
Nos últimos 10 anos, esse é o quarto caso confirmado de febre maculosa em residentes de Belo Horizonte. Em dois casos, os pacientes não resistiram. O episódio mais recente ocorreu em 2013, quando a vítima faleceu depois de ter sido contaminada em área próxima ao marco zero da orla da Lagoa da Pampulha. Desde 2014, a SMSA realiza o trabalho de vigilância acarológica para verificação da presença de carrapato-estrela. A análise é feita três vezes ao ano, seguindo o ciclo de reprodução do parasita (abril, agosto/setembro e novembro/dezembro). Em abril, dos 10 pontos analisados, quatro tinham carrapato-estrela, sendo que dois ficam dentro da área de preservação ambiental do parque, onde a visitação é vetada.
Em meio ao clima de alerta, ontem foi aplicado carrapaticida em toda a área de visitação do parque, onde as capivaras não têm acesso, ficando restritas ao entorno. Os animais, assim como cavalos, cães, gatos, pássaros, bovinos e outros são hospedeiros do parasita. Ontem, a equipe do Estado de Minas esteve no local e confirmou o início da adoção das providências. De acordo com o coordenador da Gerência de Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde (SMSa), Eduardo Viana, a incidência de raios solares sobre focos de carrapatos contribui para reduzir essa população, bem como a presença de umidade no ambiente, o que justifica as ações de capina e irrigação.
VIGILÂNCIA O próximo exame para a identificação de carrapatos no parque já estava marcado para o início deste mês, mas, com a confirmação da morte causada pela febre maculosa, a Gerência de Zoonoses da prefeitura tenta identificar os locais do parque explorados pela criança – que fazia parte de um grupo de escoteiros. “Vamos aproveitar a rotina da vigilância e as informações do chefe dos escoteiros para aprimorar o trabalho. Também vamos ampliar o número de locais analisados, que atualmente são 10”, afirmou Eduardo Viana. Além da orla da Pampulha, o teste, chamado de vigilância acarológica, é feito também três vezes por ano em uma área próxima à Cidade Administrativa, no Bairro Serra Verde, onde também houve identificação de focos do parasita.
Outras áreas verdes da capital, como os parques Municipal e das Mangabeiras, recebem atenção, segundo a secretaria, mas não são consideradas alvo, por não haver registro do carrapato. “Por enquanto, não há indícios de preocupação em outros parques, porque o risco é baixíssimo, embora possa existir. Mas, fazemos ações educativas em toda a cidade e também recebemos demandas espontâneas”, disse Eduardo Viana.

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Ministério Público de Minas Gerais informou que 15ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, Patrimônio Histórico e Cultural acompanha a situação das capivaras na orla da Lagoa da Pampulha desde a morte registrada pela doença em 2013, e que está avaliando este último caso para definir que providências devem ser adotadas.
Palavra de especialista
Carlos Starling, vice-presidente da Sociedade Mineira de Infectologia
Fechar não é solução
No caso do parque ecológico da Pampulha, a solução não está no fechamento da unidade. Carrapatos existem em outros lugares e estão presentes em outros hospedeiros, não só nas capivaras. Estão disseminados por toda a Região Sudeste do país . Por isso, é preciso fazer o controle dessa população. Um trabalho que não pode ser intensificado apenas quando alguém morre, mas precisa ser contínuo. É claro que é um problema de complexidade ecológica enorme, difícil de ser resolvido. Não adianta remover capivaras da orla, porque outros hospedeiros circulam por lá. É preciso que sejam feitos estudos, pesquisas, mapeamento de animais, além de um amplo trabalho de conscientização da população.
