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Estado de Minas

Obras para evitar danos com chuvas se arrastam em Belo Horizonte

Comunidade da região da Avenida Tereza Cristina, no limite entre BH e Contagem, ainda tenta se recuperar de outra enchente histórica, enquanto poder público não consegue dar previsão sobre projetos para solucionar desafio


postado em 21/03/2017 06:00 / atualizado em 21/03/2017 07:44

Operação-limpeza ao longo da Avenida Tereza Cristina: de domingo até ontem, 150 toneladas de sujeira foram retiradas, e trabalho continua(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Operação-limpeza ao longo da Avenida Tereza Cristina: de domingo até ontem, 150 toneladas de sujeira foram retiradas, e trabalho continua (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Obras contra enchentes que não saem do papel continuam tirando o sono e o patrimônio de moradores de Belo Horizonte. Pelo menos duas delas são cruciais, nas palavras do próprio prefeito Alexandre Kalil, para evitar o cenário de destruição observado na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste de Belo Horizonte, depois da tempestade da madrugada de domingo. Porém, os projetos se arrastam há anos: a bacia de contenção do Calafate, na Região Oeste, e as intervenções no Córrego do Ferrugem, em Contagem, na Grande BH, ainda não têm previsão para ser iniciadas.


O prefeito afirma que a região enfrentou a pior chuva dos últimos 10 anos. Em apenas duas horas foram medidos 89,4 milímetros de precipitação, o equivalente a 55% da média histórica para todo o mês de março (163,5mm). Com isso, o Ribeirão Arrudas transbordou mais uma vez, causando transtornos e levando pânico a moradores e comerciantes. Para piorar, no trecho da via próximo à Vila São Paulo, no limite com Contagem, o Córrego Ferrugem, afluente do Arrudas, também transbordou, fazendo ainda mais pressão sobre o leito principal. A partir dos bairros Betânia e Nova Cintra até o fim da avenida, nos bairros Vista Alegre e Madre Gertrudes, placas de asfalto foram arrancadas pela correnteza em vários pontos da avenida. Quando a água baixou, deixou para trás lixo, galhos, pneus, pedras e muita lama espalhada.

Já são quase três anos desde que foi dada a largada para a construção do “piscinão” do Calafate. Em 8 de maio de 2014, a Prefeitura de BH publicou no Diário Oficial do Município (DOM) decreto dando início ao processo de desapropriação e remoção de moradores de duas vilas para permitir a intervenção. A área, que vai da Avenida Tereza Cristina até a Silva Lobo, ao lado da Via Expressa, é a mesma onde se cogitou a nova rodoviária da capital. Mudados os planos, o terreno vai abrigar uma bacia de detenção, com capacidade para 600 milhões de litros, e com a promessa de evitar o transbordamento do Arrudas na região.

Já o pontapé para as obras no Ferrugem foi dado em solenidade entre a Prefeitura de Contagem e a Copasa, na Cidade Administrativa, há quase quatro anos. No início de junho de 2013, foi assinada ordem de serviço autorizando o início das intervenções. Na época, foram anunciados investimentos de mais de R$ 60 milhões para requalificação urbana e ambiental e controle de cheias no trecho entre as avenidas General David Sarnoff, Tereza Cristina e Via Expressa.

Tormento antigo


Professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais, Márcio Baptista lembra que o problema na Avenida Tereza Cristina é recorrente, desde a década de 1990, quando o crescimento da cidade e a impermeabilização das vias tiveram como resultado o aumento das vazões. Segundo ele, a essência da bacia de detenção, uma das soluções propostas para a área, é o armazenamento temporário das águas. Depois de passada a cheia, o conteúdo é lentamente liberado, atrasando a chegada do volume crítico ao leito. “Ela tem a função de amortecimento das cheias. Mas não sei qual papel desempenhará nessas inundações específicas, se vai resolver, melhorar ou diminuir o problema”, diz.

Márcio Baptista ressalta que as vazões do Córrego Ferrugem são muito elevadas. “A cheia é um processo natural, mas nós estamos ocupando o lugar do rio e engordando a vazão. À medida que se impermeabiliza e se joga lixo, estamos fazendo aumentar o volume. No fim, somos culpados e vítimas.”

