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Estado de Minas

Crise carcerária já foi vivida em MG; episódio ficou conhecido como Ciranda da morte

Superlotação e o descaso do poder público para com os problemas criminais foram as principais causas das tragédias


postado em 08/01/2017 06:00 / atualizado em 08/01/2017 08:10

(foto: Arquivo/Estado de Minas )
(foto: Arquivo/Estado de Minas )

A crise carcerária que ocorre em Manaus, em parte, traz algumas coincidências já vividas em Minas Gerais, em especial no ano de 1985, quando do episódio de mortes em celas de delegacias. Tanto que, na época,  o Departamento de Investigações (DI) passou a ser chamado “Inferno da Lagoinha” e a Delegacia de Furtos e Roubos, “Inferno da Floresta”, numa referência aos bairros onde estavam localizados. O episódio, que ficou conhecido por “Ciranda da morte”, se espalhou pela rede carcerária, resvalando no interior, mais precisamente em Juiz de Fora, no Presídio de Santa Terezinha. A superlotação carcerária e o descaso do poder público para com os problemas criminais foram as principais causas das tragédias, reportadas pelo Estado de Minas, o que lhe garantiu o Prêmio Esso Regional daquele ano.


Tudo ocorreu num curto espaço de tempo. Em apenas três meses, nada menos que 15 mortes, sem falar no grande número de outras evitadas. O grande problema no sistema carcerário de Minas Gerais era o baixo número de penitenciárias. Na Grande BH, onde se concentrava a grande maioria de crimes, eram duas, a José Maria Alkmin e a Antônio Dutra Ladeira, ambas em Neves. E algumas poucas no interior, como o Presídio de Santa Terezinha, em Juiz de Fora.


Por consequência, as cadeias de delegacias ficavam superlotadas, pois não havia lugar para mandar os presos condenados, já que os presídios também estavam cheios. Como se não bastasse, uma rebelião em Neves, no início de 1985, fez com que os presos apontados como líderes, cerca de 50, fossem transferidos para o DI e a Furtos e Roubos, transformando os locais em depósitos de presos, que, por sua vez, ficaram conhecidos como bomba-relógio. Sempre que tomavam conhecimento de algum movimento em outras delegacias ou penitenciárias, os presos do DI e da Furtos e Roubos se rebelavam. Ao saberem de uma primeira morte em Juiz de Fora, os encarcerados passaram a reivindicar o direito de transferência, porém, sem sucesso, já que não havia para onde ir (a superlotação era comum a todas as unidades).


Bilhetes de ameaças de mortes começaram a ser encontrados nas alas onde ficavam as celas dos dois depósitos (Lagoinha e Floresta). Neles, os presos anunciavam que haveria uma morte por dia e que a escolha da vítima seria por um jogo de palitinhos. Quem tirasse o menor estaria marcado para morrer. Foi assim que o então detento Deusdedith Marques Marx Rodrigues escapara da morte. “Restaram dois palitinhos e eu era o penúltimo. Tirei o meu e não era o menor. O Edson Rodrigues Silva, que ficara por último, morreu”, contou.

ANJO DA MORTE Os presos passam a conviver com o terror. Um homem que nem deveria estar preso, pois tinha sido detido depois de uma briga na zona boêmia de BH, Severino Ferreira Lima, virou o terror da cadeia. De pacato cidadão se transformara no principal executor, o que lhe rendera o apelido de “Anjo da Morte”. Assim, ele ganhou o respeito da comunidade carcerária, passando a ser temido por todos. Mais tarde, porém, é diagnosticado como sendo esquizofrênico e acaba transferido para o Manicômio de Barbacena.


Detalhes noticiados na época deixaram claro o descaso do poder público para com o sistema penitenciário. Em Juiz de Fora, por exemplo, das cinco mortes registradas, quatro foram por facadas e dentro das celas. Só um preso, Gilberto Steikofp, cometeu dois homicídios em dois dias. Matou suas vítimas a facadas. As perguntas eram: “Como as facas foram parar dentro da cela? Por que o assassino teria voltado ao convívio com os demais presos?. Já em BH, além de as mortes ocorrerem por sorteio, os presos usavam uma arma chamada “teresa” – feita com tiras de panos, mais precisamente cobertores – para estrangular as vítimas.


A sequência de mortes chamou a atenção das autoridades. Um grupo de deputados estaduais – Jesus Trindade Barreto, Paulo Almada, José Maria Vaz Borges e Hugo Campos – visita a Lagoinha e fica estupefato com o quadro que encontra. Eles prometem uma CPI, que nunca saiu do papel. Mas a visita dos promotores públicos Castelas Modesto Guimarães Filho, Francisco Del-Corsi Campos, Antônio Lopes Neto, Clodesmith Riani, Antônio José Leal, Darcy de Souza Filho, Armando Prates e Alencar Serrão Neves acaba por dar mais resultado, pois eles passam a exigir providências por parte do então governador Hélio Garcia. Por fim, depois de muita luta, os dois “infernos” foram fechados, pondo fim a meio século de operação (1958-2008).


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