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Estado de Minas

Congonhas busca recursos para bancar réplicas dos profetas de Aleijadinho

Orçado em R$ 4,1 milhões, projeto reacende debate sobre proposta de transferir as esculturas originais para o museu


26/11/2017 06:00 - atualizado 26/11/2017 08:15

Casal de turista fotografa um dos profetas e Aleijadinho(foto: Beto Novaes/EM/D.A.Pess)
Casal de turista fotografa um dos profetas e Aleijadinho (foto: Beto Novaes/EM/D.A.Pess)
Congonhas – Novo capítulo na história dos profetas esculpidos há mais de 200 anos por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e obra-prima do Santuário Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Região Central, reconhecido como patrimônio cultural da humanidade.

Está em andamento, e já com aprovação do Ministério da Cultura (MinC), projeto para produção de réplicas de 10 das 12 peças barrocas – entre 2011 e 2012, foram feitas as dos profetas Jonas e Joel. Nos últimos dias, uma equipe do Museu de Congonhas, vinculado à Fundação Municipal de Cultura, Lazer e Turismo (Fumcult), esteve em Brasília (DF) buscando parceiros para a empreitada, orçada em R$ 4,1 milhões.

A iniciativa quer garantir a preservação do acervo e não deixa de reacender o debate: o conjunto visitado por gente do mundo inteiro deve continuar ao ar livre ou ser transferido para o museu.

 O projeto entusiasma o diretor do Museu de Congonhas, Sérgio Rodrigo Reis, que esteve também na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro (RJ), e se mostra esperançoso, pois o agente financeiro colocara como condicionante a aprovação pelo MinC. No pacote da possível parceria, além da produção das réplicas, está a ampliação, prevista no projeto original do arquiteto Gustavo Penna, do atual anfiteatro da instituição.

Nesse espaço do museu, deverá ser instalado um segundo andar para abrigar a Galeria dos Profetas, com as 12 peças, na mesma disposição da existente no adro do santuário. Só a elaboração do projeto para a intervenção custará R$ 500 mil. A busca de patrocínio para os projetos é feita em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

 “Ainda não sabemos que tipo de material será usado nas 10 réplicas, mas descartamos a resina e o pó de pedra-sabão das duas anteriores. O resultado plástico ficou artificial, pode ser melhorado”, explica Sérgio. Todo o aparato tecnológico adotado há cinco anos para escaneamento em 3D das esculturas, inclusive com ajuda de um robô da indústria automotiva, não será mais necessário.

“Temos armazenadas todas as informações e o processo é muito caro. Em 2011 e 2012, por exemplo, foram feitos os moldes em silicone, as cópias de segurança em gesso e depois as réplicas.”

 

DEGRADAÇÃO

 Expostos a céu aberto e atraindo milhares de pessoas anualmente – só na romaria, em setembro, são 250 mil visitantes –, os profetas e seus rumos, segundo o diretor do Museu de Congonhas, exigem muita reflexão. “A retirada ou não das peças divide a opinião dos especialistas, mas tem alguns que eram contra e hoje defendem a transferência. O conjunto, sem dúvida, é a obra mais iconográfica do Brasil, criada pelo artista mais importante da América Latina e símbolo de Minas”, afirma Sérgio.

 Para o diretor do museu, a discussão deve pavimentar o caminho: “Vistos como obras de arte, os profetas devem ser preservados e mantidos sob controle, enquanto, como peças devocionais, complementam a basílica, representam o local de maior peregrinação do estado.”

 Turistas de todo canto ficam “de boca aberta” diante dos profetas, conforme disse a gaúcha Vera Moretti, de Porto Alegre, ao lado do marido, Norival Moretti, e olhando para o profeta Ezequiel. “Não dá para acreditar. Na minha terra, aprendemos desde criança, nas aulas de história, sobre a importância desse conjunto. Mas acho que nem as professoras tiveram a oportunidade de admirá-los”, contou Vera.

 


1800 a 1805 - Aleijadinho esculpe os 12 profetas para o adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas
1938 - O conjunto do santuário é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
1950 a 1970 - São feitos moldes e réplicas dos profetas, mas a maioria se perde ou sofre degradação
Início de 1980 - O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) promove limpeza mecânica dos profetas, com técnicas não mais usadas (escova de náilon, sabão de coco etc.)
1985 - Conjunto do santuário é reconhecido como patrimônio cultural da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
1996-1998 - Numa parceria Brasil-Alemanha, entra em ação o Projeto Ideas, para estudo de degradação dos materiais pétreos e edificações históricas. Começa a ser usado um biocida para limpar as esculturas e evitar lesões e ataque principalmente de líquens
2002-2003 - Surge a polêmica de substituição dos profetas originais pelas réplicas, devido ao ataque de líquens, fungos e outros micro-organismos. Em 2003, é lançado o projeto de construção do Museu do Barroco, que, com o tempo, se tornou Memorial Congonhas/ Centro de Referência do Barroco e Estudo da Pedra e depois Museu de Congonhas
2011-2012 - Profetas são digitalizados e são feitas as réplicas dos profetas Jonas e Joel, com a chancela da Unesco
2015 -  Em 15 dezembro, é inaugurado o Museu de Congonhas, fruto da parceria entre Unesco, Iphan e Prefeitura de Congonhas

 

 

 MEMÓRIA

 

 BARROCO EM 3D

 

Na noite fria de 18 de novembro de 2011, Congonhas, na Região Central, foi palco de um encontro inédito e histórico envolvendo duas gerações. Frente a frente, um robô usado na indústria automotiva e Amós, um dos 12 profetas esculpidos por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, para o adro do Santuário Bom Jesus de Matosinhos. O primeiro contato entre as partes, embora com uma distância de mais de 200 anos de “idade”, foi tranquilo, atraiu muita gente e despertou curiosidade na cidade. Todos os dados coletados também no ano seguinte estão em poder do Museu de Congonhas, administrado pela Prefeitura de Congonhas e nascido da parceria entre a administração municipal, a Unesco e o Iphan. Hoje não seria necessária tanta parafernália, já que há equipamento manual para fazer esse serviço.

 

 

 

 

 


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