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Estado de Minas

Assaltantes roubam bancos, matam e espalham terror em cinco cidades do interior do estado

Bandidos provocam explosões em Oliveira, Tapira, Santa Rita de Caldas e Pompéu, onde um morador e um policial militar perderam a vida. Outros dois PMs foram feridos à bala


postado em 06/12/2017 06:00 / atualizado em 06/12/2017 08:54

Marcas da violência: no ataque em Pompéu, bandidos explodiram agência bancária e trocaram tiros com a polícia (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Marcas da violência: no ataque em Pompéu, bandidos explodiram agência bancária e trocaram tiros com a polícia (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
A audácia de bandidos que atacam caixas eletrônicos e bancos de Minas Gerais não dá trégua. Cada vez ostentando maior poder de fogo e pressionando e acuando as pequenas forças policiais do interior do estado, os criminosos deixaram mais dois mortos em Pompéu, no Centro-Oeste, sendo um deles um policial militar, além de outro PM gravemente ferido, e protagonizaram ataques quase simultâneos em quatro cidades mineiras, dando mais provas do tamanho do desafio que o estado precisa vencer. Um terceiro PM se feriu em ataque em Morro do Ferro, distrito de Oliveira, também na Região Centro-Oeste, e as outras duas explosões ocorreram nas cidades de Tapira (Alto Paranaíba) e Santa Rita de Caldas (Sul de Minas). Na madrugada de segunda-feira, criminosos fortemente armados já haviam explodido caixas em Arcos, também no Centro-Oeste, totalizando cinco casos em dois dias.

Foi a primeira morte de um militar depois que o governo de Minas lançou força-tarefa entre 13 instituições para os casos de ataques a terminais bancários, em setembro. A Polícia Militar foi dura ao comentar a situação e criticou o que classifica como falta de atitude dos bancos para proteger agências e caixas eletrônicos, que se tornaram alvo fácil de criminosos. Para o major Flávio Santiago, assessor de imprensa da corporação, muitas vezes a medida adotada pelas instituições financeiras é a simples retirada dos caixas das pequenas cidades, alvo preferido dos ladrões.

Para o policial, há iniciativas de sucesso da rede bancária para evitar os roubos dos caixas, como a ativação de um mecanismo que suja as notas com uma tinta caso um caixa seja explodido. Essa medida inviabiliza o uso do dinheiro roubado. “As notas pintadas em alguns pontos mostrando eficiência na ação já deveriam ter sido padronizadas no Brasil e infelizmente ainda não vemos essa ação por parte desse setor, que é importante para nossa sociedade, mas precisa atuar veementemente com isso”, diz o major. O policial aponta também a facilidade no acesso aos bancos, muitas vezes protegidos apenas por barreiras de vidro que são facilmente rompidas, e destaca que as empresas deveriam usar soluções de maior resistência para os caixas eletrônicos. “É inconcebível que no século 21 você tenha facilidades de na madrugada chegar a esse cockpit, que é o invólucro do caixa automático. É imprescindível que haja ação. Ação é múltipla, não é só de polícia”, afirma o major.
(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

OUSADIA No caso de maior ousadia da madrugada, bandidos chegaram em cinco veículos à cidade de Pompéu, um deles em uma moto. Armados com fuzis e espingardas calibre 12, eles tentaram trancar a porta do quartel com correntes. Atiraram várias vezes contra o imóvel e os militares revidaram, evitando que a entrada fosse fechada. Logo em seguida, comparsas explodiram agência do Banco do Brasil. Militares que chegaram ao local foram surpreendidos pelos bandidos e baleados. O cabo Osias Alves de Barros, de 33 anos, levou um tiro na cabeça e morreu no local. Outro militar da mesma patente, Lucas Reis Rosa, de 27, também foi atingido por disparos. Ele foi transferido para o Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, em estado grave e teve que amputar o braço de direito.

Alisson dos Reis Pinheiro, de 22, funcionário de uma lanchonete, foi baleado quando saía do estabelecimento no meio do confronto. “Não tenho dúvidas de que a ação desses infratores foi no sentido de atirar contra o membro da sociedade para evitar que a Polícia Militar continuasse no encalço deles. Como uma estratégia de guerrilha”, comentou o major Flávio Santiago.

"Minha mãe está inconsolável. Era para estarmos felizes, com a recém-tirada carteira de motorista do Alisson e a gravidez da nossa irmã"

Adilson Pinheiro, de 18, irmão de Alisson dos Reis Pinheiro, morto a tiros em Pompéu



ALVO Segundo o coronel Helbert William Carvalhaes, comandante da 7ª Região da PM em Divinópolis, o alvo dos bandidos não eram os caixas, mas sim o cofre da agência,  no segundo andar. Essa informação foi levantada por militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope) que estiveram no local. Várias unidades especializadas da PM de BH e de outras cidades foram enviadas para a região. Quatro suspeitos foram presos, em locais diferentes, com rádioscomunicadores na frequência da PM. Conforme a polícia, dois são de Betim e Curvelo e têm ampla ficha criminal, com envolvimentos em roubos, tráfico e homicídio.

Apesar de nenhuma autoridade pública falar em crimes orquestrados, praticamente ao mesmo tempo outro grupo de bandidos atacava Morro do Ferro, distrito de Oliveira, também na Região Centro-Oeste, a 250 quilômetros de Pompéu. De acordo com a corporação, 14 homens cercaram uma agência do Banco Sicoob na localidade e explodiram os caixas eletrônicos. Conforme a PM, o grupo se dividiu e alguns criminosos foram atá a casa do cabo Leonel Richs de Aquino, no distrito, e cercaram o imóvel. O militar percebeu a ação criminosa e pediu ajuda ao destacamento de Oliveira. Ao tentar sair, foi baleado com um tiro no tórax, que atingiu um pulmão. Pelo WhatsApp, ele pediu ajuda e foi socorrido por militares de Oliveira e  pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Ele foi internado em hospital particular de BH e seu estado de saúde era estável na noite de ontem. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido preso.

