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Estado de Minas

Casos de febre amarela em pessoas vacinadas em MG desafiam especialistas

Saúde registra 41 casos de pessoas que apresentaram sintomas da doença até 30 dias depois de tomar a vacina. Dúvida é se tiveram reação adversa ou foram infectadas pelo mosquito. Especialistas ressaltam que esse tipo de caso pode ocorrer, já que nenhuma vacinação é 100% eficaz.


postado em 22/06/2018 06:00 / atualizado em 22/06/2018 08:10

A cobertura vacinal de febre amarela acumulada em Minas está em torno de 95,16%. Mais de 690 mil pessoas não receberam o imunizante (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press - 20/2/18)
A cobertura vacinal de febre amarela acumulada em Minas está em torno de 95,16%. Mais de 690 mil pessoas não receberam o imunizante (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press - 20/2/18)


A temporada 2017/2018 da febre amarela está próxima do fim, sendo considerada a pior epidemia da doença já registrada no país desde 1980, segundo o Ministério da Saúde. Somente em Minas Gerais, foram 528 casos confirmados da doença, com 177 mortes, outras 351 pessoas tratadas, além de 64 notificações, com cinco óbitos, ainda em investigação, num cenário em que dúvidas desafiam os especialistas. A Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG) detectou 41 moradores do estado que apresentaram sintomas em um prazo de 30 dias depois de ter sido vacinados. Entre eles, três morreram. Os casos foram registrados como “inclassificáveis”, pois não foi possível apontar se as manifestações foram eventos adversos pós-vacinais (EAPV), que são ocorrências médicas indesejáveis relacionadas ao imunizante, ou se realmente os pacientes adoeceram devido à picada de mosquito transmissor da enfermidade. Junto a isso, há a confirmação da febre amarela em 16 pacientes com histórico de vacinação prévia (anterior a 30 dias), sendo que dois morreram. Especialistas ressaltam que esse tipo de caso pode ocorrer, já que nenhuma vacinação é 100% eficaz.

O boletim epidemiológico foi divulgado ontem pela SES. A pasta incluiu a categoria “inclassificável”. A explicação é que os pacientes foram vacinados até 30 dias antes do início dos sintomas. Por isso, foi feita uma investigação para averiguar se os casos eram de infecção pela febre amarela silvestre ou evento adversos pós-vacinação (EAPV). “Toda pessoa vacinada, no período de até 30 dias após a administração do imunizante, pode apresentar o que se chama de eventos adversos pós-vacinais (EAPV). Esses eventos podem ser leves, como manchas na pele e vermelhidão no local de aplicação, ou graves. Como a vacina de febre amarela contém o vírus atenuado em sua fórmula, a sintomatologia desenvolvida no caso de ocorrência de EAPV pode corresponder às manifestações da própria doença, motivo pelo qual não é possível precisar se os casos são de evento adverso ou, de fato, de adoecimento”, explicou a Secretaria por meio de nota. Ao todo, 41 casos se enquadram nessa categoria. Desses, 38 pessoas foram internadas e receberam alta. Outros três morreram. A SES ressaltou que foram verificados os lotes de vacinas nos casos de EAPV e o resultado não apontou falhas.

Foram constatados 16 casos de pessoas vacinadas e que contraíram a febre amarela. Eles foram analisados por uma comissão multidisciplinar com representantes da Secretaria de Estado da Saúde, Ministério da Saúde, Organização Pan-americana da Saúde (Opas) e Fundação Ezequiel Dias (Funed-MG). A média de idade dos pacientes é de 21 anos, sendo que houve casos em pessoas de 7 aos 86 anos. Do total, 68,7% são do sexo masculino, e 31,2% do sexo feminino. Um dos infectados recebeu duas doses da vacina, enquanto o restante apenas uma. Duas pessoas não resistiram à doença e morreram. 

INVESTIGAÇÃO
  A avaliação dos casos das pessoas com histórico de vacinação que tiveram a febre amarela confirmada por exames começou a ser feita no fim de fevereiro. A equipe formada por infectologistas, pediatras, epidemiologistas, enfermeiros e farmacêuticos fizeram uma investigação minuciosa, com análises de exames laboratoriais, entre outros, que confirmaram a doença. Na avaliação, eles levaram em conta os seguintes critérios: presença de sinais e sintomas compatíveis com a definição de caso suspeito de febre amarela, alterações laboratoriais compatíveis com a doença, resultado laboratorial reagente ou detectável para febre amarela, realizado em laboratório de referência, vínculo epidemiológico com casos confirmados e/ou epizootias (morte de primatas) nos municípios e/ou regionais de residência, e comprovação de vacinação para febre amarela através do cartão de vacina e/ou registro da vacina na unidade de saúde.

A SES explica que os pacientes desse grupo não desenvolveram anticorpos após a administração da dose da vacina, “o que pode acontecer com algumas pessoas em qualquer faixa etária”. O resultado, é que “se essas pessoas têm contato com o mosquito infectado, ficarão doentes, como ocorreu nesses casos”.  Segundo a SES, “os representam 3% do total confirmado entre julho de 2017 e junho deste ano, porcentagem de acordo com a literatura científica, que descreve aponta eficácia da vacina contra a doença de 95% a 98%”.

RESPOSTA IMUNOLÓGICA A infectologista Helena Brígido, membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), endossa o posicionamento da SES, e afirma que nem todas as pessoas ficam imunes às doenças mesmo sendo vacinadas. “As pessoas confundem muito a vacinação com a imunização. A vacinação é o ato de se vacinar, com a seringa ou, em alguns casos, com a gota na boca. Isso não significa que é pessoa esteja imune. A imunização é quando organismo da pessoa recebe a vacina, que é feita de vírus atenuado, e produz o anticorpo”, explicou.

Segundo a especialista, algumas hipóteses podem ser levantadas para o motivo de esse grupo de pessoas ter sido infectado, mas cada caso depende de uma investigação minuciosa. “Temos grupos que não têm a resposta imunológica esperada, não ficam imunes, como alguns idosos, portadores de HIV, pessoas com câncer, entre outros. É necessário verificar também o lote da vacina. Mas, a menos que se comprove que o lote estava vencido ou com defeito, não dá para saber ao certo o que aconteceu”, comentou.

Atualmente, a cobertura vacinal acumulada de febre amarela em Minas Gerais está em torno de 95,16%. Ainda há uma estimativa de 691.450 pessoas não vacinadas contra a febre amarela, especialmente na faixa etária de 15 a 59 anos de idade, que também foi a mais acometida pela epidemia de febre amarela silvestre ocorrida em 2017, quando foram computados 475 casos e 162 óbitos.

 

 

Prontuário


177
Total de mortes por febre amarela confirmadas nesta temporada

528
Total de casos da doença, sendo que 351 pacientes sobreviveram

41
Número de pessoas que tomaram a vacina e desenvolveram sintomas em até 30 dias

16
Pessoas que tinham tomado a vacina há mais tempo e contraíram a doença

 


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