Sem precisar de pausa para respirar, Moisés Jorge, de 15 anos, explica como é a sensação de ser visto como alguém incompleto, por não ter o perfeito jogo das pernas. “Detesto essa cara de dó, essa mesma com que todos me olham, como se eu fosse um lixo humano”, diz. Quando se revela por inteiro, o garoto ganha um atestado de capacidade. “À medida que vou conversando, descobrem que jogo basquete em cadeira de rodas, estudo no segundo ano (do ensino médio) e sou um cara inteligente, conversado”, emenda Moisés Jorge. Ele ganha status de tranquilão, de apelido Moi (redução do nome dele) e planos de cursar educação física.
Portador de paralisia cerebral, Moi sempre gostou de praticar esportes, com ou sem o objetivo de reabilitação dos movimentos. Além de acompanhar os jogos pela TV, arriscava-se com o irmão nas peladas de rua, em Justinópolis. “Entrava nas partidas, mesmo tendo pouco equilíbrio. Não estava nem me importando com o resultado. Queria estar feliz jogando”, diz ele que, em outubro, fará a terceira cirurgia nos dois joelhos.
Mesmo não sendo cadeirante, Moisés Jorge treina basquete em cadeira de rodas com a turma do Sesc do Bairro da Gameleira, aos sábados. Segue de ônibus para o treino, levado pela mãe, a dona de casa Maria Aparecida da Silva Leite. “Tive sorte, pois meus dois filhos gostam de estudar. O mais velho vai para o lado da computação e o Moisés prefere esporte”, afirma.
Na modalidade, a exigência do uso da cadeira de rodas ajuda a igualar os níveis de limitação corporal, porque alguns alunos podem ter força no torso ou apenas nos braços e pescoço. Por meio de uma faixa, os atletas são fixados à estrutura, de rodas largas e adaptada a cada tipo de corpo. Na frente, uma barra de ferro protege as pernas do impacto dos choques. “Experimente jogar sentado. É muito mais difícil, pois exige força nos braços. No início, achava a bola superpesada”, diz o jovem, sorrindo.
Para Márcio Cançado, treinador da Associação Mineira de Reabilitação (AMR), que vai promover olimpíada interna no segundo semestre, a vantagem de ensinar basquete, handebol ou bocha na entidade é tirar o aluno do papel de coadjuvante e elevar a autoestima dele, a ponto de ocupar a função de protagonista. Ao conhecer as próprias habilidades motoras, o cadeirante poderá propor brincadeiras de bola e em equipe, em vez de ser isolado da roda de colegas da escola ou do bairro.
Ao contrário, o esporterapeuta defende que os para-atletas devem ter respeito maior do público, em dobro: “A luta deles começa ao sair de casa para treinar, trombando em passeios sofríveis, encarando ônibus com espaço adaptado a um cadeirante por vez. Para eles, tudo é mais moroso e cheio de barreiras”. Merecem aplausos, com direito a bis, por serem “meninos que queriam alcançar o sol” e “meninas que queriam ser livres como as sereias”, conforme ensinam os grafites de Rogério Fernandes, lindamente impressos nas paredes da AMR.
