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Estado de Minas

Testemunhas falam do resgate de meninas arrastadas pela enxurrada em BH

Irmãs que seguiam para o último dia de atividades na Escola Municipal Jardim Felicidade foram arrastadas pela água, que matou uma. Duas outras alunas foram salvas por moradores


postado em 14/12/2016 06:00 / atualizado em 14/12/2016 08:54


O que seria a festa de encerramento do ano letivo na Escola Municipal Jardim Felicidade se transformou em tragédia e deixou a comunidade local arrasada, quando duas das alunas não conseguiram chegar à unidade de ensino da Região Norte de Belo Horizonte no início da manhã de ontem. Durante temporal no inicio da manhã, as irmãs Luma Carolina de Oliveira, de 10 anos, e Bianca Cristina de Oliveira, de 11, foram arrastadas com duas colegas por uma enxurrada que desceu com violência a Rua Expedicionário Jesus Ramos, no Bairro Jardim Felicidade. As irmãs ficaram presas debaixo de um carro e Bianca morreu depois de inúmeras tentativas dos médicos do Hospital Risoleta Tolentino Neves de salvá-la. Ela é a quinta vítima oficial do período chuvoso em Minas Gerais. Após o acidente, ainda em estado de choque, parentes contaram que o problema no local é histórico e objeto de inúmeras cobranças junto à prefeitura, que nunca resultaram em solução.


De acordo com a mãe do padastro das meninas, a auxiliar de serviços gerais Selma Pereira da Costa Souza, de 51 anos, a enxurrada assusta e preocupa há pelo menos 29 anos, tempo em que ela vive no bairro. “Quando chovia eu ligava do trabalho para recomendar a meus filhos que não atravessassem a rua, por causa da força da água. Já salvei muitas crianças lá, que quase foram levadas direto para o córrego, logo abaixo (Tamburiu)”, conta. Ela disse que depois de tantos pedidos de obras no local, a direção da escola informou que vai marcar uma reunião com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) para discutir uma rede de drenagem. E protesta: “Triste demais ter que acontecer uma tragédia dessas para que alguma providência seja tomada”. Selma contou que Bianca e Luma, a quem chama carinhosamente de netas, se mudaram recentemente para o bairro, em junho, e que não tinham conhecimento do perigo no local.

Em estado de choque, a mãe das meninas, Daniela Batista, acompanhou toda a movimentação dos profissionais de saúde no hospital e autorizou a doação das córneas de Bianca, cujo corpo deve ser enterrado ainda hoje. “Ela está arrasada. Não consegue nem conversar. Além de perder uma filha, a outra está em estado gravíssimo. Estamos todos arrasados”, contou Selma.

A técnica em enfermagem Rosilene Martins, que prestou primeiros socorros às meninas: torcida por recuperação(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
A técnica em enfermagem Rosilene Martins, que prestou primeiros socorros às meninas: torcida por recuperação (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

RESGATE A tragédia poderia ter sido maior, não fosse a bravura de moradores do Jardim Felicidade e de policiais militares que patrulhavam a região. Das quatro garotas arrastadas pela água, duas delas foram salvas por vizinhos, entre eles o vigia desempregado Sinval Ribeiro, de 62. “Nós vimos duas meninas primeiro caindo. Um rapaz as segurou pelo braço. Mas nós não vimos as outras duas debaixo do carro. Na hora em que vimos, foi um desespero total tentando salvá-las”, explica.

Luma e Bianca ficaram debaixo da água, que chegou quase a encobrir o veículo estacionado no fim da rua, segundo o aposentado Jonas Dias, de 48. O filho de Jonas, Leandro Dias, de 22, gravou vídeo que mostra a força da água descendo a rua da escola, onde Jonas disse que ocorreria uma festinha para encerrar o ano letivo e marcar o início das férias. “Eu estava deitado em casa e ouvi a gritaria na rua. Quando cheguei na porta, vi as duas desacordadas, uma deitada no passeio e outra, na rua”, conta Leandro. “Uma enfermeira que mora aqui na rua de cima fez quase que um milagre, ela ajudou demais fazendo massagem cardíaca nas duas”, diz Jonas.

Ele se referia à técnica em enfermagem Rosilene Martins, de 42, que foi até o local com o marido. Enquanto alguns faziam força para levantar o carro, ele retirou as duas meninas e Rosilene iniciou as massagens das duas. “A mais nova colocou muita água para fora, mas ficou sem pulso. A mais velha não expeliu água e aí a médica do Samu pediu que eu parasse a massagem que a ambulância estava chegando. Nessa hora apareceu uma viatura da PM para socorrer as duas e ficamos todos torcendo daqui”, afirma.

No hospital, as irmãs deram entrada em estado grave, sendo que Bianca estava pior. Policiais militares e bombeiros que também chegaram para acompanhar os desdobramentos vibraram e se emocionaram quando veio a notícia de que os médicos conseguiram reverter o quadro de parada cardiorrespiratória de ambas, mas logo depois a situação de Bianca piorou novamente. “A gente pensa nos nossos filhos. É isso que vem à nossa cabeça”, disse o sargento Helbert Alcântara, do Corpo de Bombeiros.

O subtenente da PM Gilenio Ferreira disse que a população local só percebeu que outras duas crianças tinham sido arrastadas depois que o volume de água diminuiu e eles conseguiram ver as duas sob o carro. “Elas foram atingidas quase em frente à escola e nós trouxemos o mais rápido que conseguimos. A população ajudou demais, pois a 30 metros do ponto em que elas pararam tem um córrego. Se tivessem caído lá, certamente não seriam encontradas facilmente”, afirmou.
Na porta do hospital, policiais e socorristas se emocionaram com batalha pela vida travada pelas irmãs(foto: Jair Amaral/EM/DA Press)
Na porta do hospital, policiais e socorristas se emocionaram com batalha pela vida travada pelas irmãs (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)

Na escola, funcionários fecharam as portas e colocaram um aviso com a informação que foi divulgada no início da manhã de que o quadro de ambas era estável, apesar de muito grave. O bilhete pedia a oração de todos para que elas saíssem bem daquele acidente.

Por meio de nota, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), informou que a Rua Expedicionário Jesus Ramos fica na Bacia Hidrográfica do Córrego Fazenda Velha e que os projetos executivos de saneamento integrado do local já foram concluídos, com soluções para as questões de macro e microdrenagem. Mas ainda não há recursos para a execução das obras, que exigem R$ 90 milhões.

 


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