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Estado de Minas

Morte de padre não extingue apuração de abusos sexuais contra crianças em Três Corações

Objetivo da polícia é apurar responsabilidades pelo retorno do padre Bonifácio Buzzi à atividade sacerdotal, mesmo estando em regime semiaberto por condenação por pedofilia. Padre foi citado no filme Spotlight - segredos revelados


postado em 08/08/2016 18:41 / atualizado em 08/08/2016 22:53

Os delegados Ana Paula Gontijo e Pedro Paulo Marques afirmaram, em entrevista coletiva, que as apurações dos crimes de abuso seguem, mesmo com morte do padre(foto: Polícia Civil/Três Corações/Divulgação)
Os delegados Ana Paula Gontijo e Pedro Paulo Marques afirmaram, em entrevista coletiva, que as apurações dos crimes de abuso seguem, mesmo com morte do padre (foto: Polícia Civil/Três Corações/Divulgação)
A morte do padre Bonifácio Buzzi, de 57 anos, não vai extinguir o inquérito que apura as denúncias dos abusos sexuais contra duas crianças de 9 e 13 anos, que teriam sido praticados por ele em maio deste ano, numa comunidade carente da zona rural de Três Corações, Sul de Minas.

Em entrevista coletiva na tarde desta segunda-feira, o delegado regional Pedro Paulo Marques, que prendeu o padre na sexta-feira, disse que o objetivo agora é apurar responsabilidades pelo retorno do padre às atividades religiosas na comunidade, mesmo estando ele em regime semiaberto, depois de condenado a quase 20 anos de prisão por crime de pedofilia.

Buzzi, que teve seu nome citado no filme norte-americano Spotlight – segredos revelados, vencedor do Oscar de melhor Filme de 2016, foi encontrado enforcado no fim de semana, com uma corda feita com lençol, na cela em que estava. A obra é um drama biográfico que revela como a Igreja Católica acobertou abusos sexuais de crianças e adolescentes praticados por seus sacerdotes.

No domingo, a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) informou que o acusado se enforcou com a corda artesanal, conhecida como “teresa” no meio carcerário. O corpo foi descoberto por volta das 7h, quando os agentes faziam a vistoria para dar início às visitas do domingo na unidade. O delegado Pedro Marques disse que Buzzi foi visto com vida pela última vez às 19h, por um detento que entrega as marmitas. Um inquérito foi aberto para investigar as circunstâncias da morte, apesar de o delegado considerar, com base nos levantamentos iniciais dos peritos, que é um caso de suicídio.

Segundo a Seds, Bonifácio Buzzi estava sozinho na cela, resguardado no espaço chamado de “seguro”, devido ao tipo de delito cometido, que costuma ser punido pelos próprios presos. Ele aguardava transferência para outra penitenciária. A secretaria acrescentou que ele não era vigiado durante a madrugada, pois não recebia tratamento especial em função da repercussão de seus crimes.

O padre Buzzi voltou a ser preso no fim da manhã da sexta-feira, em Barra Velha, em Santa Catarina, a 35 quilômetros de Joinville. O delegado Pedro Paulo Marques, contou que desde maio Buzzi vinha sendo investigado por abuso sexual das duas crianças na cidade do sul mineiro. Com apoio de policiais catarinenses, o acusado foi encontrado numa casa de praia de sua irmã, em Barra Velha.

Marques disse que o padre não esboçou reação ao ser informado de que seria preso, por ordem judicial. “O tempo todo ele se manteve frio. Afirmou inicialmente que não cometeu os crimes em Três Corações, para depois justificar que sofria surto psicótico, quadro em que não se lembrava do que fazia”, relatou o policial. Para o delegado, embora sempre de cabeça baixa, Bonifácio Buzzi não manifestou durante a viagen indícios de pertubação psíquica que sugerisse o ato extremo do suicídio. “No avião até tiramos as algemas. A viagem transcorreu de forma tranquila.” 

O inquérito sobre os abusos está a cargo da delegada Ana Paula Gontijo, de Três Corações. De acordo com as investigações, o padre, depois de ser colocado em liberdade do Manicômio Judiciário Jorge Vaz, em Barbacena, na Região Central, onde cumpria medida de segurança, seguiu para o Sul do estado, com carta de recomendação, e reiniciou o sacerdócio na Comunidade Evangelizadora Magnificat (CEM), que fica no km 88 da MG-167, entre Três Corações e Cambuquira. Embora não fizesse celebrações, era reconhecido como padre e frequentava casas de crianças.

Depois de conquistar a simpatia dos fiéis, maioria de pessoas humildes, sem informações sobre seu passado, Bonifácio Buzzi teria recomeçado sua prática de abusos sexuais. Dois meninos com idades de 9 e 13 anos, da comunidade, teriam sido os novos alvos dele, que em dias diferentes teria atraído as vítimas sob o pretexto de fazer uma pescaria. No local, ele teria usado o argumento de que havia carrapatos, para que as crianças tirassem suas roupas, para então praticar os abusos.

O delegado Pedro Marques garante que há elementos concretos da prática criminal, de tal forma que levou o juiz Tarcísio Moreira de Souza, da comarca de Três Corações, a expedir mandado de prisão preventiva. Buzzi chegou à comunidade em janeiro e fugiu do local no começo de junho, quando surgiram as denúncias de abusos contra as crianças. Foi então que a comunidade tomou conhecimento sobre o passado do sacerdorte.

Bonifácio Buzzi tinha duas condenações pelo mesmo crime: em 1995, ao ser flagrado abusando de dois meninos com 10 e 15 anos, em Santa Bárbara, Região Central, ficou quatro anos em prisão domiciliar; em 2001, manteve relação sexual com um menino de 9 anos, depois de celebrar missa em uma igreja do Distrito de Mainart, em Mariana, na mesma região. Pelo crime, foi condenado a quase 20 anos, mas foi colocado em liberdade depois de cumprir parte da pena.

Quatro cidades brasileiras na lista do Spotlight

Em 2015, o nome de Bonifácio Buzzi apareceu na lista internacional de sacerdotes da Igreja Católica que abusaram sexualmente de crianças e adolescentes exibida no fim do filme norte-americano Spotlight – segredos revelados, ganhador do Oscar de 2016, como melhor filme.

Spotlight, dirigido por Tom McCarthy e estrelado por Michael Keaton, Mark Ruffalo e Rachel McAdams, também eleito o melhor de 2015 pela National Society of Film Critics (Associação Nacional de Críticos de Filme dos Estados Unidos), narra a história de como a Spotlight, a editoria de repórteres especiais do jornal americano The Boston Globe, desvendou como a Igreja Católica acobertou crimes de pedofilia cometidos por quase uma centena de padres em Boston.

A reportagem rendeu ao periódico o Pulitzer, o mais importante prêmio de jornalismo do mundo. Ao fim do filme, enquanto o público se prepara para ir embora, surge a lista da vergonha. Quatro cidades brasileiras figuram nela: Rio de Janeiro, Franca (SP), Arapiraca (AL) e Mariana.

 

(RG)


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