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Estado de Minas

Micose que tem gatos como hospedeiros preocupa em BH

Esporocotriose pode matar gatos e ser transmitidas por eles às pessoas. Na capital, casos aumentam no ritmo da proliferação de felinos. Parque Municipal, no Centro, é considerado área de risco


postado em 30/05/2017 06:00 / atualizado em 30/05/2017 08:14

Prefeitura detecta aumento na população felina no Parque Américo Renné Gianetti, o que, além do risco da zoonose, representa ameaça ao equilíbrio ecológico na unidade(foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Prefeitura detecta aumento na população felina no Parque Américo Renné Gianetti, o que, além do risco da zoonose, representa ameaça ao equilíbrio ecológico na unidade (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
Depois de a cidade do Rio de Janeiro registrar uma epidemia de esporotricose, doença que pode matar gatos e ser transmitida a humanos, Belo Horizonte trata pacientes com a enfermidade e já se preocupa com a possibilidade de ela se alastrar sem controle. Nos gatos, os sinais mais observados são feridas profundas na pele, geralmente purulentas. Em pessoas, se manifesta também como uma micose, que pode provocar lesões cutâneas graves. Na capital, a Secretaria Municipal de Saúde informou que está adotando “medidas preventivas para que não haja uma explosão do número de casos” e que iniciou trabalhos nesse sentido, com o monitoramento e esterilização dos animais, cuja população cresceu muito nos últimos anos. Reuniões para discutir o assunto têm sido realizadas, com a participação de representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que admite, em nota, risco no Parque Municipal Américo Renné Gianetti, no Centro, onde há grande população de felinos.

Tanto para humanos quanto para gatos contaminados há tratamento e a saída não é abandonar ou sacrificar o animal. “Há de ser levada em conta a probabilidade de risco à saúde pública, pelo contágio da esporotricose, que, apesar de ser uma doença curável, pode, nas condições atuais do Parque Municipal, se alastrar sem qualquer tipo de controle e se tornar uma epidemia”, informa nota da Secretaria do Meio Ambiente. Apesar de afirmarem que houve aumento no número de gatos na capital, nenhuma das duas secretarias tem números sobre essa população. De modo geral, os felinos contraem a doença em brigas e traumatismos, que ocorrem principalmente durante o acasalamento, quando os animais vão às ruas. A doença começa com o aparecimento de feridas, geralmente na face e membros, que progridem para o restante do corpo.

No Parque Municipal, o plano preventivo traçado pela Secretaria de Meio Ambiente começa com a contagem dos animais. Eles serão capturados por equipe coordenada por uma bióloga do Centro de Controle de Zoonoses, que atualmente é responsável pelo manejo dos felinos no parque. Eles serão castrados, microchipados e posteriormente encaminhados a lares temporários para o pós-operatório. A secretaria vai tentar ainda encontrar lares definitivos para esses animais e fará eventos e palestras de conscientização, para explicar que abandono é crime. Apesar do alerta, a pasta informou que não há previsão de fechamento da área verde.

Sem residência desde 1994, Alexandre Rocha da Silva, de 31 anos, é um dos muitos moradores de rua que frequentam o Parque Municipal diariamente. Ele confirma o aumento da população felina no local. “Eles aumentaram muito mesmo, especialmente nos últimos dois anos. Mas não vi nenhum doente. No dia a dia, a gente brinca com eles, pega e tem contato o tempo todo”, disse. Segundo o homem, ele nunca recebeu nenhuma informação de funcionários da prefeitura para evitar aproximação com os animais.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

CASOS Os números da epidemia de esporotricose registrados no Rio de Janeiro dão a dimensão do problema em relação à facilidade de transmissão, que se dá por meio de arranhões, mordidas e contato direto com a pele lesionada dos gatos. O fungo causador da esporotricose, o Sporothrix schenckii, geralmente vive no solo, em restos de vegetais e madeira, e pode ser transmitido também por meio de materiais contaminados, como farpas ou espinhos. No estado vizinho, a doença teve um salto entre os animais no ano passado. Em 2016 foram feitos 13.536 atendimentos, bem mais que em 2015, quando foram registrados 3.253. Em humanos, foram registrados 580 casos no ano passado.

Em BH, a Secretaria Municipal de Saúde informou que a esporotricose não tem notificação compulsória, ou seja, casos em humanos e animais não têm a obrigatoriedade de registro. Por isso, as autoridades de BH afirmam não ter como dimensionar o número de casos da enfermidade, apesar de informar que eles se mantêm estáveis, por “percepção dos profissionais nas unidades de saúde, onde os casos são tratados”. A secretaria informou ainda que a doença é comum nos consultórios de dermatologia.

 

Multa e serviços obrigatórios


Ainda dentro do pacote de ações para o Parque Municipal, a Secretaria de Meio Ambiente promete aplicar sanções para barrar o abandono de animais, como informa ocorrer no parque. “Com o controle da população dos gatos no parque ficará mais fácil a fiscalização. Placas e faixas exibirão leis que são violadas quando se um animal é abandonado e quais penalidades e sanções às quais a pessoa estará sujeita”, informa. Ainda segundo o órgão, multas e serviços obrigatórios serão impostos a quem abandonar felinos no parque. Outra medida administrativa está baseada em um termo de ajustamento de conduta firmado com o Ministério Público, para que protetores de animais sejam orientados a, com o tempo, não colocar alimentos no parque, afim de não incentivar o aumento da população.

O controle dos gatos no parque é necessário, segundo a secretaria, para garantir maior qualidade de vida aos animais, que necessitam de cuidados, e também para redução dos impactos que eles têm causado ao microecossistema local. Segundo o órgão, por serem animais domésticos, eles trazem um desequilíbrio considerável a esse ambiente.

Um deles está descrito em parecer técnico apresentado pela Fundação de Parques Municipais, informando que a presença dos felinos no espaço de preservação afetou significativamente “a fauna silvestre, o que também contribuiu para a proliferação de insetos, como os cupins, que comprometeram a flora local, provocando relevante desequilíbrio ambiental e acarretando o corte de centenas de espécimes vegetais no interior do parque, após a morte de uma cidadã vitimada pela queda de uma árvore”, diz a nota enviada pela secretaria.

O órgão informou ainda que parecer semelhante do Ibama relata o potencial impacto da população de gatos domésticos no local, alertando para a possibilidade de, na situação atual, a colônia de felinos fatalmente levar à extinção de várias espécies de aves, mamíferos e répteis silvestres.


Críticas de ativista


A ativista Adriana Araújo, integrante do Movimento Mineiro pelos Direitos Animais, critica a postura da prefeitura em relação à população felina, a qual classifica como “demonização” dos animais. “O aumento da população de gatos no parque é resultado do abandono desses animais por seus donos e da falta de política pública para cuidar do assunto. É muito raso o discurso da prefeitura em dizer que são os animais que estão dando problema e, em seguida, anunciar a retirada deles do local onde a maior parte vive há anos”, afirma Adriana. Segundo ela, essa medida já ocorreu com cachorros, sob alegação de risco de contágio da leishmaniose, e com capivaras, por causa da febre maculosa. Ela afirmou que é preciso melhorar o manejo da população de gatos do parque, além de atuar com firmeza na fiscalização. “A Lei Estadual 22.231/2016 determina multa de R$ 900 a R$ 3 mil para casos de abandono. Ela precisa é ser cumprida. Somos a favor da permanência dos gatos, que não podem mais ser domiciliados, da castração e microchipagem dos animais, acompanhamento veterinário semanal, além de um permanente trabalho de conscientização para barrar o abandono.”


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