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Estado de Minas

Febre amarela tem risco de voltar a ser urbana

Pesquisa prova que mosquitos que infestam áreas urbanas têm alto potencial para transmitir agente que causou surto recorde neste ano. Vírus está há décadas restrito ao ambiente silvestre


postado em 08/07/2017 06:00 / atualizado em 08/07/2017 07:39

Trabalho conjunto dos institutos Oswaldo Cruz, Evandro Chagas e Pasteur, da França, demonstra que o Aedes aegypti tem grande capacidade de propagar a virose (foto: Agência Pará - 11/1/17)
Trabalho conjunto dos institutos Oswaldo Cruz, Evandro Chagas e Pasteur, da França, demonstra que o Aedes aegypti tem grande capacidade de propagar a virose (foto: Agência Pará - 11/1/17)
A febre amarela – doença cuja versão silvestre registrou em Minas Gerais neste ano o pior surto da história recente do país – tem potencial para tornar concreto um dos maiores pesadelos das autoridades sanitárias: voltar a ser uma enfermidade urbana. É o que aponta pesquisa dos institutos Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e Evandro Chagas, em parceria com o Instituto Pasteur, de Paris. O trabalho, publicado ontem na revista Scientific Reports, indicou que mosquitos ambientados nas cidades, como o Aedes aegypti e Aedes albopictus, têm elevada capacidade para a transmissão do vírus da doença.

Um dos autores do estudo, Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC, explicou que a intenção do trabalho era avaliar o risco de a virose, restrita ao meio rural desde a década de 1940, voltar a se tornar uma doença das cidades. No Brasil, neste ano, foram registrados 797 casos da doença no Brasil, com 275 mortes, mas todas as vítimas foram picadas por mosquitos silvestres ao entrarem em áreas de matas.

Para avaliar o risco de reurbanização, foram testados mosquitos urbanos (Aedes aegypti e Aedes albopictus) do Rio de Janeiro, onde não era registrada a doença havia 70 anos, de Manaus e de Goiânia. E foram estudadas também diferentes linhagens do vírus – a que circulava anteriormente no Brasil, a que está circulando atualmente e a que foi isolada na África.

A metodologia foi adotada porque a diversidade das populações de mosquitos e as transformações dos vírus ao longo das décadas poderiam ter afetado a capacidade de os insetos transmitirem a doença. “O vírus vai evoluindo no tempo, produzindo mutações, criando adaptações. Por isso, precisávamos fazer a comparação. E, de fato, a chance de transmissão dos vírus é muito grande pelos insetos do Rio de Janeiro e de Manaus. A transmissão ocorre nos mosquitos de Goiânia em menor grau”, afirmou Lourenço.

Foram avaliados ainda mosquitos silvestres das espécies Haemagogus leucocelaenus e Sabethes albiprivus. O trabalho analisou também insetos Aedes aegypti e Aedes albopictus coletados em Brazzaville, no Congo, onde a febre amarela silvestre é endêmica.

ALERTA PARA O RIO DE JANEIRO Os insetos foram divididos por gênero, e fêmeas foram alimentadas com amostras de sangue contendo vírus da febre amarela de diferentes linhagens. A presença de partículas de vírus na saliva dos insetos após 14 dias foi o indicador do potencial de transmissão da doença. Todos os mosquitos tinham capacidade de transmitir a febre amarela, com exceção do Aedes albopictus de Manaus, que não transmitiu o vírus africano.

“A capacidade de o Aedes aegypti do Rio de Janeiro transmitir a febre amarela chega a 60% com a linhagem que circula agora e a 40% com a linhagem do passado ou do oeste africano. É maior do que o a do mesmo mosquito de Goiânia, onde emergem casos de macacos infectados, e do que o de Manaus, que é área de febre amarela endêmica”, disse o representante do IOC.

Para o pesquisador, diante da real possibilidade de reintrodução da febre amarela no ambiente urbano, é preciso que as autoridades de saúde intensifiquem o combate ao mosquito e imunizem a população. “A transmissão urbana já pode estar acontecendo, e a gente não sabe. Na década de 1930, descobriram que havia a febre amarela silvestre porque houve caso no Espírito Santo e não acharam nenhuma larva ou adulto de Aedes aegypti”, alertou.

 

Surto provocou quase 160 mortes em Minas


Desde o início do ano, Minas Gerais confirmou 159 mortes em decorrência da febre amarela silvestre, com 446 pessoas comprovadamente infectadas pelo vírus, no maior surto já registrado pelo Ministério da Saúde. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde, apesar de uma estabilização do número de casos da virose no estado, há ainda sob análise 18 óbitos e 138 notificações suspeitas de contaminação pelo vírus.

De acordo com a secretaria, o último paciente com contágio confirmado por febre amarela nos limites do estado teve o início dos sintomas em 18 de abril. Desde então, houve um registro em 10 de maio, de um paciente de 79 anos, morador de Belo Horizonte, que foi infectado pelo vírus durante um retiro no Mato Grosso. O último balanço referente à doença em Minas foi divulgado em 26 de junho.

Segundo a secretaria, a vigilância sobre a febre amarela continua ativa em Minas, assim como as estratégias de prevenção e controle dentro da rotina, conforme previsto nas diretrizes do Programa Nacional de Vigilância, Prevenção e Controle da Febre Amarela. A pasta informa que “seguirá investigando e finalizando os casos já notificados que ainda estão em sem definição, ou novos registros”. Porém, não atesta que os riscos de contaminação estejam afastados, apesar do bloqueio vacinal realizado no estado no primeiro semestre.

Estudo torna ainda mais importante combate ao mosquito, que também dissemina dengue, zika e chikungunya (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press - 23/5/17)
Estudo torna ainda mais importante combate ao mosquito, que também dissemina dengue, zika e chikungunya (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press - 23/5/17)
Desde janeiro, Minas Gerais vivenciou uma situação atípica com relação à febre amarela. Mesmo sendo uma área endêmica, propícia ao surgimento de casos e, portanto, com vacinação recomendável, a doença avançou rapidamente pelo estado, resultando em um número elevado de óbitos. Em 2017, foram 1.147 notificações suspeitas da doença, das quais 565 foram descartadas.

Diante desse cenário, a Secretaria de Saúde, entre outras medidas para conter o avanço da doença, reforçou a campanha de vacinação por meio do Sistema Único de Saúde, primeiramente na região Leste, a mais atingida pelos primeiros casos da doença, e depois nas demais áreas do estado.

OUTROS MALES ambém transmitido pelo Aedes aegypti, o vírus da febre chikungunya segue avançando em Belo Horizonte e em Minas. De acordo com balanço divulgado ontem pela Secretaria Municipal de Saúde, já foram confirmados 60 pacientes infectados este ano na capital, quase o dobro dos 12 meses de 2016, quando houve 31 registros da doença na cidade. No estado a situação também é crítica, com 16.738 casos prováveis e a primeira morte confirmada pela virose na história, em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Em relação à dengue, BH tem 697 pacientes com a doença e 1.145 casos pendentes de resultados, além de 14 casos de zika e 94 notificações para a doença.


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