Ver galeria . 12 Fotos Jair Amaral/EM/D.A Press
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )

PROJETOS Procurada, a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura informou em nota que um conjunto de grandes empreendimentos deve reduzir o risco de inundações na Bacia do Arrudas. As intervenções no Córrego Bonsucesso já foram concluídas, diz o texto, e nas próximas semanas devem ser retomadas as obras no Córrego Túnel Camarões, que estão paralisadas. A obra dos córregos Olaria e Jatobá teve a primeira etapa concluída e a segunda será licitada até julho, segundo a pasta. Um reservatório no Bairro das Indústrias, com capacidade para até 120 mil metros cúbicos, deve ser licitado neste semestre, de acordo com o informe. Para os projetos dos córregos Barreiro e Cercadinho, a prefeitura ainda busca recursos.

Sobre a Bacia do Calafate, grande empreendimento com volume de acumulação aproximado de 600 milhões de litros de água, apontado como fundamental pelo prefeito, a informação é de que a obra tem projeto executivo concluído e o município tenta R$ 370 milhões junto ao governo federal para financiá-la. Em relação à situação específica na área da Avenida Tereza Cristina, o superintende da Sudecap, Sylvio Malta, informou que resolver o problema depende da construção de três bacias de detenção, a cargo do estado. “É uma obra grande, para a qual já há projeto, que prevê abertura de ruas, construção de unidades habitacionais, além de outros equipamentos, e das três bacias, que vão evitar as enchentes na chegada do Ferrugem ao Arrudas”, disse.

O governo de Minas informou, via Secretaria de Transporte e Obras Públicas (Setop), que em relação ao Ferrugem, após início de remoção de famílias de áreas de risco, está em andamento projeto para construir 304 unidades habitacionais. Projeto para erguer outras 352 moradias tramita no Ministério das Cidades. Sobre a construção das bacias de detenção, orçada em R$ 130 milhões, a Setop informa que os valores de contrato assinado em 2009 eram insuficientes, e que ainda não há recurso disponível para a obra.
Ver galeria . 5 Fotos O foco do trabalho nesta segunda-feira é a retirada da terra e do barro que se acumularam após a chuvaGladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS
O foco do trabalho nesta segunda-feira é a retirada da terra e do barro que se acumularam após a chuva (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A PRESS )

MUTIRÃO Desde domingo, quando ocorreu o temporal, foram retiradas cerca de 150 toneladas de lixo e entulho da Avenida Tereza Cristina, segundo a Superintendência de Limpeza Urbana. Ontem, o trabalho começou na esquina da Rua Magi Salomon, no Bairro Salgado Filho, e seguiu nos sentidos Centro e Barreiro. A limpeza chegou às regiões próximas aos córregos Cercadinho e Bonsucesso, que também deságuam no Arrudas. A operação conta com efetivo de 60 garis e 12 funcionários da Regional Oeste, além de duas pás carregadeiras, 11 caminhões. A força-tarefa deve continuar hoje os trabalhos. A Coordenadoria Municipal de Defesa Civil fez vistorias, desde domingo, em 137 imóveis da Avenida Palestina e ruas B1 e A1, no Bairro Madre Gertrudes. Em 78 deles houve danos. Foram distribuídas 19 cestas básicas, 58 cobertores e 57 colchões. (Com Valquiria Lopes)

PLANEJAMENTO
Em fevereiro, a Prefeitura de BH apresentou um plano de 123 obras orçado em R$ 1,65 bilhão para os próximos quatro anos, nas áreas de saneamento, drenagem, manutenção e interesse social – incluindo a contenção de inundações em áreas de risco e melhorias em vilas e favelas. As obras anunciadas contemplam o Córrego dos Pintos, Bacia de Detenção do Bairro das Indústrias e a segunda etapa do Córrego do Leitão. Ainda neste ano está previsto o início das obras de drenagem dos córregos Pampulha, Cachoeirinha e Onça. Também serão feitos estudos sobre as bacias do Vilarinho e Nado – com a expectativa de início das obras em 2018. Outras metas da PBH são a recuperação e manutenção de galerias pluviais, de bacias de detenção e contenção, e o desassoreamento da Lagoa da Pampulha.


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