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Estado de Minas

Morte sob suspeita de febre amarela na Grande BH reacende alerta em Minas

Brumadinho notifica óbito de paciente com sintomas da doença e outro é transferido para o ES. Confirmação ainda depende de testes. Cobertura vacinal no estado está abaixo da meta


postado em 04/01/2018 06:00 / atualizado em 04/01/2018 06:57

No fim do ano, o Parque das Mangabeiras, em BH, foi fechado devido à morte de macacos, sinal de circulação do vírus que transmite a febre amarela na área (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press - 30/11/17)
No fim do ano, o Parque das Mangabeiras, em BH, foi fechado devido à morte de macacos, sinal de circulação do vírus que transmite a febre amarela na área (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press - 30/11/17)
Depois de passar por um surto de febre amarela no início do ano passado, considerado o pior do país desde 1980, segundo o Ministério da Saúde, 2018 começa com o alerta das autoridades de saúde ligado. A sirene foi acionada devido a dois casos suspeitos de contaminação da moléstia, sendo que um deles resultou em morte, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As duas notificações foram registradas anteontem e ainda estão sendo investigadas. A preocupação aumenta devido à morte de macacos, que antecedem a contaminação da enfermidade em humanos, que continuam. Na capital, parques foram fechados devido às ocorrências de óbitos de primatas. Além disso, a vacinação, que é disponível no Sistema Único de Saúde (SUS),  ainda está abaixo da meta.

Os dois casos suspeitos de febre amarela em Brumadinho levaram os representantes da saúde pública a se movimentar para garantir uma cobertura vacinal de cerca de 16% dos habitantes desse município (em torno de 5,5 mil pessoas de uma população de 34 mil) que ainda estão vulneráveis. Uma das pessoas morreu e o outro doente foi transferido, a pedido da família, para o estado do Espírito Santo, onde reside. No ano passado, os dois estados se destacaram no surto da doença, com Minas Gerais respondendo pela maioria dos óbitos nacionais. Foram 162 mortes e 475 pacientes em Minas, e outros 94 óbitos em terras capixabas, de acordo com o Ministério da Saúde. A Prefeitura de Brumadinho não revelou os nomes dos doentes nem em quais hospitais foram internados. Exames feitos nos dois pacientes foram encaminhados à Fundação Ezequiel Dias (Funed) e, como têm prioridade, devem dizer dentro de 10 dias se os casos são mesmo de febre amarela.

A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) afirmou, por meio de nota, que a informação inicial sobre a morte é que o homem, morador da zona rural de Brumadinho, apresentou doença febril aguda com a suspeita inicial de leptospirose e/ou dengue. A pasta reforçou que Minas Gerais é área de recomendação de vacina. “Assim, recomendamos a vacinação de rotina, conforme o Calendário Básico de Vacinação, avaliando a Caderneta de Vacinação e administrando as doses de acordo com a situação vacinal de cada pessoa. Toda pessoa acima de 9 meses de vida, que mora ou vai viajar para Minas Gerais, deve procurar uma Unidade Básica de Saúde (UBS) para se vacinar contra a febre amarela. A vacina é gratuita e oferecida por meio do Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou.

A Prefeitura de Brumadinho afirmou que promoveu ampla campanha de vacinação contra a doença em todas as localidades do município. “Todos os primatas achados mortos foram submetidos a exames, que deram laudos negativos para febre amarela. Mesmo assim, foi realizado bloqueio nas regiões onde foram encontrados”, informou, por meio de nota.  “A Prefeitura pede a todos que mantenham o cuidado com a preservação da vida dos macacos, pois são eles que identificam com antecedência a manifestação do vírus. Eles são nossos sentinelas”, completa o texto.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


VÍRUS No último caso confirmado de febre amarela em Minas, o paciente começou a sentir os sintomas em junho de 2017. De lá, para cá, não houve nenhum registro da doença em humano. Porém, a morte de macacos, um alerta que confirma a circulação do vírus causador da enfermidade em determinada área e, em geral, precede a infecção em humanos, continuou em Minas Gerais. Em Belo Horizonte, o encontro de três corpos de saguis no Parque das Mangabeiras ocasionou o fechamento da unidade de preservação e lazer, do seu mirante e também do Parque Municipal da Serra do Curral no fim do ano, uma vez que as matas desses espaços são comunicantes. Um exame confirmou que o primata morreu devido à febre amarela.

