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Estado de Minas

Polícia Civil investiga caso de abuso de autoridade e racismo no Sul de Minas

O inquérito foi instaurado para apurar denúncias de tortura e abuso de autoridade de policiais militares contra dois estudantes. Jovens dizem que foram agredidos durante três horas e chamados de macacos pelos militares


postado em 10/07/2016 16:08 / atualizado em 10/07/2016 16:25

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar denúncias de tortura e abuso de autoridade de policiais militares contra dois estudantes de Passos, no Sul de Minas. Ela apura ainda a configuração de crime de injúria racial. O caso ocorreu na semana passada. Os jovens dizem que foram agredidos durante três horas e chamados de “macacos” pelos militares. Os oficiais, por sua vez, alegaram terem sido ameaçados.

Vizinhos incomodados com o barulho de uma festa de uma República que ocorria numa casa no Bairro Nossa Senhora das Graças chamaram a Polícia Militar para atender ocorrência de perturbação de sossego. Os militares dizem que foram recebidos com vaias e uma garrafa teria sido atirada em uma das viaturas.

“Saí com meu primo e um amigo e encontramos outro colega, que nos falou dessa festa. Estava bem cheio e havia muita gente na rua, pois como não tinha nada na cidade, parece que todo mundo foi para lá”, conta o estudante Reginaldo Santana Júnior, de 19 anos. Ele conta que, quando a polícia chegou, ligou para o pai, militar reformado, para buscá-los. O pai chegou a conversar com os colegas de farda e, ao se assegurar que não haveria problemas, os jovens decidiram ficar mais alguns minutos. “Estávamos indo embora quando arremessaram uma garrafa na viatura e, aí, decidimos ir embora, porque vimos que daria rolo. A mairia das pessoas foi para um caminho e somente nós três descemos a rua do lado”, diz.

Segundo o jovem, eles estavam quase no fim da rua, quando a polícia se aproximou com o giroflex desligado e em alta velocidade. Quatro policiais desceram do carro, sendo uma mulher, com arma em punho e ordenaram que se encostassem, já começando a bater em cada um com cacetete. Eles dispensaram um dos rapazes, e deixaram apenas Reginaldo e o primo dele, Pedro Paulo Júnior, de 21, estudante do curso de história. “Eles disseram ao meu amigo, que é branco: 'Vaza, sem olhar pra trás. Vamos deixar os dois macacos'”, relata. A partir de então, começaram osn primos começaram a apanhar ainda mais intensamente e, ao serem questionados sobre o motivo da agressão, um dos militares respondeu que eles haviam jogado a garrafa e que bateriam neles “até virarem homens”.

(foto: Arquivo pessoal)
(foto: Arquivo pessoal)
Pedro começou a desfalecer. “Falei que era filho de policial, meu irmão é agente penitenciário e que eu havia estudado no Colégio Tiradentes. Quando tentei ligar para meus pais, meu celular foi arremessado para dentro de uma casa. O dono saiu, com medo de a polícia nos matar. Com a lanterna no olho do homem, um policial disse que éramos ladrões e que acabávamos de cometer um roubo”, diz. Na tentativa de se libertar, Reginaldo virou bruscamente e acertou o braço de raspão no rosto de um militar. “Falaram que iam me matar. Não pensei em mais nada. Saí correndo e, ao me pegarem, me bateram até eu cair no chão e me algemaram”, afirma.

Os dois primos foram colocados dentro do camburão, onde ficaram fechados depois de jogarem spray de pimenta sobre eles. “Meu primo começou a passar muito mal, porque ele sofre de problemas respiratórios, aí o tiraram e, neste momento, minha mãe chegou”, conta Reginaldo. “Fico indignado, porque apanhamos sem ter feito nada. Os militares o conduziram Reginaldo até a unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Passos.

O adolescente afirma que os policiais impediram o médico de examiná-lo e que o profissional aceitou escrever apenas o que os militares recomendasram: que ele tinhalesões leves e que não aceitou ser submetido a uma abordagem policial. “Só pediram meus documentos quando eu estava na companhia da polícia. Em nenhum momento fizeram abordagem, chegaram e já começaram a bater”, sustenta.

O médico de plantão teria confirmado a versão apresentada em seu laudo horas depois na delegacia, o que fez com que o delegado responsável pelo caso, Felipe Capute, desconfiasse, já que ele mesmo percebeu que o rapaz estava machucado.Na delegacia, o jovem chegou a ser preso numa cela e o exame de corpo de delito foi pedido depois de seu depoimento. Para sair, o pai teve de pagar fiança. A família o levou ao pronto-socorro novamente, onde foi atendido por outro médico, que constatou as lesões. O pai de Reinaldo denunciou os militares no Batalhão. De acordo com os jovens, apenas a mulher não cometeu as agressões. Os outros três oficiais já teriam histórico de processos por agressão.

O Estado de Minas tentou contato com o delegado, mas não obteve sucesso. Em entrevista à EPTV, ele disse que, se constatado o crime, a pena pode chegar a 8 anos e tem acréscimo de um terço por ter sido praticado por funcionário público. Os militares continuam trabalhando e uma investigação interna vai ser aberta pela PM, que poderá suspendê-los, se comprovado o abuso.

Ontem, o Estado de Minas não conseguiu contato com a Secretaria de Saúde para comentar a consuta do médico de plantão. À reportagem da TV, informou que ainda não havia sido informada sobre o caso e, se comprovada irregularidade no atendimento, haverá apuração. e boletim de ocorrência. Já o o major Célio César informou que no boletim de ocorrência, os militares afirmam que teriam sido agredios verbalmente por alguns adolescentes e um deles teria jogado uma garrafa contra a viatura. Diante da agressão sofrida, teriam dado voz de prisão aos jovens, que teriam revidado de forma ofensiva. Os militares continuam trabalhando e uma investigação interna vai ser aberta pela PM, que poderá suspendê-los, se comprovado o abuso.

A reportagem também tentou contato com a Secretaria de Saúde para comentar a consuta do médico de plantão. Ela informou à rede de televisão que ainda não havia sido informada sobre o caso e, se comprovada irregularidade no atendimento, haverá apuração.

“É um absurdo muito grande e a ficha não cai. Meu primo passou a semana toda aqui em casa, com medo. Nunca imaginei que um dia sairia na rua e voltaria sendo agredido por policial. Muito pelo contrário, quando descemos aquela rua, estávamos com medo de sermos assaltados”, afirma Reginaldo.


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