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Estado de Minas

Expansão da febre amarela põe Belo Horizonte em alerta

Escalada da doença no interior alimenta procura por imunização e falta vacina em alguns postos da capital. PBH expande ações de controle e instala telas contra o Aedes em hospital


postado em 04/02/2017 06:00 / atualizado em 04/02/2017 08:06

Telas protetoras com inseticida foram colocadas ontem no Hospital Infantil João Paulo II para evitar a entrada do Aedes aegypti, que também transmite a febre amarela(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Telas protetoras com inseticida foram colocadas ontem no Hospital Infantil João Paulo II para evitar a entrada do Aedes aegypti, que também transmite a febre amarela (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
A escalada de casos suspeitos notificados de febre amarela em Minas Gerais e a confirmação de 55 mortes causadas pela doença no estado deixam Belo Horizonte em alerta. Muito assustados com o quadro alarmante vivenciado especialmente na porção Leste do estado, moradores da capital mineira seguem buscando vacinas nos postos de saúde, alguns dos quais não tinham a imunização em estoque ontem, e a Prefeitura de BH expande as ações de controle do mosquito Aedes aegypti nos arredores de importantes unidades de saúde. Depois de instalar telas com inseticida no entorno das alas usadas para tratamento de pacientes com a suspeita da enfermidade no Hospital Eduardo de Menezes, na Região do Barreiro, ontem foi a vez de o trabalho chegar ao Hospital Infantil João Paulo II, referência estadual para o tratamento de crianças com doenças infectocontagiosas. Segundo a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), desde o início do surto, seis crianças já passaram pela unidade com sintomas coincidentes com o da doença. Quatro tiveram alta e duas, com passagem pelas áreas rurais de Dimantina (Vale do Jequitinhonha) e Governador Valadares (Vale do Rio Doce), estão internadas.


Segundo a coordenadora médica da Unidade de Internação do João Paulo II, Ana Luiza Garcia, as duas crianças são um menino e uma menina de 10 e 12 anos. Elas foram internadas no hospital na quinta-feira e seguem em observação, com sintomas como febre e dores no corpo. Não foram identificadas alterações nas funções do fígado ou dos rins, o que normalmente aparece em quadros mais graves. “Temos quatro leitos disponibilizados neste momento exclusivos para os casos suspeitos de febre amarela, mas se houver necessidade, temos condição de expandir”, afirma Ana Luiza Garcia. Ontem, operários começaram a instalar telas que são confeccionadas com uma malha impregnada de inseticida nas janelas e portas do segundo andar, área que abrange 32 leitos entre a parte de pneumologia e de doenças infectocontagiosas. As telas mantêm o efeito químico por um período médio de dois anos, mas seguem impedindo a entrada dos mosquitos mesmo após o fim do efeito do inseticida, já que os espaços da malha são muito pequenos.

De acordo com a gerente de Assistência à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de BH, Taciana Malheiros Lima Carvalho, o trabalho vai durar uma semana e logo depois ele será feito também nas nove Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital. Além da dengue, da zika e da chikungunya, o Aedes aegypti também pode transmitir febre amarela em ambientes urbanos, o que explica a preocupação redobrada com o controle do mosquito. “Quando a colocação das telas nas UPAs estiver concluída, vamos retomar o trabalho nas casas das gestantes de BH. Já fizemos isso na casa de 730 gestantes”, afirma Taciana. Ela destaca que não há casos suspeitos de febre amarela originados em Belo Horizonte e também alerta a população para a melhor forma de combater o vetor, que é fazendo a vigilância dentro das próprias casas e eliminando os potenciais criadouros que acumulam água. O Hospital Infantil João Paulo II foi alvo de uma ação pente-fino antes da instalação das telas, que se mostra ainda mais importante no momento em que a unidade passa por obras.

A enfermeira Elaine vacina Wanderley, que foi ontem com a família a posto de BH em busca de imunização(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
A enfermeira Elaine vacina Wanderley, que foi ontem com a família a posto de BH em busca de imunização (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Pressão sobre os estoques

Os números da febre amarela em Minas Gerais assustam a população de BH e pressionam estoques de vacinas nos postos. Ontem, houve procura constante no Centro de Saúde Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Novo São Lucas, Centro-Sul da cidade. Por volta das 11h30, uma pequena fila se formou na porta do setor de vacinas. Entre as pessoas que aguardavam estava a faxineira Eliane de Araújo, de 36 anos. Ela levou os dois filhos, Kawany, de 6, e Wallace de 4, e o marido, Wanderley Fernandes, de 36, para conferir o cartão de vacinas. Só Wallace escapou da agulhada, pois já tinha tomado duas doses.

Kawany precisou tomar a segunda dose e chorou bastante quando recebeu a vacina. “Fiquei muito preocupada por conta das notícias que estão saindo e resolvi me vacinar e trazer minha família para fazer a mesma coisa. Só assim dá para ficar tranquila”, diz Eliane. Wanderley disse que eles moram no Bairro São Lucas, de frente para uma área de mata, onde é comum aparecer macacos. “Como a morte de macacos é um sinal da doença, resolvemos buscar a vacina”, afirma. Quem também buscou a dose ontem no mesmo posto de saúde foi a técnica em química Andreia Cristina Moreira, de 37 anos. “Esse tanto de morte deixa a gente preocupado. Então, é melhor tomar logo a vacina, mesmo sem ter planos para viajar para as áreas de risco”, conta.

A gerente do posto, Solange Lacerda Beirão, conta que atualmente o movimento está estável, mas, apesar de não ter mais as filas iguais às do início do surto, a todo momento aparecem pessoas buscando a imunização. “Chegamos a imunizar 100 pessoas em um único dia no auge do surto. Agora está bem mais tranquilo. E as pessoas podem vir, que temos vacina”, afirma. Nesta semana, faltaram doses na terça-feira, mas foi um problema pontual de distribuição, segundo a gestora da unidade. A entrega já foi normalizada e a vacinação está acontecendo normalmente.

Na tarde de ontem, entretanto, a reportagem do Estado de Minas entrou em contato com 30 postos de saúde de Belo Horizonte para averiguar o estoque das vacinas contra a febre amarela. Deste total, oito – quase um terço das unidades consultadas – não tinham a imunização. A previsão da maioria deles era de que mais doses chegassem na segunda-feira, mas, em alguns centros de saúde os funcionários afirmaram não haver data para o reabastecimento. Consultada, a Subsecretaria de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Saúde de Minas Gerais disse que não dispunha de porta-voz para falar sobre o tema no fim da tarde de ontem.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

Mapa da doença avança

O mapa dos casos de febre amarela inclui agora 66 cidades, contra as 59 computadas no dia anterior. Segundo informe da Secretaria de Estado da Saúde (SES) divulgado ontem, estão confirmados três casos em Delfinópolis, o que estende a área geográfica das ocorrências oficialmente para o Sul de Minas. No início do surto, detectado na primeira quinzena de janeiro, os casos estavam localizados em 15 cidades do Vale do Mucuri e Leste de Minas. De acordo com o informe, a febre amarela já matou 55 pessoas em Minas, quatro a mais que o total apontado no balanço de quinta-feira. A estatística pode aumentar bastante nos próximos dias, pois o governo investiga outras 78 mortes suspeitas. O boletim confirmou ainda que, desde o início do ano, 152 pessoas, incluindo os que morreram, contraíram a doença. Em relação ao balanço de quinta-feira, são 14 a mais. Os casos suspeitos notificados saltaram de 777 para 843.


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