No início do ano passado, a unidade foi fechada pelo mesmo motivo, em 23 de fevereiro, e só reabriu 120 dias depois. A Fundação de Parques Municipais informou que a manutenção dos espaços continua e que o tempo será importante, também, para que ocorra a regeneração natural das matas e trilhas. Na Grande BH, também houve a confirmação da doença em primatas encontrados mortos em Esmeraldas e Nova Lima.

Dados da SES mostram que, desde julho de 2017, 122 municípios mineiros tiveram mortes de macacos, chamada de epizootias. Em 16 dos casos, a febre amarela foi confirmada como a causa dos óbitos. Outras 22 notificações estão sendo investigadas pela pasta.

VACINAÇÃO A forma mais eficaz de se evitar a febre amarela é por meio da vacinação. Apenas uma dose é suficiente para garantir a proteção por toda a vida, de acordo com orientação da Organização Mundial de Saúde. Mesmo assim, Minas Gerais ainda não atingiu a meta vacinal. Segundo a SES/MG, a cobertura acumulada no estado entre 2007 e 2017 é de 81%. O índice considerado ideal é de 95%. A estimativa é que aproximadamente 3,8 milhões de pessoas não tenham sido vacinadas no território mineiro. Entre elas, moradores de 15 a 59 anos, que também foi a faixa etária mais acometida pelo surto.

Dados da SES mostram que a cobertura vacinal em Belo Horizonte no ano passado ficou em 86,3%. A estimativa é que aproximadamente 327 mil pessoas não se imunizaram contra a febre amarela na capital mineira. Na Grande BH se destaca, ainda, Contagem, onde 137 mil moradores não tomaram a vacina, seguida de Santa Luzia, com 119,6 mil moradores não vacinados, e Ribeirão das Neves, com 117 mil pessoas sem a imunização. Vale ressaltar que a cobertura vacinal dos dois últimos municípios ficou em 41,8% e 61,2%, respectivamente, em 2017.

(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 15/1/17)
(foto: Beto Novaes/EM/DA Press - 15/1/17)

Surto recorde


Os primeiros casos de febre amarela em Minas Gerais que deram início ao pior surto da doença desde a década de 1980, começaram em Ladainha, próximo a Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, em dezembro de 2016.  Depois, a enfermidade se espalhou para cidades da Região Leste, atingiu outras regiões, até seguir para estados brasileiros. Mesmo assim, a moléstia atacou mais os mineiros. Tanto que, em 13 de janeiro de 2017, o governo de Minas decretou situação de emergência devido ao surto. A vacinação foi reforçada e os postos de saúde ficaram lotados (foto) devido ao medo da população. O Ministério da Saúde teve que enviar mais medicamentos para atender a demanda. As confirmações de casos cresceram rapidamente principalmente de dezembro a março. Depois, desaceleraram. O último caso foi confirmado em junho.

Vacina será racionada em SP


São Paulo vai passar a aplicar doses fracionadas de vacina contra febre amarela no próximo mês. A medida, que também deve ser seguida pelos estados do Rio de Janeiro e da Bahia, é adotada após a constatação de que a circulação do vírus se alastra e ameaça regiões até então consideradas livres de risco da doença. Para não faltar imunizante, a ideia é “repartir” as doses. Entre os alvos está o litoral norte paulista. A dose fracionada, porém, é mais fraca do que a oferecida atualmente. Desde abril, o Brasil adota dose única de vacina contra a doença para proteção pela vida toda, conforme orienta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Antes, a imunização era feita a cada 10 anos. A estratégia do fracionamento em análise ganhou força depois da divulgação de estudos na Comissão Nacional de Imunização, que comprovam que a vacina com doses reduzidas têm efeitos por um prazo maior do que o imaginado. Inicialmente, estimava-se que a vacina fracionada protegeria contra a doença por um ano. Mas o acompanhamento de pessoas que receberam doses menores indica que o efeito protetor se estende por até nove anos.


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