo um pouco alto – parte dos Board Games são importados –, em eventos gratuitos como o UaiBG é comum os gamers levarem seus jogos para disponibilizar para o público, permitindo que se pegue emprestado, contando ainda com ajuda de monitores, que são os jogadores experientes ou donos, para ensinar. “O evento foi uma ideia minha, que com lojistas da cidade e outras pessoas da comunidade levamos em frente e fizemos a primeira edição em uma loja especializada no Bairro Prado (Região Oeste de Belo Horizonte), em outubro de 2016”, lembra-se João Vitor. Na capital, existem muitas lojas, físicas e on-line, voltadas para esse público, que cresce a cada dia, inclusive entre as mulheres e famílias inteiras.


Esse é o caso do sacerdote Victor Peixoto Pereira, de 47. Pai de três, ele se divorciou quando os filhos ainda eram pequenos. Para driblar a falta de contato, já que a ex-mulher foi morar em Brasília e ele morava em São Paulo na época, encontrou no Board Game uma maneira de se aproximar mais das crianças. “Na primeira visita, percebi que a programação que fazíamos era sempre voltada para algo externo (todos no cinema olhando para a tela, todos jogando videogame olhando para a TV, todos no teatro olhando para o palco etc.). Aí, buscando algo que voltasse nossas atenções uns para os outros, decidi tentar os BGs. Foi sucesso desde a primeira experiência e, desde então, tem sido uma excelente prática de união familiar pra nós”, relembra.


O êxito na empreitada foi tão grande que ele conta que, quando adquire novos jogos, pensa primeiro nos que os filhos gostariam. “(Os filhos) são meu grupo principal. Todas as aquisições que faço priorizam as preferências deles.” A participação feminina tem total aval de Victor, uma vez que a filha e a atual namorada jogam. “Nunca testemunhei algum problema em relação a isso.”

INCLUSÃO PARA DIVERSIDADE DE PESSOAS


A professora de inglês e maquiadora Amana Zanella, de 33 anos, é uma das administradoras da Liga das Garotas Mágicas, o maior grupo de jogadoras da América Latina(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
A professora de inglês e maquiadora Amana Zanella, de 33 anos, é uma das administradoras da Liga das Garotas Mágicas, o maior grupo de jogadoras da América Latina (foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press)
Muitas pessoas acreditam que os board games são diversão voltada para os nerds e os homens, mas isso é um grande engano. Existem jogos para todas as idades, sexo e gostos. Além de tudo, é inclusivo. A professora de inglês e maquiadora Amana Zanella, de 33 anos, voltou a jogar no início desta década quando foi apresentada pelo namorado ao Magic: the Gathering, um dos mais importantes e conhecidos card game do mundo. Hoje, ela é uma das administradoras da Liga das Garotas Mágicas, o maior grupo de jogadoras da América Latina, e de um dos segmentos do jogo, o Magic: the Gathering LGBT. “Durante um tempo fui jogadora eventual até que conheci a Liga e voltei a me apaixonar (pelo jogo). Eu vi num grupo exclusivamente feminino uma oportunidade de compartilhar o hobby com pessoas que tinham os mesmos desafios que eu. Isso foi muito maravilhoso.”


Amana alerta para alguns hábitos machistas que podem atrapalhar a diversão. “Quando comecei a jogar, os meninos me colocaram como iniciante, mas nunca houve preconceito deles. Mas não posso falar que não exista (preconceito). Por mais experiência em determinado jogo, sempre tem um que tenta ensinar, cantar a jogada, dar palpite”, conta. Apesar disso, a professora de inglês diz que isso não impede o crescimento no interesse das mulheres de qualquer idade nos jogos. “Quando entrei no grupo feminino, tinha só umas 30 meninas, hoje tem mais de 800 só no Facebook. Sinto o crescimento porque quando elas percebem que há um ambiente tranquilo e saudável, elas se sentem mais confiantes para ficar no hobby.”


A diversidade é tão bem aceita, que existem grupos de jogos para praticamente todos os tipos. “É gratificante ver que o hobby é bem inclusivo e está alcançando cada vez mais esse status. Mas, como é bastante visual, há certas barreiras de game design que devem ser superadas para alcançar a totalidade, então, para o deficiente auditivo é mais fácil de uma maneira geral, porém para o (deficiente) visual é mais complicado”, diz o empresário paulistano Fernando Celso, de 39, organizador do BoardGames SP, maior evento mensal de jogos de tabuleiro modernos do país. Além disso, ele auxilia e orienta outras reuniões pelo Brasil. Em Belo Horizonte, existe um evento próprio para deficientes auditivos e jogos sendo criados para daltônicos.


Morador de Florianópolis, ele é uma das referências nacionais de board games e explica o sucesso. “O hobby tem crescido bastante e com certeza não é modismo. É algo bem diferente do que estão acostumados em termos de jogos porque não só traz a família à mesa, mas despluga as pessoas do mundo digital, e traz a relação e convivência pessoal para a mesa. Com isso, muita gente faz amizade, formam-se grupos de jogo etc. Com certeza, os board games tendem a fazer as pessoas a conviverem mais pessoalmente umas com as outras. Tem um caráter lúdico muito forte”, atesta o empresário, que já participou de encontros como o GenCon, nos Estados Unidos.

EDUCAÇÃO E USO EM EMPRESAS


Marcelo Abreu/Divulgação(foto: Patrícia Corrêa de Freitas, psicóloga e professora de inglês:
Marcelo Abreu/Divulgação (foto: Patrícia Corrêa de Freitas, psicóloga e professora de inglês: "Muitos desses jogos também são, hoje, levados para dentro de sala de aula para trabalhar habilidades e questões específicas. Temos, inclusive, jogos criados exclusivamente para isso")
Os board games têm outros aspectos, além da diversão. Eles podem ser auxílio para um trabalho do Departamento de Recursos Humanos de empresas para treinamento e podem ajudar na educação. É o que garante a psicóloga e professora de inglês Patrícia Corrêa de Freitas, de 42 anos. “Pode ser muito didático. Temos diversos jogos que têm fundo histórico, que até ganharam prêmios por isso, tem sobre biologia. Enfim, os temas são os mais variados possíveis e sabendo trabalhar isso (na educação), é um ganho fenomenal”, acredita. “Muitos desses jogos também são, hoje, levados para dentro de sala de aula para trabalhar habilidades e questões específicas. Temos, inclusive, jogos criados exclusivamente para isso.”


Patrícia revela que foi convidada, como psicóloga, para desenvolver um trabalho no Rio de Janeiro, onde mora atualmente, para treinamento de equipe e gestores. “São inúmeros os benefícios. Você consegue fazer diagnóstico de grupo, seleção pessoal por meio de habilidades específicas, treinamento. Sujeita-se ao que é necessário. Dependendo do que é requisitado, os jogos de tabuleiro podem vir, sim, como uma ferramenta eficiente para trabalhar essas questões (profissionais), que são analisadas no RH de uma maneira geral.”


A sua preferência é por board games “cabeça”. “Tem uma gama enorme de jogos, para todos os gostos. Os meus favoritos são os que envolvem estratégia e raciocínio. Também gosto dos estilos cooperativos, que são completamente diferentes do que tínhamos como ideia de jogo, em que todos trabalham juntos por um objetivo comum, que são muito bacanas e nos fazem ver os games de uma forma diferente.”



Serviço

UaiBG
Neste domingo, das 12h às 17h
Local: PUC São Gabriel (Rua Walter Ianni, 255)
Estacionamento local
Mais informações: www.uaibg.com.br


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