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Estado de Minas

Grupo de detentos vai restaurar prédios da Praça da Liberdade

Numa parceria entre administração prisional e o Iepha, 52 detentos vão fazer curso e já trabalhar nas obras de revitalização da praça, abrindo caminho para a sua ressocialização


postado em 26/08/2018 06:00 / atualizado em 26/08/2018 08:33

As maiores intervenções vão se concentrar no prédio que vai abrigar a Casa do Patrimônio Cultural, onde serão ministradas também as aulas teóricas (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
As maiores intervenções vão se concentrar no prédio que vai abrigar a Casa do Patrimônio Cultural, onde serão ministradas também as aulas teóricas (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)

Vida nova para os bens culturais da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, e também para 52 detentos que cumprem pena em regime semiaberto. Numa parceria da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG), 30 homens e 22 mulheres vão trabalhar nas obras do chamado Prédio Verde, futura Casa do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, e na pintura das fachadas do Museu Mineiro e do Arquivo Público Mineiro, ambos na Avenida João Pinheiro, na cobertura do coreto da praça e nos muros do Palácio da Liberdade.

Segundo o diretor de Promoção do Iepha, arquiteto Fernando Pimenta Marques, o curso Capacitação profissional para revitalização e pintura de edificações protegidas começa na terça-feira e terá duração de três semanas, com 90 horas de aulas, nas dependências do Prédio Verde, que já foi Secretaria de Agricultura, Secretaria de Transportes e Obras Públicas e sede do Iepha, que hoje se encontra em outro endereço. O objetivo da parceria, além da preservação dos imóveis do Circuito Liberdade, na Região Centro-Sul, é promover a ressocialização das pessoas que cumprem pena, capacitá-las para o mercado de trabalho e, com um certificado expedido por um instituto federal de ensino, ajudá-los na busca por um emprego.

“É uma oportunidade que se abre para esses homens e mulheres. Em Belo Horizonte, trata-se de uma iniciativa inédita, como também é pioneira a parceria com o Iepha para a preservação de monumentos”, afirma o superintendente de Trabalho e Ensino da Seap, Guilherme Lima. Ele destaca que todos os apenados passaram pelo crivo da Comissão Técnica de Classificação, formado por profissionais da Seap. Dessa forma, acrescenta, o grupo está apto para frequentar o curso e desempenhar o serviço, previsto para começar em 20 de setembro.

CONHECIMENTO No curso – as aulas serão ministradas das 8h às 14h –, os alunos terão informações sobre o Circuito Liberdade, que engloba uma série de museus, centros culturais e outros equipamentos de conhecimento e lazer, além de técnicas específicas sobre o serviço que vão desempenhar. As aulas, a cargo de profissionais do Iepha, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura, vão culminar com um certificado expedido pelo instituto federal de Muzambinho, no Sul de Minas. Guilherme explica que o instituto é parceiro e aprova a matriz curricular e as atividades desenvolvidas.

Depois do curso de 90 horas-aulas, os alunos vão passar para a parte prática, com oito horas de trabalho diário e ações dentro do programa Manutenir, da Seap. É nessa etapa que belo-horizontinos e visitantes poderão ver o que os detentos aprenderam. Enquanto os presos em regime semiaberto aprendem o trabalho, está em andamento a restauração da Praça da Liberdade, tombada pelo Iepha há 41 anos e inaugurada em 1897.

O Prédio Verde, onde funcionou a antiga Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas e no qual vão se concentrar as maiores intervenções, fica na esquina da Rua Gonçalves Dias e data de 1897. Conforme o Estado de Minas noticiou em 9 de maio, a Casa do Patrimônio de Minas Gerais será um “espaço cultural destinado à população e totalmente dedicado às questões ligadas ao tema, como exposições, recepção aos representantes de municípios, discussões sobre assuntos ligados ao patrimônio, reunião do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) e outros.

As fachadas do Museu Mineiro e do Arquivo Público serão pintadas com a ajuda do grupo de detentos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
As fachadas do Museu Mineiro e do Arquivo Público serão pintadas com a ajuda do grupo de detentos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)


DEGRADAÇÃO As obras de revitalização, de acordo com os especialistas, são mais do que bem-vindas. Nos últimos meses, a Praça da Liberdade, que sofre os impactos do tempo, do uso constante e de atos de vandalismo, está no foco das atenções urbanas. Em fevereiro, o coreto foi pichado. No ato, os agressores sujaram a fachada do equipamento com tinta spray preta. Em 2013, ele foi reinaugurado depois de dois anos interditado. Voltando no tempo, há mais episódios lamentáveis, que entristecem os frequentadores: em 2010, foi furtada a placa de bronze medindo 60cm de altura x 40cm de largura que identificava o busto do imperador dom Pedro II (1825-1891).

No âmbito político, o governador Fernando Pimentel desativou o Palácio Tiradentes, na Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, em Venda Nova, e consolidou o Palácio da Liberdade, em estilo eclético com influência neoclássica, como sede do Executivo estadual – desde 2015, o governador petista despacha no prédio centenário, em estilo eclético, que data da época da fundação da capital. O local foi adotado e totalmente recuperado pela Vale em 1991, na obra de restauro comandada pela arquiteta Jô Vasconcelos, seguindo o estilo paisagístico de sua primeira reforma, datada da década de 1920, ano da visita dos reis da Bélgica a BH. O pioneirismo na adoção virou referência e sedimentou o Programa Adote o Verde, uma iniciativa municipal que permite a empresas, instituições e indivíduos revitalizar e se responsabilizar por espaços públicos municipais.

Bom exemplo em Ouro Preto

(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 14/3/17)
(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 14/3/17)

Em 14 de março de 2017, o Estado de Minas divulgou uma importante iniciativa em Ouro Preto, na Região Central e patrimônio da humanidade. Um grupo de nove presos, no mesmo regime semiaberto, participou do Programa de Liberdade de Assistência ao Encarcerado (Prolae), que deu aos detentos a chance de aprender um ofício e de atuar na preservação de monumentos históricos (foto). A iniciativa da prefeitura local, via Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio, em parceria com o Poder Judiciário e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), foi idealizada em janeiro daquele ano, quando o país fervilhava com as rebeliões nos presídios do Amazonas e Rio Grande do Norte, que deixaram dezenas de mortos e um clima de insegurança nacional. “Enquanto o Brasil discute a questão carcerária, pensamos na ressocialização e na dignidade humana. Ouro Preto, assim, dá o exemplo com uma ação positiva do reeducando na cidade onde vive. Esses homens foram capacitados, ganharam experiência e poderão ter uma carta de apresentação”, disse o secretário municipal de Cultura e Patrimônio, Zaqueu Astoni Moreira. Os detentos eram do Prolae, programa vinculado à direção do presídio de Ouro Preto.


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