Ainda na madrugada, as cidades de Tapira, no Alto Paranaíba, e Santa Rita de Caldas, no Sul do estado, foram atacadas. Na primeira, tiros de fuzil teriam sido disparados contra casas vizinhas ao Banco do Brasil e os criminosos fugiram em direção a Ouro Fino. De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), os detalhes das ocorrências ainda não podem ser divulgados.

Clima de luto e caçada aos criminosos


(foto: Divulgação)
(foto: Divulgação)
A cidade de Pompéu, além do clima de luto pela morte do cabo e um jovem, tornou-se a base da operação policial para localizar os cerca de 15 bandidos que atacaram o quartel da Polícia Militar e uma agência bancária no município. Durante todo o dia de ontem foi intensa a movimentação em Pompéu de militares da capital e de Contagem, na Grande BH, Sete Lagoas e Curvelo, na Região Central, e Divinópolis e Bom Despacho, no Centro-Oeste. Uma verdadeira caçada humana que, de acordo com o tenente-coronel Rodrigo Teixeira Coimbra, comandante do 7º Batalhão da PM, até o começo da noite tinha resultado na prisão de quatro suspeitos, além da apreensão de veículos e armas.

Dois foram encaminhados para a delegacia da Polícia Civil da cidade, e outros dois estavam no quartel da PM. Informações preliminares dão conta de que na BR-494, em Divinópolis, foram presos A.D.F. e M.A.O.,  num Toyota Corolla, com placas clonadas. Com eles, foram apreendidos uma pistola calibre 9 milímetros e um rádiocomunicador. A outra dupla, Y.F.F. e W.D.S.N., foi presa em Moema, no Centro-Oeste, num Ford Focus, com rádios de comunicação.

Em Pompéu, o clima era de luto pelas mortes do militar Osias Alves de Barros e do jovem Alisson dos Reis Pinheiro, de 22 anos. Irmão do rapaz, Adilson Pinheiro, de 18, disse que ele foi atingido ao sair do trabalho na lanchonete, quando seguia de bicicleta para casa. “Minha mãe está inconsolável. Era para estarmos felizes, com a recém-tirada carteira de motorista do Alisson e a gravidez da nossa irmã”. Já a morte do cabo Osias chocou Martinho Campos, onde mora a família dele. Ele era casado há dois anos com Amanda Aiala dos Santos Barros, de 25, e pai de uma menina de 10 meses. O corpo será enterrado hoje, às 8h, no cemitério municipal de Martinho Campos. (EG)

Febraban defende ação preventiva


Para a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), a ação de segurança necessária para fazer frente à violência empregada por ladrões de caixas eletrônicos está “fora de alcance das instituições privadas, como estabelecimentos comerciais e bancos”. Para a entidade, é necessário combater as causas desses crimes. “Em primeiro lugar, impedindo que os bandidos tenham acesso fácil a explosivos. Em segundo lugar, desbaratando as quadrilhas, o que se faz com ações de inteligência. Em terceiro lugar, dificultando o acesso dos bandidos ao produto do crime”, considerou, em nota, a instituição.

Além disso, a Febraban destaca que os bancos aumentaram em três vezes o valor destinado para impedir o avanço da criminalidade, na comparação com 10 anos atrás. Segundo a Febraban, são R$ 9 bilhões investidos na segurança bancária atualmente. A entidade ainda pontua que promove intensa cooperação com as autoridades encarregadas de segurança pública.

Ainda segundo a Febraban, um levantamento com 17 instituições financeiras, entre elas os principais bancos de varejo brasileiros, mostra que, em 2016, foram registrados 339 assaltos e tentativas de assaltos no país, o menor número nos últimos 17 anos. O número indica redução em relação a 2015, quando foram registradas 394 ocorrências (-14%) e está bem abaixo ao registrado em 2000, quando houve 1.903 assaltos e tentativas de assaltos. Porém, a Febraban não informa ocorrências específicas de explosões a caixas eletrônicos, que segundo a Polícia Militar acabam registradas na maioria das vezes como furto qualificado.

MEMÓRIA


Crime cinematográfico

O poder de fogo dos bandidos que assaltam caixas eletrônicos e roubam cofres de bancos e instituições de valores foi colocado à prova em 6 de novembro, quando um grupo de cerca de 20 homens invadiu a sede da empresa Rodoban, em Uberaba, no Triângulo Mineiro. A ofensiva teve tiros de fuzil, transformadores de energia elétrica estourados a bala, barricadas com carros e pneus queimados, correntes e “miguelitos” (objetos perfurantes para estourar pneus), tudo para barrar a reação policial. Somente depois de duas horas de cerco sob fogo as forças de segurança foram capazes de montar bloqueios nas saídas da cidade, o que não evitou a fuga do bando. A investida teve início às 3h e terminou às 5h15. Uma pessoa se feriu e bairros inteiros ficaram sem energia elétrica. O grupo roubou uma quantia que pode chegar a R$ 20 milhões, segundo fontes extraoficiais – o valor não foi informado pela empresa nem pela polícia. Três suspeitos de participação no crime foram presos e um homem que também teria envolvimento com o caso foi encontrado morto.


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